Infelizmente não posso dizer que tenho uma memória afetiva envolvendo Star Trek. O que assisti da franquia na infância e adolescência foi algo tão vago que mal me recordo. Lembro vagamente de ter assistido o filme de 1979, quando eles encontraram a sonda Voyager VI. E também devo ter visto episódios aqui e ali da série clássica e da Next Generation.
Só fui realmente mergulhar neste universo há alguns anos, na era do streaming, quando pude devorar tanto a série clássica quanto a Next Generation, bem como os filmes. Desde então venho escrevendo posts neste blog sobre Star Trek.
Quando comecei a assistir Star Trek: Picard, em 2020, confesso que não fiquei muito animado com a série¹. Havia algo faltando. O próprio Picard parecia deslocado demais naquele mundo. Era como se estivessem tentando fazer ele passar o bastão para uma nova geração, novos personagens, mas o que Picard precisava era de uma homenagem, não uma despedida.
Aos poucos esta homenagem foi sendo preparada. Logo no começo chegou a Seven of Nine, inesquecível personagem de Star Trek: Voyager, depois vieram Will Riker, Deanna Troi, a doutora Beverly Chusher, o klingon Worf, Raffi Musiker, Geordi e até o Data. Temos também o retorno do poderoso Q e da Rainha Borg
Em parte a mudança ao longo das temporadas pode ter relação com a equipe de direção. A série começou com Hanelle M. Culpepper, uma diretora com uma carreira indie e que até então pouca experiência tinha com sci-fi, então no episódio 4 assume o Jonathan Frakes, o próprio Will Riker. Nada melhor para fazer o devido fan service do que alguém que viveu a história de Star Trek por anos e anos.
Como é comum acontecer em séries, diretores convidados apareceram para cuidar de episódios aqui e ali, revezando com Frakes, como Maja Vrvilo, Douglas Aarniokoski, Akiva Goldsman (que também esteve envolvido em Star Trek: Discovery e Star Trek: Strange New Worlds), Lea Thompson, Joe Menendez, Michael Weaver e Dan Liu.
Os episódios 9 e 10 da terceira temporada ficaram nas mãos de Terry Matalas, diretor pouco conhecido, mas com experiência em sci-fi e que começou a carreira lá nos anos 2000 em Star Trek: Voyager e Star Trek: Enterprise. Entre 2015 e 2018 ele foi o showrunner da série sci-fi 12 Monkeys.
Neste final da terceira temporada a série parece que finalmente encontrou seu caminho: fazer a devida homenagem ao rico passado da franquia. Diante de uma ameaça borg, Picard e a velha guarda se reúnem e, como a moderna frota estelar está comprometida, hackeada pela influência borg, procuram uma nave antiga, que vinha sendo lentamente restaurada por Geordi apenas por seu valor afetivo: a Enterprise-D (NCC-1701-D), que foi usada por Picard durante anos em The Next Generation.
E aqui temos o puro creme do fan service, com a velha guarda reunida no hangar da Enterprise-D, pronta para mais uma grande aventura. Deanna Troi até brinca ao dizer: "I’ve never been so happy to see so many wrinkles" ("Nunca estive tão feliz em ver tantas rugas").
Picard é sobre isso, uma homenagem à terceira idade da franquia. Atualmente, deve ser a série com mais idosos por metro quadrado e isto é ótimo.
Notas:
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