Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Alice no País das Maravilhas (1951)

Alice in Wonderland (1951)

Este desenho da Disney foi, obviamente, baseado nas duas histórias de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas (1865) e Alice Através do Espelho (1871). Foi produzido sob a supervisão do próprio Walt Disney e ganhou o Oscar de melhor trilha sonora.

A história de Alice já é conhecida na cultura popular. Uma história contada e recontada para crianças, mas que é tão rica em simbolismo e referências que tem também a apreciação de adultos.

Alice é uma garota cheia de imaginação que vê um coelho branco com um relógio e, seguindo-o, cai num buraco que a introduz num mundo fantástico onde animais falam e coisas incomuns acontecem.

Numa primeira camada, podemos ver Alice como um conto de fadas convencional, uma fábula de animais falantes criada pra entreter as crianças. Em outra camada, com alguma pesquisa sobre a origem do livro e a vida do autor, vemos que Carroll escreveu ou contou a história originalmente para a filha de um amigo seu, chamada Alice Liddell.

Há várias referências a pessoas e eventos conhecidos da garota Alice. Por exemplo, conta sobre as irmãs Elsie, Lacie e Tillie, que são as irmãs Liddell: Elsie é um nome derivado da pronúncia em inglês para LC (Lorina Charlotte), Tillie é Edith (seu apelido de família é Matilda), e LaCie é um anagrama de Alice.

Em camadas mais profundas, pode-se entender um desenho do mundo subconsciente de Alice ou de qualquer pessoa. Um mundo em que vemos personagens autoritários (a Rainha), representando nossa consciência punidora e vigilante, o lado racional, e personagens libertários e ousados (o Chapeleiro, o Gato), representando nosso lado livre e “louco”.

Há quem veja também simbologias de iniciação maçônica ou esotérica em geral. O Chapeleiro, por exemplo, usando trajes formais e cartola, seria um mestre maçom. A queda no buraco seria a imersão no abismo, um símbolo comum em todo esoterismo, pois o abismo é o início de uma mudança, a crise, o mergulho no caos para a partir daí haver uma iniciação. 

Carroll era professor de matemática e no conto faz menções a questões de matemática e cultura geral. Era comum autores protestantes da Inglaterra contarem histórias cheias de alegorias e simbolismo, como foi o caso de John Bunyan em seu O Peregrino.

O autor de Alice pode não ter investido em mensagens cristãs, mas usou da alegoria para questões mais universais, como a distinção entre loucura e normalidade, culpa e inocência, razão e imaginação, etc. Não é à toa que encanta, pois não se trata só de mais uma fábula de animais, mas de uma saga psicológica.

Uma saga especialmente vivida na adolescência, pois, tendo escrito primeiro para sua amiga adolescente, Carroll visava retratar alguns dos dramas desta fase. Assim que cai no abismo (a crise, a fase de mudança), Alice já se depara com o problema do crescimento, de ora parecer adulta, ora criança, de precisar encontrar seu tamanho ideal.

Quando encontra-se com a Lagarta, já é confrontada com a grande questão “Quem é você?”, ou seja, a necessidade de descobrir a própria identidade. E por fim irá enfrentar o julgamento da Rainha, uma personagem autoritária que talvez representasse a mãe de Alice Liddell.

O fim da história é repentino, mágico, pois ela simplesmente desperta do sonho, talvez indicando que a saga jamais tem fim, que prosseguiria por toda a vida.

O filme animado, produzido por Walt Disney, é bastante fiel ao livro e dá à história o encanto das formas e cores e música, um perfeito complemento para a história escrita.


Nenhum comentário:

Postar um comentário