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O futuro dos feeds

Feed

Nos primórdios das redes sociais, o chamado "feed da página inicial" ou "timeline" apresentava os conteúdos simplesmente em ordem cronológica. Você adicionava amigos, seguia pessoas ou páginas ou grupos, etc, e no seu feed aparecia tudo o que estes perfis postavam em tempo real. Não à toa o feed também era chamado de timeline, linha do tempo.

Então vieram os algoritmos com a proposta de organizar o conteúdo supostamente de uma maneira mais adequada ao gosto de cada pessoa. É uma proposta grandiosa e atraente. A princípio parece uma ótima ideia você ter uma espertíssima inteligência artificial que conhece seus gostos como ninguém, que acompanha tudo que você curte e aprende o que você quer ver, de modo que ela filtra e organiza os conteúdos do jeitinho que melhor te agrade. 

Maaas... isso é na teoria. Na prática estes algoritmos estão muito longe de criar um feed que realmente seja aquilo que cada pessoa espera. Primeiro porque estes tais "feeds personalizados" parecem se basear principalmente em assuntos, mas esquecem que muita gente gosta de acompanhar pessoas ou canais específicos, independente do assunto. Ora, um fã de um determinado vlogueiro quer ser informado dos videos novos do vlogueiro assim que são lançados. O fã gosta de ver a pessoa, qualquer que seja o assunto que esta pessoa esteja falando. Quando muito o assunto cria um interesse secundário.

Até mesmo quando se trata de notícias, é comum haver um interesse pela fonte. Por exemplo, tem pessoas que não confiam na Globo e não querem ver as notícias veiculadas nos jornais desta empresa; tem outras que têm uma revista preferida ou um jornalista em quem confiam ou até mesmo uma editora ou canal que demonstre uma inclinação política com a qual determinado público se identifica. Se o tal algoritmo simplesmente faz a filtragem por assunto e joga uma notícia da Globo na timeline de alguém que odeia a Globo, então o algoritmo não fez seu trabalho direito.

De toda forma eu acho que feed personalizado é um caminho sem volta e é só uma questão de tempo para que estes algoritmos realmente amadureçam e se tornem mais espertos. Então vão saber calcular bem essa mistura de assunto e fonte, de conteúdo e criadores de conteúdo. E na verdade creio que já existem alguns exemplos de bom funcionamento desse feed personalizado, algo que parece mais fácil em redes sociais em que o conteúdo é mais importante do que quem posta o conteúdo. O grande exemplo disso é o Pinterest.

No Pinterest você pode seguir pessoas, celebridades, amigos, etc, mas a verdade é que você está ali por causa das figurinhas e figurinhas de coisas que você gosta. As pessoas usam o Pinterest pra ver em seu feed imagens de animes, moda, cosplay, erotismo, humor, filmes, design, decoração, animais, coisas fofas, coisas dark, fotos de celebridades, enfim... É o conteúdo que importa e muitas vezes nós pinamos e repinamos coisas sem nem prestar atenção em que foi que postou a imagem. 

O site já entende isso tão bem que existe a possibilidade de seguirmos temas. Pois é, você pode pesquisar determinado assunto (como moda, arte, animais, etc.) e se inscrever nele, assim o seu feed vai ser atualizado com postagens deste assunto. Desta forma, sempre tem algo interessante pra se ver na página inicial porque o algoritmo do Pinterest procura imagens relacionadas aos seus interesses. A coisa funciona.

O Youtube também possui o recurso de inscrição em tópicos, ou seja, ao se inscrever em determinados assuntos, você receberá atualizações de fontes diversas e mesmo de canais em que você não é inscrito, mas que postaram algo referente ao tópico que você acompanha.

Aliás, a personalização de conteúdo com base nos gostos do usuário é algo que existe desde os primórdios da internet, quando os cookies aprendiam seus hábitos de navegação a fim de personalizar os anúncios. Foi assim que a Google ficou rica e a Amazon desenvolveu uma maneira eficiente de recomendar livros de acordo com o gosto do leitor. O algoritmo funciona quando se trata de sugerir coisa para você comprar. Agora falta ele ficar mais refinado com relação a tudo o mais.

Não se pode descartar também a ideia de que algumas destas redes sociais estão simplesmente "mal intencionadas" na forma como organizam seu feed. Por exemplo, temos visto nos últimos anos que grandes redes sociais arrumam treta com certos indivíduos por motivos políticos. Então acontece que, como uma forma de boicote, elas escondem o conteúdo do cara que é persona non grata da rede social, mesmo que essa pessoa tenha seguidores que querem acompanhar o que ela publica.

Voltando ao Pinterest e Amazon, acho que estão de parabéns nesse quesito imparcialidade. Se você demonstra interesse por certo posicionamento político, seja direita, esquerda, seja contra ou a favor das drogas ou do armamento/desarmamento, estes sites vão aprender que você gosta disso e vão sugerir imagens e livros a respeito. Já o Twitter e Facebook têm sido alvo de muitas críticas justamente por fazer essa triagem de assuntos e discretamente censurar temas políticos, escondendo-os no feed ou não lhes dando destaque, mesmo que seja o assunto que o usuário quer acompanhar.

Talvez seja isso que as redes sociais precisam aprender. Já existem bons algoritmos que entendem os gostos do usuário. Falta aprender a respeitar esses gostos.

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