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Sobre fanatismos

Os religiosos mais fanáticos costumam ser os recém-convertidos. O velho religioso, que já está nesta jornada há anos, já alcançou um certo estágio de tédio, de mesmice, ou, olhando por um aspecto positivo, o devoto se tornou mais maduro e realista, sabendo conciliar sua fé e a vivência no mundo. Ele já fez o ajuste fino da sua fé e alcançou a serenidade.

O novato tem um sentimento de revolução, de certa superioridade arrogante em relação aos infiéis e até mesmo aos outros fiéis mais experientes que não mostram o mesmo fervor. Encantado por ter descoberto a verdade, fecha a mente para qualquer questionamento. Enxerga erros em tudo e todos, negligenciando a autocrítica. Um pequeno fariseu.

Obviamente também existe fanatismo nos fiéis mais vividos, que acumularam anos de crença. Em alguns casos, trata-se de pessoas mentalmente fossilizadas, que permanecem as mesmas por anos e anos, sem jamais aprender algo novo. 

Em outros casos, são pessoas que obtêm vantagens de seu status religioso, pois ocupam funções de liderança, são seguidos e venerados por outros fiéis, exercem influência, poder, são recompensados de diversas maneiras. Estes provavelmente não têm mais a visão ingênua e utópica dos recém-convertidos. Talvez até cultivem no íntimo um desencanto com a crença, mas externam o fanatismo pelas vantagens que ele proporciona.

Isto não acontece apenas em religiões, mas também em outros sistemas parecidos, como a política e a ideologia. Podemos trocar o jovem fiel pelo jovem militante político. Ambos assemelham-se no fervor, na crença firme em seus dogmas e na agressividade com que atua em sua cruzada para salvar o mundo, converter novos adeptos e julgar hereges.

É certo que há beleza e bondade na religião, mesmo na política e na ideologia. Crença e fanatismo não são sinônimos. O fanatismo é a perversão da crença. Há aqueles que creem de uma forma inofensiva e benevolente. Entre estes misturam-se os fanáticos, como o joio brotando na plantação de trigo.

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