Vi um cozinheiro de rua com destreza fatiando frutas e verduras, preparando pratos com agilidade e arte, deixando a salivar os seus clientes. Era uma cena bela, pelo menos em partes. A dança de suas mãos e da faca, as fatias de frutas saltitando no ar, o prato adornado com as formas e cores da natureza.
O contraste para toda esta beleza era o próprio cozinheiro, um homem sem o privilégio de bons atributos físicos; um homem feio, quase grotesco. Ninguém, todavia, se importava com sua feiura, uma vez que de suas mãos saia algo atraente. Ele dominava uma arte que agrada aos olhos e ao paladar.
A beleza existe em toda parte, como o lótus que cresce no lamaçal. Ela está misturada à feiura, destacando-se pelo contraste. Nada nem ninguém é totalmente belo. A beleza consiste em detalhes. Para apreciar a beleza, é preciso concentrar-se, separar o artista de sua arte. Afinal, mesmo monstros podem produzir beleza.
A beleza é rara, assim como a feiura. Ambas existem cercadas por um oceano de mesmice. Quando se encontram, mutualmente enfatizam-se. Quando concentram-se, na mesmice se diluem.
A imensa escuridão do abismo cósmico é a mesmice do universo, contrastada pela beleza das estrelas. O mundo é belo em seus detalhes, assim como a humanidade. Somos em parte mesmice, beleza e feiura. Cabe a cada um de nós calibrar o olhar a fim de escolher aquilo que prefere ver.
(18,01,2024)
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