Em termos de consciência coletiva, ou melhor, de egrégora ou espírito de um tempo, o século XX foi uma espécie de coleção de diversos humores, um resumo de todas as variações de sentimentos da humanidade.
Aliás, o século XX foi o fechamento de um período que vem desde as origens da humanidade, pois a partir de agora, sim, do nosso século XXI, estamos iniciando outra era, a verdadeira Era Tecnológica. Não que não tenhamos sido tecnológicos anteriormente com a era atômica, a eletricidade, o vapor, a imprensa, o papiro, o fogo...
Acontece que desta vez estamos entrando pra valer nessa condição, pois chegamos no momento em que a informação cresce e crescerá exponencialmente, o prelúdio da Singularidade (bom, se tudo der certo, afinal estamos sempre a um passo, a um apertar de botões, para retornarmos à idade das cavernas).
Acontece que desta vez estamos entrando pra valer nessa condição, pois chegamos no momento em que a informação cresce e crescerá exponencialmente, o prelúdio da Singularidade (bom, se tudo der certo, afinal estamos sempre a um passo, a um apertar de botões, para retornarmos à idade das cavernas).
Mas voltando ao assunto, o que me chama atenção aqui é a variedade de sentimentos que a humanidade experimentou ao longo do século XX, como uma mente bipolar, transtornada, como um ator treinando suas múltiplas caras.
Na virada do século XIX, éramos sérios e cultos, com a serenidade e a pose de um cientista que acha que descobriu todo o mapa da realidade e então sonha com um futuro maravilhoso de conquistas tecnológicas. Foi ali, no comecinho do século XX, que sonhamos com a Era Tecnológica que só iria começar a engatinhar um século depois, no despertar da Inteligência Artificial.
Então veio a Primeira Guerra e os sentimentos de terror se abateram sobre a mente humana, todavia, foi uma experiência tão bárbara e traumática, que o resultado do pós-guerra foi um estado de hedonismo e escapismo. Eis os festivos anos 20, com todo o glamour, as danças alegres, os cabelos bem cortados e as maquiagens carregadas. O livro O Grande Gatsby retrata bem essa época. Festa. Tudo o que importava era a festa.
Após a festa veio a ressaca, a Grande Depressão, seguida pela fúria da Segunda Guerra. Após o extermínio que atingiu diversos povos e países, potencializado pelas novas e assustadoras tecnologias, despertou no espírito humano o desejo de reconstrução, de recomeço. Eis a geração dos baby boomers, famílias tendo muitos filhos, trabalhando duro. Tudo o que importava era isso, trabalhar, construir, reconstruir, repovoar.
Enquanto isso, se desenvolveu a Guerra Fria e o sentimento foi um tanto diferente do das guerras anteriores. Agora havia um medo discreto, um medo tácito. Temia-se o holocausto nuclear, e esse temor era o que impedia que as nações entrassem novamente numa grande guerra. Em vez disso, desenvolveu-se a guerra velada, a guerra de espiões, de tecnologia, de informação, a guerra econômica, e este tipo de guerra nunca mais teve fim e prossegue até hoje, mesmo que a maioria da população sequer se dê conta de que ela acontece.
Ao mesmo tempo em que o mundo se dividiu entre um polo comunista e um capitalista, também o capitalismo alcançou um ciclo de prosperidade, o que alimentou um novo otimismo liderado pelos Estados Unidos, por Hollywood e seus musicais e talentosos dançarinos, pelos programas espaciais e filmes de jornadas cósmicas que voltavam os olhos da humanidade para além do planeta, para um futuro grandioso de conquista interplanetária.
Esta geração foi logo confrontada por outra mais controversa, os hippies, com uma mistura de cinismo, estoicismo e hedonismo, depois os punks, externando a pura revolta, depois os românticos dos anos 80, e os melancólicos góticos e toda a gama de tipos, estilos e sentimentos dos anos 90, finalizando o século com esta salada psíquica e um resumo dentro do resumo. Os anos 90 resumiram o século XX como o século XX resumiu toda a história humana.
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