A desmaterialização do dinheiro

O dinheiro obviamente surgiu como um objeto material. Trocavam-se coisas. Algumas destas coisas se estabeleceram como objeto de troca, como foi o caso do sal, das pedras preciosas e metais, especialmente o ouro. Então surgiram as cédulas, o dinheiro de papel.

O papel se tornou a forma mais prática de se manipular o dinheiro, pelo menos até o surgimento da internet e da transação digital. Foi aí, por meio do cartão de crédito e da conta eletrônica, que o dinheiro transcendeu, deixou de ser um objeto físico e se tornou uma ideia, um puro número.

Esta desmaterialização do dinheiro é um caminho sem volta, afinal é mais prática e, com o perdão do trocadilho, econômica. Ora, o ouro precisa ser extraído e processado, a cédula de papel precisa ser fabricada e impressa, o dinheiro digital não precisa ser produzido, surge "do nada" e os gastos envolvidos são apenas na manutenção destes dados  e seu tráfego pela internet, etc.

Há uma íntima relação entre a evolução do dinheiro e da escrita. Os primeiros textos foram gravados em pedra, depois em papiro e pergaminho, depois em papel e por fim no meio virtual. É a tendência natural da desmaterialização e veremos isto seguir por caminhos ainda mais surreais no futuro.

Um exemplo que já podemos observar é o da criptomoeda, em que o dinheiro nasce por meio da mineração virtual. Boa parte do dinheiro digital dos bancos nasce no depósito de cédulas, logo, teve uma origem material. A criptomoeda não passa por esse processo, já começa totalmente no ambiente digital. É a pura virtualização do dinheiro.

Outro exemplo é o dinheiro dentro dos jogos de computador. Sim, dos video games. Você mata um monstro em algum RPG e ele dropa umas moedas de ouro que seu personagem pode guardar na bolsa e usar pra comprar armas, suprimentos, etc.

Esta moeda fictícia dos jogos só funciona ali naquele ambiente fictício, mas acontece que futuramente será cada vez mais comum uma parte de nossas vidas se passar dentro destes ambientes, ainda mais com a evolução a Realidade Virtual e da Realidade Aumentada.

Acredite, dentro dos jogos nós teremos posses, empregos, terras e contas bancárias. E este "dinheiro de mentirinha" vai valer de verdade. Um dinheiro tão imaterial que existe em outro mundo, um mundo imaginário e simulado que, todavia, estará profundamente ligado ao mundo real.