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Noah e Exodus: Gods and Kings, uma duologia bíblica

Noah (2014)

Exodus: Gods and Kings (2014)

Em 2014, coincidentemente, Hollywood lançou dois filmes bíblicos, seguindo a mesma ordem dos dois primeiros livros, Gênese e Êxodo. O Gênese, ou melhor, uma de suas primeiras histórias que é o Dilúvio, foi adaptado no filme Noah, pela Paramount, com direção de Darren Aronofsky. No final do ano veio Exodus: Gods and Kings, pela Fox, dirigido por Ridley Scott.

Os dois filmes se assemelham não apenas no fato de serem histórias bíblicas, mas também por envolverem protagonistas que são líderes e recebem orientações do próprio Deus para cumprir uma tarefa: a de Noé é salvar sua família e os animais do dilúvio, a de Moisés é salvar os hebreus do Egito. E também no Êxodo há um dilúvio, em menor proporção, quando atravessam o Mar Vermelho.

Enfim, outra grande semelhança entre ambos está na abordagem heterodoxa, na releitura do tema sagrado. Os filmes não seguem a narrativa bíblica ao pé da letra, alteram detalhes e principalmente tornam o relacionamento dos dois profetas e seu deus algo mais humano e conflituoso.

Esta abordagem mais livre da Bíblia não provocou, porém, uma reação negativa do público judaico-cristão em geral (a não ser dos mais ortodoxos). Por outro lado, em alguns países islâmicos como o Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes, houve censura devido às diferenças entre os filmes e a Bíblia e também porque o islamismo proíbe qualquer tipo de representação visual dos profetas. No Egito, o Exodus foi criticado por dar a entender que os hebreus construíram as pirâmides e não os próprios egípcios.

A despeito de serem inspirados em histórias bíblicas, Noah e Exodus não têm intenção de propaganda religiosa. Ridley Scott é declaradamente agnóstico e simplesmente considerou o êxodo como uma boa história a ser contada. O mesmo vale para Aronofsky, que já afirmou não ser uma pessoa religiosa (apesar de seus filmes estarem sempre carregados de simbologia mística).

Estas releituras "não religiosas" da Bíblia, portanto, têm uma grande importância no sentido de mostrar que os antigos mitos e personagens bíblicos não precisam ser propriedade exclusiva da religião judaico-cristã. Eles pertencem à cultura mundial e podem ser apreciados independente de preferências religiosas. 

Noah (2014)

Produção:

Apesar de ter um orçamento um pouco menor (Noah: $ 125 milhões; Exodus: $ 140 milhões), Noah possui uma abundância de efeitos especiais e também um maior elenco de estrelas hollywoodianas como Russell Crowe, Emma Watson, Logan Lerman, Jennifer Connelly e Anthony Hopkins. Exodus só conta com a presença de Christian Bale e a curiosa participação de Aaron Paul (o eterno Jesse Pinkman de Breaking Bad) como Josué. Além disso, Noah possui uma grandiosa trilha sonora por Clint Mansell, que sempre compõe as trilhas dos filmes do Aronofsky.

A abordagem de Noah é realmente mais épica, afinal envolve um tema grandioso de catástrofe global. Aronofsky recria a mitologia e redesenha criaturas sobre-humanas como os anjos caídos, chamados nefilins, que adquirem no filme uma semelhança com os monstros de pedra da mitologia hebraica, os golems. Todos os animais foram feitos com animação digital, uma vez que a intenção era criar espécies do mundo pré-diluviano, ligeiramente diferentes dos animais de hoje.

Em Exodus, as famosas pragas do Egito ganham um aspecto racional e perfeitamente explicáveis como fenômenos naturais. Tudo começa numa invasão de crocodilos que, superpovoando o rio, reviram a areia do fundo, deixando o rio avermelhado como sangue (primeira praga).

Isso provoca a fuga das rãs que, saindo da água, invadem a cidade (segunda praga). [A terceira praga bíblica, de piolhos, não acontece no filme]. Em terra seca, as rãs acabam morrendo e apodrecendo, provocando uma infestação de moscas (quarta praga). Naturalmente as moscas e as rãs decompostas trouxeram doenças, matando os animais (quinta praga) e provocando úlceras nas pessoas (sexta praga). Então acontece uma crise climática, primeiro com fortes tempestades (sétima praga) e seca que desencadeia uma invasão de gafanhotos que devastam as plantações (oitava praga).

A intervenção divina se torna mais clara na penúltima praga, com o céu se tornando escuro por vários dias e a escuridão se dissipa assim que Moisés conversa com seu Deus. Uma grande mudança em relação à Bíblia é que pela primeira vez Moisés é representado sem seu cajado. Em vez disso ele possui uma espada que ganhou do faraó.

Exodus: Gods and Kings (2014)

Curiosidades:

Russell Crowe e Jennifer Connelly, que formam o casal Noé e Naameh, também já foram um casal no filme Uma Mente Brilhante (2001). Igualmente Emma Watson e Logan Lerman, que contracenaram em As Vantagens de Ser Invisível (2012).

Chistian Bale e Michael Fassbender foram convidados para fazer o papel de Noé, mas já possuíam compromissos. Curiosamente, o Bale não pôde ser Noé, mas terminou como Moisés.  

Uma coincidência entre Cristian Bale e Val Kilmer é que ambos interpretaram Moisés e Batman. Val Kilmer dublou Moisés na animação O Príncipe do Egito (1998) e foi o Batman em Batman Forever (1995). Bale vestiu a máscara do morcego em Batman Begins (2005), The Dark Knight (2008) e The Dark Knight Rises (2012).

Emma Watson in Noah (2014)
Emma Watson como sempre linda.

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