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Cyberpunk e as frases feitas do Schwarza em The Running Man

The Running Man (1987)

O cyberpunk, que nada mais é do que um subgênero do sci-fi distópico, pode ter sua data de início atrelada ao lançamento do livro Neuromancer, em 1984. Obviamente, ele já existia em sua forma embrionária décadas antes disto, mas é na década de 80 que o cyberpunk se estabelece.

Antes mesmo do Neuromancer, em 1982, o cinema já nos apresentou uma importante obra proto-cyberpunk, o Blade Runner, adaptação do livro Do Androids Dream of Electric Sheep?, de 1968. A trilogia Robocop (1987-1993) também forneceu uma grande contribuição estética na representação deste mundo futurista marcado pelo "high tech, low life". Por fim, em 1999, o cyberpunk chegou ao seu auge no cinema com The Matrix.

Além das obras-primas, o cyberpunk também enveredou por um caminho mais tosco, com uns filmes meio galhofa e roteiros sem pé nem cabeça. É o caso de The Running Man (1987), um filme que, apesar da tosqueira, merece um lugar na galeria dos grandes pais do cyberpunk no cinema.

Richard Dawson, Arnold Schwarzenegger; The Running Man (1987)

Trata-se de uma adaptação do livro homônimo publicado por Stephen King em 1982. A história se passa no que seria o futuro da humanidade em 2017, com os EUA se tornando um estado fortemente totalitário após o colapso da economia global. A fim de pacificar a população, é promovido um entretenimento televisivo ao estilo dos antigos gladiadores, onde criminosos literalmente têm de correr por suas vidas, fugindo de mercenários. Se no fim da caçada o sujeito sobreviver, até ganha o perdão de seus crimes e uma viagem para algum paraíso tropical.

Arnold Schwarzenegger encarna o protagonista Ben Richards, um policial que se recusa a obedecer às ordens para chacinar uma multidão em protesto, de modo que não só perde seu cargo como é vítima de uma armação, sofrendo assassinato de reputação, sendo injustamente condenado, tornando-se um pária e fugitivo. 

É inclusive bem profético como Ben é criminalizado por meio de manipulação digital de imagens, forjando crimes que ele não cometeu. Sim, este filme de 1987 previu a tecnologia do deep fake.


Devido a seu físico e habilidades atléticas, Richards chama atenção de Damon Killian, o magnata da ICS Corporation, responsável pelo programa The Running Man. Killian consegue que Richards seja capturado e forçado a participar do reality show de sobrevivência, quando terá que enfrentar mercenários que são venerados pelo público como superstars.

O filme tem os elementos que acabariam se consagrando como uma marca de muitas histórias cyberpunk: o mundo decadente misturando alta tecnologia e baixas condições de vida para a maioria da população (high tech, low life); uma mescla quimérica entre o governo totalitário e megacorporações monopolistas; um tom satírico de crítica social, expondo o comportamento ridicularmente cruel das pessoas e instituições nesta sociedade; violência explícita e humor negro; uma certa estética futurista na forma como as pessoas se vestem, na ambientação cheia de neon contrastando com a escuridão noturna.

Cyberpunk 2077 (2020); The Running Man (1987)
Falando em estética, é curiosa a semelhança entre a apresentadora de TV no filme de 1987 e a outra do game Cyberpunk 2077, de 2020. 33 anos separam estas duas personagens. 

Curiosamente, boa parte destas características foi deixada de lado em Matrix, o filme que considero o mais influente representante do cyberpunk no cinema. Matrix abandonou a sátira, o humor negro, a estética exagerada e super colorida, assumindo um ar mais sério e até contemplativo, mais zen. De certa forma Matrix matou o cyberpunk zoeiro e os filmes que vieram depois, inspirados em Matrix, tentaram adotar um estilo igualmente sério.

Já no caso dos games, temos um renascimento desse cyberpunk oitentista, voltado para a sátira, o humor e a galhofa. É o caso da franquia Borderlands e outros jogos como High on Life (2022) e até mesmo Cyberpunk 2077 (2020) que, mesmo sendo no geral bem sério ao estilo Matrix, também tem seus momentos de humor negro, muito sarcasmo e diálogos cheios de palavrões e zoeira.

Mas voltando a The Running Man, existe um elemento peculiar que diferencia este filme de qualquer outra obra cyberpunk: o Arnold Schwarzenegger. Ele inevitavelmente acrescentou sua marca, seu ingrediente característico e que na verdade combinou com o estilo satírico do cyberpunk, pois ele fica a todo momento soltando suas frases de efeito, tirando onda com a morte dos adversários. Aliás, este é certamente um dos filmes em que o Schwarza solta a maior quantidade de frasismos e trocadilhos.

Alguns exemplos:

- "Uplink, underground! Uplink, underground! If you guys don't shut up, I'm gonna uplink your ass, and you'll be underground!"

- "Killian, here's your Subzero, now plain zero" (depois de matar o mercenário Subzero).

- "Aw, he had to split" (falando do mercenário Buzzsaw, depois que Richards o serrou ao meio com uma motosserra).

- "What a hothead" (depois que ele explode o mercenário Fireball).

E, claro, ele também mandou a sua clássica: "I'll be back".

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