Michael Bay é conhecido por seu sci-fi de ação, filmes com muitas explosões e CGI. Em sua carreira de três décadas, ele particularmente se destacou em Armageddon (1998) e pela bilionária franquia Transformers. Dois anos antes do primeiro Transformers, ele dirigiu um filme que hoje é pouco conhecido, uma pérola esquecida de sua filmografia: The Island (2005).
The Island tem um elenco com vários rostos familiares. O casal de protagonistas foi interpretado pela bela Scarlett Johansson e o escocês Ewan McGregor, que na época já era bem conhecido como o jovem Obi Wan Kenobi, de Star Wars. Temos o "galã feio" Steve Buscemi, o Sean Bean (que curiosamente não morre neste filme), o brutamontes Michael Clarke Duncan e o africano Djimon Hounsou.
A história se passa em um suposto futuro pós-apocalíptico em que algum tipo de pandemia tornou a Terra inabitável e os poucos sobreviventes moram num enorme complexo isolado do mundo exterior. As pessoas vivem em uma espécie de tecnocracia em que todos os aspectos de suas vidas são controlados por um sistema.
As roupas são fardas brancas, uniformizando todos, a alimentação é definida por um algoritmo que prepara a dieta com base na coleta de dados biométricos e até da urina. Toda a rotina diária é programada por este sistema que envolve computadores e funcionários humanos que estão sempre monitorando a população e intimidando qualquer comportamento minimamente subversivo.
Um monitor alerta sobre distanciamento social. |
Convencidas de que este estilo de vida é o melhor para elas, as pessoas se submetem a tudo sem questionar muito. Há regras de higiene, controle de opinião (ninguém pode questionar o sistema ou ficar conversando sobre, pois logo é abordado por um monitor) e até distanciamento social. O contato físico é evitado, de modo que não há relacionamentos românticos. Todavia, há mulheres grávidas, o que se dá por inseminação artificial.
Por fim, há algo que funciona como combustível para manter a esperança dos habitantes e impedir que se cansem daquele estado de coisas. Existe uma ilha que não foi contaminada pela pandemia e um sistema de loteria semanalmente faz sorteios, enviando os premiados para este mundo paradisíaco. É a promessa de uma vida melhor, uma vida de luxo fora daquela entediante prisão. Assim todos se comportam e seguem suas rotinas, na expectativa de um dia serem sorteados para irem viver na tal ilha.
Talvez a coisa mais inverossímil do filme seja o MSN Search como buscador padrão desta sociedade. |
Nanotecnologia não podia faltar em um sci-fi cyberpunk. |
E aqui vem o spoiler. O casal de protagonistas, Jordan e Lincoln, acaba se aventurando na descoberta da verdade. Eles descobrem que aquele complexo é uma espécie de fábrica de clones humanos, que são criados com memórias implantadas, acreditando em toda a balela da pandemia e da ilha paradisíaca. O fim destes clones é servirem como backup de órgãos para clientes ricaços.
Ou seja, se um cliente um dia precisar de um fígado, um coração, até de pele, sangue, enfim, todo o material orgânico geneticamente compatível, será extraído de seu clone. Os clones nada mais são do que gado cultivado para o abatedouro.
Ok, o conceito é um tanto bobo, se pensarmos que seria muito mais fácil desenvolver uma tecnologia avançada de clonagem de órgãos específicos do que ter que montar um criadouro de humanos, correndo o risco de a qualquer momento esta atividade extremamente antiética vir a público, o que acaba acontecendo no final da trama.
Há uma explicação meio Matrix: os cientistas daquela empresa (Merrick Biotech) constataram que um clone humano não sobrevivia por muito tempo se mantido em animação suspensa e que era preciso que aqueles corpos tivessem vidas ativas e conscientes, como uma pessoa normal.
Estes clones são chamados de agnates e os clientes não sabem que se tratam de pessoas conscientes, pois a estes é feita uma propaganda mostrando agnates como meros corpos mantidos em animação suspensa.
The Island mostra o perigo do domínio tecnológico sobre a vida humana e como a tecnologia pode ser usada para manipular a mente das pessoas e extrapolar os limites da ética. Os clones se tornaram produtos, objetos desumanizados e destinados ao uso de quem pagou por eles.
The Island, por fim, merece seu lugar na galeria de distopias cyberpunk.
Um momento para apreciar a beleza da Scarlett. |
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