The Flash vem aí e este filme tem um papel emblemático no curso da DC no cinema. Ele será a transição entre o snyderverso (ou DCEU, para aqueles que insistem que snyderverso consiste apenas nos filmes diretamente dirigidos pelo Snyder) e no gunnverso, o novo DCU.
As pessoas que já tiveram acesso exclusivo ao longa estão cheias de elogios, dizem que tem muito fan service, fan service do bom, e que de fato a transição entre os universos convence. Mesmo quem ainda não viu pode notar mais um detalhe com base nos trailers: o Batman do Michael Keaton vai roubar a cena.
É um recurso narrativo comum em filmes colocar um personagem que espelha o próprio público. Ou seja, as reações dele ao que está acontecendo são bem semelhantes às nossas enquanto assistimos ao filme, de modo que este personagem nos transporta para dentro daquele mundo, contribuindo para a imersão. Ele é uma espécie de "espectador interno".
Na franquia Matrix, por exemplo, temos o personagem Link. Ele fica boa parte do tempo diante de telas de computador, assistindo a ação dos seus colegas dentro do mundo virtual. Enquanto observa o que está acontecendo na Matrix, ele vai fazendo um "react", fica intrigado com eventos estranhos, ansioso com um momento de suspense e a cena que melhor exemplifica seu papel como espelho do público é quando Neo aparece voando, literalmente como um Deus ex machina, e salva Morfeu e o Chaveiro de uma explosão. Neste momento o Link, que via a cena em seu computador, comemora eufórico, espelhando a reação do próprio público no cinema.
No caso de The Flash, os trailers mostram uma cena em que o Bat-Keaton vai saltar do jato e recomenda que os dois Flashes usem paraquedas. Um deles, admirado, pergunta ao Batman onde está o paraquedas dele, mas o Morcego simplesmente salta livremente porque, convenhamos, o Batman não precisa de paraquedas. Vendo esta performance badass, o Flash grita eufórico como que pensando: "Esse cara é tão cool!"
Esta breve cena mostra que o Batman será o objeto de admiração do espectador interno, no caso uma das versões do Flash. Inclusive em outras cenas este Flash também fica tietando a Supergirl, o Batmóvel e o próprio Flash.
Assim teremos um Flash protagonista e outro mais voltado ao alívio cômico e a representar o espectador. Não há dúvidas, porém, que a presença mais marcante será a do Batman, mais especificamente, o Batman do Michael Keaton. Seu retorno ao papel também é emblemático, é o fechamento de um ciclo de décadas de produção cinematográfica da DC e também o fechamento de um ciclo da própria carreira do Michael Keaton¹.
Depois do Superman do Christopher Reeve, foi o Batman do Michael Keaton que mostrou o potencial das adaptações de quadrinhos no cinema, pavimentando o caminho para uma gigantesca indústria. Tudo o que veio depois, os X-Men, o Homem Aranha e o MCU, veio trilhando este caminho inaugurado lá no final da década de 80.
The Flash, portanto, fará uma grande homenagem a toda esta longa história cinematográfica, trazendo o passado de volta ao mesmo tempo em que abre a porta para o próximo projeto de dez anos.
O Flash carrega em sua essência esta habilidade de completar ciclos. A supervelocidade o faz correr em círculos. Ele é um arquétipo de Mercúrio, o deus mensageiro, que cria uma comunicação entre os mundos celestial e terreno. Ele viaja no tempo, ligando passado e futuro. Nada mais apropriado, portanto, do que ele ser o personagem que realizará esta transição de universos da DC no cinema, como já fez também nos quadrinhos.
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