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My Life, a saga pessoal do perdão

Michael Keaton and Nicole Kidman; My Life (1993)

Assisti esse filme nos anos 90, ainda na época da fita k-7 (lembranças de um véio). Lembro que chorei copiosamente e o filme ficou marcado em mim para sempre. Agora, muitos anos depois, pude revê-lo e conferir se continuava tão impactante.

Protagonizado por Michael Keaton e Nicole Kidman no auge de suas carreiras, My Life (1993) conta a história de Bob, um homem amargo e que descobre ter uma doença terminal. Ele resolve gravar um vídeo sobre a própria vida para deixar de legado ao filho que ainda irá nascer. Neste processo de coletar memórias, ele acaba fazendo uma jornada pelo passado que havia esquecido, descobrindo as causas de antigas mágoas.

Existe um personagem que tem grande importância nessa jornada de autoconhecimento, o terapeuta holístico Mr. Ho. Como Bob já esgotou todas as opções de tratamentos médicos convencionais, ele aceita recorrer a um terapeuta holístico, mesmo que continue cético. Em um rápido exame Mr. Ho consegue tocar em algo que perturbou bastante Bob. Ele diz: “Você tem uma raiva muito profunda e antiga no coração… Seu coração está clamando: Perdoe!”.

Só então Bob começa a se lembrar de momentos da infância que ele havia reprimido. Quando criança, ele queria muito ir ao circo, mas os pais estavam sempre ocupados trabalhando, o que gerou uma mágoa para a vida toda. Bom, foi só esse detalhe que me decepcionou nessa segunda vez que assisti.

Eu lembrava que o personagem guardava uma mágoa muito grande gerada na infância, mas não lembrava que era algo tão banal como “ah meus pais nunca me levaram ao circo”. Eles não eram pais agressivos, ao contrário, eram afetuosos, mas de toda forma esse foi um trauma que o fez se tornar um adulto amargo ao ponto de adoecer mortalmente. 

Mas ok, de toda forma o filme desenvolve uma bela saga de libertação pessoal que se dá em duas vias. Primeiro Bob aprende a perdoar, um gesto que o liberta de seu constante sentimento de raiva, mas também aprende a aceitar a morte. À medida que a doença avança, ele vai se tornando mais resignado, até que entrega-se à morte com serenidade.

Isto é simbolizado em uma cena marcante. Logo no começo do filme, ele visita um parque para andar em uma montanha russa, algo que não fazia desde criança. Fazia parte do seu processo de revisitar o passado. Tenso e com medo, ele mantém as mãos firmes no carrinho, enquanto as outras pessoas estão se divertido sem receio, soltando os braços no ar.

Na cena final, quando ele está perdendo a consciência, tem uma visão em que está subindo em uma montanha russa, uma fascinante luz o espera adiante. Desta vez ele não tem mais medo e levanta os braços, sorrindo e se deixando levar. Sua experiência de aceitação da morte é a libertação final.

Então sim, após tantos anos, ao rever o filme continuei encantado com ele. Os anos 90 produziram uma bela safra de dramas com histórias de vida, coisas simples até, e com uma forte mensagem. De bônus, a trilha sonora da dupla John Barry e Jeff Barry é igualmente marcante.

Michael Keaton; My Life (1993)

Michael Keaton; My Life (1993)

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