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Arrival, um filme sobre aliens e linguística

Arrival (2016)

Em Man of Steel (2013) a Amy Adams foi a diplomata entre a humanidade e um alienígena, o Superman. Em Arrival (2016) ela novamente realiza esta proeza, agora como uma linguista que é convocada pelo governo americano para entrar em contato com estranhos aliens que chegaram em uma nave. Naquele filme ela se chamava Lois Lane, nesse se chama Louise.

Os filmes de alienígenas geralmente são belicosos e catastróficos. Os aliens vêm aqui como invasores malignos que precisamos expulsar. É assim desde o clássico Guerra dos Mundos, um romance de H. G. Wells de 1898 que posteriormente foi adaptado como radionovela, depois no cinema, estabelecendo a ideia de que alienígenas são os últimos vilões.

Arrival (2016)

Em Arrival a abordagem é diferente, mais intelectual e cultural. 12 naves sobrevoam diferentes partes do mundo e os cientistas e militares que entram em contato com as criaturas dessas naves enfrentam o desafio de compreender a estranha linguagem alienígena (xenolinguística) para desvendar as intenções daqueles seres.

A protagonista, uma linguista, se depara então com uma curiosa forma de comunicação gráfica: são desenhos circulares que funcionam como palavras, ou melhor, como sentenças inteiras. Cada símbolo contém uma variedade de significados e a forma como as ideias são expressas é semelhante a um palíndromo, ou seja, a maneira de pensar dos extraterrestres é circular, os conceitos vão e voltam, a compreensão de tempo é igualmente cíclica.

Arrival (2016)

E aqui vêm alguns spoilers: no fim das contas, o que os aliens queriam era justamente ensinar seu complexo e rico idioma, pois o conhecimento deste levaria a consciência humana a outro nível de compreensão da realidade, permitindo que evoluíssem tecnologicamente. 

A ideia é a seguinte: partindo do princípio que a língua é uma expressão do pensamento, cultura e tecnologia de um povo, caso os humanos aprendam a língua alienígena, também passarão por um desenvolvimento cerebral e absorção dos conhecimentos intrínsecos ao idioma.

Arrival (2016)

Desta forma, ao adquirir esse conteúdo deixado pelos aliens, os humanos passariam por um salto evolutivo e se tornariam capazes de compreender melhor o tempo e, consequentemente, aprender a viajar pelo universo, etc. Os aliens fizeram isso como uma barganha, pois estavam envolvidos em uma guerra interestelar e precisariam no futuro da ajuda dos humanos.

Mais spoilers: sem sombra de dúvidas o momento mais marcante do filme é quando um dos aliens morre. Na nave que visitou os EUA, havia dois seres, que a linguista e seu colega cientista apelidaram de Abbott e Costello (em homenagem a dois clássicos comediantes). 

Arrival (2016)

É uma forma de demonstrar simpatia por aquelas criaturas. Apesar da aparência assustadora, quase lovecraftiana, de octopoides, os dois monstros parecem bem tranquilos, pacíficos e pacientes, dispostos a cooperar. Afoitamente, porém, os militares plantam uma bomba na nave e um dos dois seres é mortalmente ferido.

Mesmo diante dessa hostilidade dos humanos, a missão alienígena permanece disposta a dialogar, então a Dra. Louise volta a encontrar o sobrevivente e pergunta pelo outro, Abbott. É aí que ele responde: "Abbott is death process" (Abbot está em processo de morte).

Arrival (2016)

Essa frase causa um forte impacto e possui uma sutil impressão: demonstra como aquele ser tem uma compreensão e uma postura tranquila diante da morte. Perguntado sobre a situação do seu colega de viagem, ele resignado disse que o colega estava em "processo de morte". Não falou que estava morrendo, mas em processo. É a compreensão de que a morte faz parte do ciclo de suas existências.

Arrival (2016)

Também vale mencionar a música-tema que permeia a narrativa, On The Nature of Daylight, de Max Richter (que, a propósito, também faz parte da trilha sonora do filme Shutter Island, de 2010), que possui uma aura melancólica e é responsável por boa parte do encanto do filme.

No perfil oficial do compositor Max Richter há um clipe com essa música e a participação da atriz Elisabeth Moss. Veja:


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