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A trilogia de Shyamalan

Shyamalan trilogy

Essa é uma daquelas sequências de filmes que levaram longos anos para serem completadas. Não que se compare a algo como Star Wars, cujo primeiro filme fora lançado há nada menos que 42 anos, em 1977, e seguiu ao longo das décadas em um só fio narrativo, sem reboots. Também Mad Max teve seu primeiro filme há 40 anos, em 1979, e em 2015 completou uma tetralogia. 

No caso do "universo Shyamalan", seu início se deu há 19 anos com Unbreakable (2000). Focado no personagem David (Bruce Willis), que se descobre portador de superpoderes bem ao estilo de personagem de quadrinhos. Ele é muito forte e invulnerável, além de ter certa intuição para farejar criminosos, de modo que se torna um justiceiro. 

Unbreakable (2000)

O vilão dessa história é Elijah (Samuel L. Jackson) que, de forma inversa ao herói, possui um corpo extremamente frágil, sofrendo de osteogênese imperfeita, de modo que por toda a vida seus ossos experimentaram muitas fraturas e essa limitação fez com que ele levasse uma vida reclusa e dedicada a estudos. Em compensação, possui uma inteligência sobre-humana e se torna um super vilão. É uma dupla clássica: o herói virtuoso, ingênuo e fortão; o vilão maligno, gênio e mastermind. Superman e Lex Luthor.

Split (2016)

A sequência veio uma década e meia depois, com Split (2016). Desta vez o personagem não é bem um herói ou vilão, mas um anti-herói. Enquanto Unbreakable tinha um estilo mais policial, Split é um drama psicológico, explorando o bizarro Kevin (James McAvoy) que possui nada menos que 24 personalidades, cada qual com suas vontades e princípios, umas mais bondosas, outras malignas, outras indiferentes e até mesmo uma criança. Todas elas giram em torno de uma personalidade bem peculiar chamada A Besta.

A teoria do filme é de que a mente humana é capaz de conceder não só habilidades especiais ao corpo, como influenciar até mesmo sua saúde e vigor, de modo que cada personalidade de Kevin tem uma saúde diferente e a personalidade da Besta faz com que ele desperte uma força sobre-humana e um comportamento animal. As várias personalidades acreditam que A Besta é uma forma suprema de ser humano, a perfeição, como um ubermensch, a ponto dele ser venerado e a ele se oferecem sacrifícios, garotas raptadas que Kevin canibaliza quando assume a forma da Besta.

Split (traduzido no Brasil como Fragmentado), é o filme mais intrigante dessa série, justamente por desenvolver um tema tão complexo e incomum, envolvendo o universo mental do personagem. A atuação de James McAvoy foi impressionante, pois em questão de segundos ele mudava de personalidades, alterando até suas micro expressões do rosto, tom de voz e os trejeitos do corpo.

Não bastando tudo isto, o filme ainda termina com um plot twist, que é marca das obras de Shyamalan. Atenção então para o spoiler! Bom, não se pode dizer que isso seja mais um spoiler a essa altura, já que "todo mundo" agora sabe que Split é uma sequencia de Unbreakable. Na época em que saiu, porém, ninguém sabia e foi uma grande surpresa quando no final de Split vimos uma cena em que aparece o personagem de Bruce Willis. É aí que percebemos que Shyamalan, após 16 anos, resolveu dar continuidade ao que começara em Unbreakable, criando um micro universo de super humanos.

Glass (2019)

Enfim, Glass veio em 2019 para completar a trilogia. Agora vemos o encontro dos três personagens, o herói David, o vilão Elijah e o anti-herói Kevin. O fortão, o cerebral e o bestial. O filme enfatiza a teoria original de que os quadrinhos são uma história velada sobre o potencial humano para desenvolver habilidades extraordinárias e existe uma sociedade secreta que há 10 mil anos reprime estas manifestações de poder, acreditando que o melhor para a humanidade é que todos vivam em um nível mediano e que superseres trariam problemas. 

É o vilão Elijah, o Glass, que vai enfrentar esse status do mundo, manipulando David e Kevin para se enfrentarem em público, num típico quebra pau de superseres, de modo que as pessoas passem a acreditar no potencial extraordinário.

E assim Glass conclui a trilogia. Para mim foi um pouco entediante na primeira hora e o plot twist no final é previsível, não tendo o mesmo peso das típicas e surpreendentes reviravoltas de Shyamalan. A atuação de McAvoy continua fantástica e é de longe a melhor desse filme, mas o tom dessa história é mais bobinho e menos sombrio do que o Split. De toda forma, foi bom ver a união dos três personagens que enfim atou as pontas de toda a série em um encerramento da trama.

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