Esta minissérie do Drácula (2020), produzida pela BBC em parceria com a Netflix, é um breve conto com apenas 3 episódios. Se bem que cada episódio possui cerca de uma hora e meia, de modo que o tempo total equivale a 6 ou 9 episódios com a duração convencional de 30-40 minutos.
Além do formato incomum dos episódios, há outras surpresas, como o fato do clássico adversário do Conde, o cientista Van Helsing, ser na série uma mulher e freira. O próprio Drácula também parece ser diferente do personagem que estamos acostumados a ver nos filmes.
A ênfase da história é apresentar os poderes psíquicos do Drácula. Ele não apenas se alimenta do sangue das vítimas, mas de suas memórias, conhecimentos e a própria sanidade. É assim que o velho vampiro se mantém são por todos estes séculos: vampirizando psiquicamente suas vítimas. Enquanto a vítima enlouquece, ele mantém a mente vívida e afiada. Em vez de se tornarem vampiros, aqueles que são mordidos viram zumbis.
Sua habilidade de absorver conhecimentos é mostrada, por exemplo, quando ele se alimenta de um homem simplesmente para aprender o seu idioma e ter uma conversa culta com uma Duquesa. O Conde tem essa faceta de apreciar papos intelectuais e modos da nobreza. É um monstro civilizado, que mata com elegância e escolhendo criteriosamente suas vítimas.
Suas limitações são bem claras: a luz do sol lhe é mortífera, não suporta a presença da cruz cristã e só entra em um ambiente se for convidado. Tudo isto faz parte da famosa mitologia do personagem, mas é exatamente nesse ponto que a série peca. E aqui vem spoiler!
Ao longo dos três episódios, a imagem imponente do vilão é bem construída. Ele tem uma inteligência aguçadíssima, por exemplo, após adormecer no mar por um século e acordar no nosso tempo, ele leva alguns minutos para entender as tecnologias modernas como helicópteros, câmeras e até celulares. Aprende a usar toda essa tecnologia de uma forma intuitiva.
A série deixa claro isso: Drácula é um intelecto superior. Sua disputa com Van Helsing, inclusive, é simbolizada na forma de um jogo de xadrez, uma batalha mental. Acontece que, depois de desenhar essa imagem poderosa do vampiro, a série termina precocemente desconstruindo toda a mitologia quando Van Helsing ("encarnada" numa descendente) afirma que as fraquezas dele são mero fruto do orgulho.
Ela prova isso expondo o vampiro ao sol, quando ele fica surpreso ao ver que não sofre dano. Pronto, virou um vampiro de Crepúsculo... De repente o brilhante Drácula se torna um ser inseguro que na verdade é cheio de fobias. O sol, a cruz, a necessidade de convite seriam meros sintomas de um sentimento de orgulho aristocrático. Foi um final realmente patético.
De toda forma, se cortarmos de nossa memória os últimos trinta minutos da série, esse Drácula não foi nada mal.
Drácula modernoso xavecando no zap. |
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