Qaligrafia
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Sobre galinhas e frenemizades

Creio que já comentei certa vez (oh, este blog tem mais de 1200 posts, de modo que já está ficando difícil lembrar tudo o que já escrevi) sobre observações que fiz no comportamento das galinhas que crio. 

Algumas delas são pacíficas e focadas em viver a vida delas. Outras são implicantes e vivem comprando briga. Quando levo comida para elas, as pacíficas se concentram em comer, enquanto as implicantes ficam correndo pra lá e pra cá, tentando espantar as outras, tentando ficar com toda a comida. Mas então quem come mais? No fim das contas, são as pacíficas, pois as implicantes perdem muito tempo neste esforço por incomodar e espantar as outras.

A violência e a rivalidade têm seus propósitos evolutivos, mas isto não significa que sejam sempre a melhor opção. Quanto mais desenvolvido é um grupo, menos necessária se torna a violência direta, pois este grupo saberá calcular o custo-benefício da violência em relação à paz (mesmo que seja uma paz armada).

As bestas se estranham por qualquer tolice. Basta um olhar ameaçador para iniciar uma luta mortal. Na sociedade humana, quando duas pessoas se esbarram na rua, elas podem até sentir em seu íntimo primitivo um desejo de reagir como as bestas, mas geralmente chegam à conclusão que não vale a pena, que é um desperdício de energia e tempo. Falam um rápido "desculpe" e seguem em frente.

Obviamente há aqueles que optam pelo caminho das bestas, pois são verdadeiras bestas, pessoas que vivem buscando problemas.

Na maioria das vezes, a inimizade e implicância não valem a pena. Poupe a violência para quando ela for de fato necessária, para a autodefesa. Não desperdice sua vida em implicâncias gratuitas. Viva e deixe os outros viverem.

Não é preciso nenhuma cartilha listando todas as coisas que você não deveria fazer contra outras pessoas. Não é preciso uma lista de "ismos" que você deve evitar. Basta saber isto: viva sua vida e deixe os outros viverem a delas.

É curioso como a implicância afeta até mesmo as relações supostamente mais pacíficas como as amizades. Existem amigos que passam do ponto ao provocar uns aos outros. Nunca sabem elogiar ou conversar amenidades, antes preferem ficar em um ciclo de insultos velados e tentativas de tirar o outro do sério ou encontrar algo para debochar de forma repetida, o chamado bullying.

Muitas pessoas acabam se rendendo a este tipo de relacionamento porque temem ser rejeitadas, ser consideradas chatas, que "não sabe brincar", ou porque também querem ter o direito de provocar os outros, aceitando as regras do jogo. O fato é que quem se comporta assim ainda não chegou à maturidade.

Implicâncias são inúteis. Elas não têm realmente um propósito no estabelecimento das relações. Elas não são mais eficientes em estreitar os laços do que demonstrações pacíficas de afeto. Muitas vezes são apenas o reflexo de uma personalidade ácida que não é capaz de tecer um elogio ou ter um sentimento de puro bem-querer, sempre misturando a sua simpatia com uma obscura antipatia, um desejo de causar incômodo.

Relações assim não duram. Pessoas implicantes vão passar a vida trocando de amizades, sugando vampirescamente as pessoas e jogando fora para buscar sangue novo. O frenemy é a galinha que, em vez que pacificamente comer ao lado das outras, fica bicando as vizinhas e no fim das contas nem come o suficiente, nem desenvolve uma boa relação no galinheiro. 

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