Não é preciso acreditar em religião para constatar um fato: as religiões possuem arquétipos que fazem parte da consciência coletiva. Você pode não acreditar em deuses, santos ou profetas, mas ainda pode captar neles uma representação simbólica. Os personagens sagrados englobam conceitos que as pessoas podem perceber intuitivamente.
Os conceitos masculino e feminino, por exemplo, não se resumem a sexo biológico, antes se tornaram arquétipos universais a ponto de transcenderem o humano e ganharem representação em seres divinos. Naturalmente este é o caso da Virgem Maria.
Para o cristianismo, Maria foi uma pessoa real, ou melhor, É uma pessoa real, uma santa que hoje vive no reino celestial. Nem os católicos nem os protestantes a consideram uma deusa, uma vez que o cristianismo é monoteísta. De toda forma, ela é uma humana especial e transcendente.
Mesmo quem não é cristão e não reconhece o aspecto sagrado de Maria, pode reconhecer seu aspecto heroico. Como uma heroína, ela possui atributos especiais, virtudes que fazem dela, portanto, um arquétipo representando o feminino ideal.
Maria representa a figura materna perfeita, dotada de compaixão por todos os seus filhos, no caso, toda a humanidade, uma vez que, sendo mãe de Jesus, o "filho do Homem", ela é simbolicamente a mãe de todos. Paradoxalmente, embora tendo gerado um filho, ela é virgem, pois a virgindade desde tempos imemoriais é associada à pureza de espírito.
Na iconografia cristã, Maria costuma ser representada com uma túnica azul e branca, em uma tela de fundo azul, pois representa o céu. Ela pode ter um halo envolvendo a cabeça, o que enfatiza seu aspecto solar, luminoso. Suas mãos e rosto apontados para baixo, mostram sua atenção voltada para a humanidade. Ela está no Céu, mas olha para a Terra.
Em muito casos, sua túnica é feita de uma peça azul e outra vermelha, o que faz dela uma mediadora entre o céu (azul) e a humanidade (vermelho, o sangue humano). O vermelho, quando usado em Maria, pode representar o amor sacrificial, o dom da vida, o seu aspecto humano, etc. Este tipo de imagem é chamado Sagrado Coração de Maria.
Por outro lado, o misticismo moderno desenvolveu um curioso arquétipo que contrasta com Maria, ao mesmo tempo em que simbolicamente a complementa: Babalon.
Babalon pode ser entendida como uma perversão de Maria, uma blasfêmia de fato. Ela tem inspiração na Mulher que cavalga a Besta, descrita no livro do Apocalipse, a Grande Prostituta. Logo, numa interpretação cristã, ela não é coisa boa e nem algo a ser reverenciado. É como uma versão feminina do Diabo.
A despeito, porém, da questão religiosa, Babalon pode ser entendida como uma representação simbólica de certos aspectos do arquétipo feminino, aspectos que contrastam com aqueles representados por Maria.
Enquanto Maria é virgem, Babalon é o desejo sexual; Maria é celestial e Babalon representa o mundano, a vida terrestre com suas paixões; Maria é o amor abnegado e voltado para a humanidade, enquanto Babalon é o amor-próprio individualista. Babalon é representada por um vermelho intenso, que simboliza o sexo, a rebeldia, o hedonismo. Maria é solar, Babalon é lunar.
Recentemente encontrei um curioso exemplo da estética Babalon no clipe Hurricane, da banda Cannons, em que a vocalista Michelle Joy veste uma roupa vermelha, entrando no palco com uma capa vermelha, performando uma demonstração de poderes sobrenaturais em uma espécie de culto. Pode ter sido uma referência intencional ou não, mas o fato é que a caracterização lembra bastante a imagem de uma Babalon.
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