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Uma alternativa otimista à teoria da Floresta Sombria

Star Trek Prime Directive

A assustadora teoria da Floresta Sombria pode ser resumida no seguinte silogismo:

- A quantidade de recursos do universo é limitada
- Para sobreviver e se expandir, as civilizações precisam disputar estes recursos
- Logo, as civilizações avançadas devem destruir suas concorrentes para reduzir a disputa pelos recursos

Esta é uma visão antropocêntrica da "sociologia cósmica", pois tentamos comparar as civilizações alienígenas aos colonizadores humanos que, devido à disputa por território e recursos, entram em conflito com os nativos de uma região invadida.

O fato é que nossa mesquinha disputa por recursos só acontece devido às limitações tecnológicas. Vejamos o caso dos minérios. Antigos mitos, interpretados sob a ótica da teoria dos "deuses astronautas", dão a entender que no passado aliens vieram à Terra em busca de ouro, por ser um material necessário para a produção de equipamentos. O problema é que uma civilização capaz de viajar pelas estrelas muito provavelmente não é mais limitada à necessidade de coletar minérios.

Uma civilização como a nossa depende radicalmente da extração de minérios, de escavar as rochas em busca de ouro, prata, ferro, alumínio, etc. À medida em que entrarmos de vez na era espacial, seremos capazes de também ir buscar minérios nos inúmeros asteroides ou mesmo em outros planetas do sistema solar. 

Para a nossa capacidade tecnológica, é totalmente inviável enviarmos sondas para outras estrelas com o único propósito de coletar minérios de planetas alienígenas. O custo envolvido e o tempo que levaria para simplesmente ir até a estrela mais próxima, a 4 anos-luz daqui, já tornaria a tarefa de mineração interestelar insustentável. Além disso, somos capazes de reciclar os minérios, o que é muito mais prático e barato do que tentar esta aventura de mineração além do sistema solar.

Agora imagine que a civilização avance de tal maneira que domine a tecnologia da viagem interestelar, quem sabe até mesmo usando a dobra espacial, que permitiria viajar vários anos-luz em poucos dias. Ora, uma civilização que alcançou tal maravilha deve ter um conhecimento e domínio das mais profundas leis da física, de modo que também não terá dificuldade em desenvolver outra tecnologia: a manipulação da matéria.

Civilizações capazes de viajar pelas estrelas também devem ser capazes de confeccionar qualquer material que tenham necessidade. Não precisam mais cavar rochas em busca de ouro bruto. Podem usar qualquer substância, podem coletar o plasma de sua estrela local e transformar em elementos mais pesados. Podem fazer uma verdadeira alquimia, literalmente produzindo ouro, caso desejem. 

Recursos não são um problema para quem domina a manipulação da matéria, de modo que este tipo de civilização não vai ter necessidade de viajar para outro sistema solar apenas com o fim de roubar o ouro ou a água de algum planeta. Povos que manipulam a matéria podem terraformar planetas vazios, transformando-os no paraíso ideal para eles. Não precisam cobiçar mundos ocupados e, de fato, devem ter um senso de respeito e preservação pela vida no universo, pois já transcenderam a mesquinharia da disputa por recursos naturais.

Então temos este impasse: civilizações que precisam disputar recursos naturais não são tecnologicamente avançadas o suficiente para conseguir invadir planetas distantes, enquanto as civilizações que já dominam a viagem interestelar não precisam mais disputar recursos naturais e muito provavelmente vão deixar os mundos habitados em paz.

Raciocinando desta forma, podemos concluir que a solução do Paradoxo de Fermi é justamente o oposto da Floresta Sombria, é uma "Floresta Intocada", em que os povos mais avançados procuram viver discretamente sem interferir no curso daqueles mais primitivos, como exploradores que observam de longe uma tribo pré-histórica, evitando contato, deixando que evoluam em seu curso natural. Este conceito é bem ilustrado na Primeira Diretriz de Star Trek.

Logo, o silêncio dos alienígenas na nossa galáxia não deve ser por causa de um sentimento de medo na floresta sombria, mas de respeito ou indiferença. É possível até que os povos mais avançados estabeleçam contato entre si, tenham uma relação diplomática (vai que até criaram uma Federação), mas tentam não chamar a nossa atenção para não interferir em nossa infância civilizacional.

Esta é, portanto, uma das possíveis soluções do Paradoxo de Fermi: não vemos os aliens porque eles não querem que os vejamos. Ao menos, não ainda.

Notas:


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