Biografia do físico Stephen Hawking baseada no livro "Travelling to Infinity: My Life with Stephen", escrito por sua esposa Jane Wilde Hawking.
Antes deste filme, houve outra biografia de Hawking no cinema, o filme "Hawking" (2004), protagonizado por Benedict Cumberbatch. Me perdoem os fãs de Cumberbatch, mas a caracterização dele nem chega perto desta do Eddie Redmayne.
Em certos momentos o Hawking de Cumberbatch parece mais um bêbado do que alguém com deficiência motora. E ele ameniza demais a personalidade de Hawking, que é uma pessoa muito bem humorada, sim, mas também possui uma melancolia no olhar que só o Eddie Redmayne conseguiu transmitir.
Mas não só a atuação fez o filme de 2014 melhor que o de 2004. Também a caprichada produção, a maquiagem que deixou o ator muitíssimo parecido com o real Hawking, a bela fotografia e trilha sonora, ideais para uma trama dramática, e principalmente o roteiro, pois The Theory of Everything é muito mais fiel à biografia do físico britânico, afinal tem como base os relatos de sua esposa (hoje ex-esposa).
Enfim, o filme de 2004 é um tanto caricato, especialmente ao retratar Wilson e Penzias como dois bobões que só sabem falar sobre pombos no telescópio. The Theory of Everything, por sua vez, consegue harmonizar fatos reais com o romanceamento do cinema, e a escolha do título não poderia ser mais feliz, pois a busca da "teoria de tudo" foi simplesmente o maior ideal, o grande sonho de Stephen Hawking desde sua juventude.
Em Man of Steel (2013) a Amy Adams foi a diplomata entre a humanidade e um alienígena, o Superman. Em Arrival (2016) ela novamente realiza esta proeza, agora como uma linguista que é convocada pelo governo americano para entrar em contato com estranhos aliens que chegaram em uma nave. Naquele filme ela se chamava Lois Lane, nesse se chama Louise.
Os filmes de alienígenas geralmente são belicosos e catastróficos. Os aliens vêm aqui como invasores malignos que precisamos expulsar. É assim desde o clássico Guerra dos Mundos, um romance de H. G. Wells de 1898 que posteriormente foi adaptado como radionovela, depois no cinema, estabelecendo a ideia de que alienígenas são os últimos vilões.
Em Arrival a abordagem é diferente, mais intelectual e cultural. 12 naves sobrevoam diferentes partes do mundo e os cientistas e militares que entram em contato com as criaturas dessas naves enfrentam o desafio de compreender a estranha linguagem alienígena (xenolinguística) para desvendar as intenções daqueles seres.
A protagonista, uma linguista, se depara então com uma curiosa forma de comunicação gráfica: são desenhos circulares que funcionam como palavras, ou melhor, como sentenças inteiras. Cada símbolo contém uma variedade de significados e a forma como as ideias são expressas é semelhante a um palíndromo, ou seja, a maneira de pensar dos extraterrestres é circular, os conceitos vão e voltam, a compreensão de tempo é igualmente cíclica.
E aqui vêm alguns spoilers: no fim das contas, o que os aliens queriam era justamente ensinar seu complexo e rico idioma, pois o conhecimento deste levaria a consciência humana a outro nível de compreensão da realidade, permitindo que evoluíssem tecnologicamente.
A ideia é a seguinte: partindo do princípio que a língua é uma expressão do pensamento, cultura e tecnologia de um povo, caso os humanos aprendam a língua alienígena, também passarão por um desenvolvimento cerebral e absorção dos conhecimentos intrínsecos ao idioma.
Desta forma, ao adquirir esse conteúdo deixado pelos aliens, os humanos passariam por um salto evolutivo e se tornariam capazes de compreender melhor o tempo e, consequentemente, aprender a viajar pelo universo, etc. Os aliens fizeram isso como uma barganha, pois estavam envolvidos em uma guerra interestelar e precisariam no futuro da ajuda dos humanos.
Mais spoilers: sem sombra de dúvidas o momento mais marcante do filme é quando um dos aliens morre. Na nave que visitou os EUA, havia dois seres, que a linguista e seu colega cientista apelidaram de Abbott e Costello (em homenagem a dois clássicos comediantes).
É uma forma de demonstrar simpatia por aquelas criaturas. Apesar da aparência assustadora, quase lovecraftiana, de octopoides, os dois monstros parecem bem tranquilos, pacíficos e pacientes, dispostos a cooperar. Afoitamente, porém, os militares plantam uma bomba na nave e um dos dois seres é mortalmente ferido.
Mesmo diante dessa hostilidade dos humanos, a missão alienígena permanece disposta a dialogar, então a Dra. Louise volta a encontrar o sobrevivente e pergunta pelo outro, Abbott. É aí que ele responde: "Abbott is death process" (Abbot está em processo de morte).
Essa frase causa um forte impacto e possui uma sutil impressão: demonstra como aquele ser tem uma compreensão e uma postura tranquila diante da morte. Perguntado sobre a situação do seu colega de viagem, ele resignado disse que o colega estava em "processo de morte". Não falou que estava morrendo, mas em processo. É a compreensão de que a morte faz parte do ciclo de suas existências.
Também vale mencionar a música-tema que permeia a narrativa, On The Nature of Daylight, de Max Richter (que, a propósito, também faz parte da trilha sonora do filme Shutter Island, de 2010), que possui uma aura melancólica e é responsável por boa parte do encanto do filme.
No perfil oficial do compositor Max Richter há um clipe com essa música e a participação da atriz Elisabeth Moss. Veja:
Que a Lara Croft foi inspirada no Indiana Jones não há dúvidas. O arqueólogo aventureiro criado por George Lucas e interpretado de forma marcante por Harrison Ford foi um dos grandes heróis do cinema nos anos 80 e 90, um tanto diferente do padrão da época que era dos brucutus estilo Rambo e Schwarza.
Eis que em 1996 surgiu a arqueóloga Lara Croft na nova mídia dos video games e foi um sucesso que se multiplicou pelos anos, lançando um jogo após o outro e dois filmes interpretados pela Angelina Jolie em 2001 e 2003. Até então a personagem mantinha um estilo de caçadora de relíquias e com uma dose de artes marciais e tiroteio. Era um Indiana Jones turbinado.
No reboot de 2018, interpretado pela Alicia Vikander, a exploradora retornou ainda mais badass, com um corpo trincado e envolvida em muitas cenas de esforço físico, escalando, correndo na selva armada com um arco, nadando na correnteza. Agora se tornou uma verdadeira "Ramba", assim como é nos games.
A Lara Croft da Angelina Jolie, na verdade, é muito mais super-heroína. Suas habilidades são sobre-humanas, ela faz acrobacias e dá saltos impossíveis, além de ter uma destreza usando armas nas duas mãos, do jeito que o Deadpool gosta. Enfim, ela tinha a cara dos anos 90 e até suas aventuras eram mais estilo fantasia, lutando contra robôs, estátuas de pedra e descobrindo fenômenos mágicos.
A versão de 2018 é mais pé no chão e realista, o que tem sido uma tendência do cinema de ação ao longo dos anos. As habilidades dela não são de uma super-heroína, mas de uma crossfiteira radical, o que acaba fazendo ela parecer mais badass que a versão anterior, pois é uma humana normal que está vivendo no limite.
Enquanto o Reino Unido tem Alice no País das Maravilhas (1865), os Estados Unidos têm O Mágico de Oz (1900), de autoria de L. Frank Baum.
Além de ambas as obras serem histórias infantis, têm em comum o fato de apresentarem uma protagonista feminina que por meio de um bizarro fenômeno viaja para um mundo de fantasia. Alice vai parar no País das Maravilhas ao entrar num buraco de coelho e Dorothy é levada por um furacão para a terra mágica de Oz.
A mais famosa adaptação da obra original do Mágico de Oz foi o filme de 1939 produzido pela Metro-Goldwyn-Mayer. Ao longo das décadas várias outras produções de baixo orçamento surgiram até que em 2013 a Disney lançou sua versão milionária Oz: The Great and Powerful.
Diferente do filme de 1939, não temos a história da Dorothy, a garotinha dos sapatos vermelhos que mata bruxas jogando água nelas. Não tem Dorothy nesse filme e, como o título deixa claro, o foco está no mago charlatão Oz, mostrando como ele chegou naquele mundo e se tornou rei. É, portanto, uma prequel do conto clássico.
A produção não fica atrás dos dois filmes da Disney dedicados à Alice (em 2010 e 2016), contando com diversos efeitos especiais que criaram todo um mundo fantástico e colorido, com bruxas, criaturas mágicas e muuuitos anões.
Este longa faz parte da recente leva de filmes do universo de contos de fadas da Disney, incluindo dois filmes de Alice em 2010 e 2016 (resenha aqui), também dois da Malévola em 2014 e 2019 (resenha aqui) e A Bela e a Fera em 2017.
Os contos Alice in Wonderland (1965) e Through the Looking-Glass (1871), de Lewis Carrol, estão entre os maiores clássicos da Literatura infantil. Sua fama se tornou ainda maior quando em 1951 a Disney lançou uma adaptação animada (resenha aqui). Ao longo do século XX, pouco mais de uma dúzia de filmes foram produzidos, mas somente no século XXI a Disney investiu em seu próprio live-action, lançado em 2010 com direção de Tim Burton.
Diferente da animação, que era uma narração fiel do conto de Carroll, este filme é uma continuação da obra original. De certa forma pode-se dizer que é uma sequência da Disney ao seu desenho de 1951. Agora Alice está com 19 anos e renuncia a um casamento para voltar a se aventurar no mundo mágico que conhecera na infância. Em 2016 foi a vez da agora adulta Alice voltar outra vez para o mundo surreal em Alice Through the Looking Glass (direção de James Bobin), quando viaja no tempo para salvar o amigo Chapeleiro Maluco.
O primeiro filme ganhou dois Oscars (Direção de arte e Figurino), teve um orçamento de 200 milhões e arrecadou 116 milhões na abertura, mas passou de 1 bilhão em seu lucro mundial. O segundo filme foi mais modesto, com orçamento de 176 milhões, arrecadando apenas 26 milhões na abertura e 300 milhões mundialmente e não levou nenhum Oscar.
Foi um projeto ambicioso, algo que esse grande clássico merecia. A produção caprichadíssima entregou dois filmes repletos de efeitos especiais, muitas cores e cenários ricos em detalhes. Também formaram um time de estrelas no elenco principal, com Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Carter e Mia Wasikowska como Alice.
A despeito de todos esses esforços, a recepção não foi à altura. Bom, fizeram um bilhão, mas a popularidade e a pontuação da crítica não foi tão expressiva se compararmos com os filmes da Marvel, também produzidos pela Disney, que acabaram ganhando mais o carinho e o dinheiro do público.
O interessante no carnaval é que é uma festa cristã, tanto que é seguido pela quarta-feira de cinzas. A religião da castidade celebrando a orgia. É a dialética existencial, a união da tese e da antitese, o paradoxo da indulgência e a penitência, o caos humano. Não que isso seja invenção do cristianismo. A saturnália pagã fazia o mesmo. Toda sociedade tende a criar uma cultura com espectros que se contradizem porque a existência é intrinsecamente eivada de contradições que se retroalimentam.
Este filme foi primeiro lançado em 2004 como um curta-metragem, ganhando depois uma versão ampliada em 2006. É sobre Ben (Sean Biggerstaff, o Oliver Wood em Harry Potter e as Relíquias da Morte), um rapaz que sofreu o recente fim de relacionamento com sua namorada.
O trauma da separação provocou nele uma incomum insônia que o acompanhou por semanas. Para ocupar este tempo extra que agora possuía, resolve trabalhar num supermercado no turno da noite, conhecendo novos amigos e Sharon (Emilia Fox), surgindo uma atração mútua.
A história é narrada pelo próprio Ben, com sua interessante forma de ver o mundo. Desde criança ele tem uma admiração artística pela beleza feminina, que expressa por meio do desenho. Além disso, costuma entreter-se imaginando que pode congelar o tempo.
Ben, portanto, vive boa parte de seu tempo dentro deste mundo imaginário e contemplativo da sua mente, e é isto que torna a história interessante, a sua forma peculiar de enxergar a vida e as pessoas e a maneira singela e platônica como irá desenvolver um novo romance com Sharon.
O filme é muito divertido por causa dos outros personagens que são caricatos e cômicos. O patrão de Ben é um tipo narcisista e azarado, seus colegas são crianções, seu melhor amigo é um desastre com as mulheres, tem até um sujeito viciado em artes marciais que vive como se fosse o próprio "karatê kid".
Em contraste com todas estas figuras pitorescas, se desenvolve a relação tímida e mágica entre Ben e Sharon. A história possui três camadas: a do momento presente, a dos flashbacks em que Ben recorda cenas de sua infância, e a camada imaginária, quando ele pausa o tempo.
Nerve (2016) é um daqueles filmes que parecem querer ser antenados nas novidades da juventude e acabam sendo bregas. A trama envolve uma adolescente que se envolve com uma comunidade online voltada para desafios radicais.
Tem a audiência que propõe desafios como beijar um estranho ou até fazer coisas arriscadas como deitar num trilho de tem e tem os streamers que topam os desafios em troca de dinheiro e reputação. A guria, com a típica busca de adrenalina juvenil, se mete então nessa roubada e começa a fazer os desafios e em meio a isso arranja um namoradinho.
E ponto. Nada mais a se dizer. Bom, pelo menos temos o bônus da beleza e fofura da Emma Roberts.
A história de Maleficent (2014) não foge dos clichês de contos de fada da Disney. Uma princesa se apaixona, mas sofre uma decepção (que no caso é o próprio amante que se mostra um verdadeiro escroto) e agora vai viver sua aventura heroica.
A diferença do padrão Disney é que a heroína na verdade é uma anti-heroína. Maleficent ou Malévola (Angelina Jolie) é a primeira princesa da Disney que não adota o arquétipo da personagem boazinha ou inocente ou heroína.
Decepcionada, a fada vai para o lado negro, se torna bruxa, veste preto e toca o terror. Seu visual é literalmente diabólico, com suas asas negras e enormes chifres. Uma princesa trevosa. Por outro lado, o papel da clássica princesa inocente foi dado à afilhada Aurora (Elle Fanning).
A Disney não economizou nos efeitos especiais e deu ao filme todo um ecossistema de criaturas fantásticas, fadinhas, elfos, árvores humanoides, dragões... É possível até desenvolver a partir daí um novo universo de filmes fantásticos. Em 2019, inclusive, veio a sequência.
A fofa Elle Fanning.
Na continuação, a Malévola completa sua jornada do herói, ou melhor, jornada do anti-herói. Tendo se tornado uma amarga inimiga dos humanos, ela acaba se sacrificando pra salvar a afilhada humana, mas ressuscita milagrosamente literalmente como uma fênix para ser o deus ex machina na batalha final dos humanos contra as fadas e depois do pau quebrar todo mundo faz as pazes e temos o final feliz.
Quanto ao visual da Malévola, me lembra por acaso uma vilã da minha infância, do desenho Cavalo de Fogo (Wildfire), que fez sucesso no SBT nos anos 80-90. A protagonista era a garota Sara, com um visual de cowgirl e cavalgando seu místico Cavalo de Fogo, e a vilã era a Lady Diabolyn. Essa história, porém, nada tem a ver com a do filme da Disney, já que era uma produção da Hanna-Barbera.