Qaligrafia
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A eterna Melancolia

Não sou um corpo, sou um cérebro. Meu cérebro possui um corpo, a sua carapaça, o seu veículo. Tudo no corpo existe em função do cérebro, uma máquina trabalhando para nutri-lo, para dar a ele as ferramentas motoras e sensoriais com as quais pode interagir com o mundo. 

Foram tantos anos para o cérebro chegar à sua forma atual. Tantas experimentações, tanta tentativa e erro; vidas e mais vidas nascendo, multiplicando-se, lutando, morrendo; um ciclo de milhões de eras até nos tornarmos o que somos, um fragmento da consciência do universo.

Por que então somos assim? Por que sorrimos e choramos? O que as emoções têm de importante no grande escopo da nossa jornada cósmica? Temos algo que as máquinas não têm, que talvez nunca terão, algo que parece um defeito, um bug em nosso software, ainda assim tão formidável.

Reafirmo meus votos com a Melancolia. Pairando entre as estrelas, contemplando a grande saga da existência, penso e sinto que há espaço para uma visão melancólica do mundo. A Melancolia é minha Perséfone.

Que tramas ela deve tecer na minha rede de neurônios? Que aspectos do mundo ela me permite enxergar? A luz da alegria nos cega para a realidade, enquanto a melancólica penumbra oferece uma melhor definição das formas, da luz, da sombra e da profundidade. 

A Melancolia me faz sentir saudades do universo. Olho bilhões de anos como uma fagulha que num momento foi acesa e logo desapareceu. O nascer e morrer de estrelas é como o infinitesimal vibrar das menores partículas na duração incalculável do infinito.

Sentirei saudades, universo, quando tudo passar. De fato, em minha imaginação que transcende as quatro dimensões, eu já vi o teu fim como o fim de um breve momento de alegria, permanecendo apenas a imutável e paciente melancolia cósmica.

(05,01,2024)

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