Um homem construiu sua casa em uma terra árida na beira de uma estrada. Era um lugar deserto, com pouca vegetação, castigado pelo sol, mas foi onde ele escolheu viver.
Certo dia, enquanto comia uma laranja (compada na feira a alguns quilômetros dali), ele jogou as sementes na terra do lado da casa e, após algumas semanas, nasceu um broto. O homem ficou satisfeito em ver que logo teria um pé de laranja fazendo sombra e dando frutos, mas não se deu ao trabalho de cuidar da planta. Ela nascera ao acaso e cresceria por conta da sorte.
A plantinha bebia a água que raramente a chuva lhe dava, nutria-se da maneira que conseguia naquela terra seca e dura. Cresceu lentamente e tornou-se uma árvore de galhos ressequidos pelo sol. Quando enfim deu seus primeiros frutos, o homem voltou a interessar-se pela planta, indo colher as laranjas maduras.
Satisfeito em não precisar mais comprar laranjas na cidade, o homem sentou-se na calçada e descascou uma laranja da sua planta. Pôs um gomo na boca e mastigou com vontade, mas logo cuspiu o bagaço, jogou a laranja no chão e xingou a planta. O fruto era amargo, azedo, impossível de se consumir. Ele amaldiçoou a planta por ser inútil para ele, por dar frutos intragáveis.
A planta, coitada, não podia falar para se defender. Se pudesse, ela explicaria que não foi capaz de dar frutos doces e deliciosos porque não recebeu a devida nutrição. O homem não regou a planta, não adubou, deixou-a crescer ao deus-dará e, mesmo assim, achava-se no direito de cobrar dela um fruto doce.
Assim são os pais displicentes que não nutrem seus filhos com o mínimo de afeto e os castigam com o sol ardente da violência e do descaso. Na velhice, estes pais se vêem tomados pela carência e querem exigir destes filhos o afeto que nunca lhes deram.
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