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Moonfall, uma catástrofe de filme

Moonfall (2022)

O sci-fi é um gênero que facilmente pode se tornar galhofa, tosco, inverossímil, afinal não é fácil imaginar fenômenos e tecnologias que desafiam a nossa ciência atual. Todavia, a fórmula para uma boa história vai muito além da verossimilhança e da acurácia científica. 

Um bom exemplo é The Wandering Earth¹, que explora a absurda ideia de transformar a Terra em um foguete planetário, usando propulsores que a empurram para fora do sistema solar. Há diversos problemas científicos neste conceito, todavia a história é legal, é uma aventura sci-fi e basta você ligar sua suspensão de descrença para curtir a viagem.

Moonfall (2022) também beira o absurdo e possui uma premissa interessante: existe uma teoria conspiratória de que a Lua é uma megaestrutura alienígena, como uma Esfera de Dyson, e tal teoria acaba se provando real no pior momento, quando a Lua, atacada por uma entidade misteriosa, entra em rota de colisão com a Terra.

A ideia é interessante para uma grande aventura espacial. Assim como no clássico Armageddon (1998), um grupo improvisado de astronautas é enviado ao espaço para salvar a Terra. Eles literalmente entram na Lua e se deparam com um gigantesco maquinário alimentado por uma estrela anã branca que funciona como o núcleo de energia desta estrutura.

É revelado que a Lua era uma espécie de arca de Noé criada por uma antiga civilização que entrou em colapso, atacada por uma IA que se rebelou. A Terra foi semeada por esta arca de Noé e assim surgiu a vida e os humanos. 

A IA maligna se manifesta como um enxame de nano robôs, resultando em um monstro genérico de CGI, uma fumaça ambulante fruto de um trabalho preguiçoso de design. A missão dos astronautas é destruir esta coisa na esperança que a Lua volte à sua posição normal.

No clímax do filme, a Lua chega bem perto da Terra, tipo beeem perto, quase raspando o topo das montanhas. Vemos alguns tsunamis e o efeito gravitacional fazendo os pedaços das montanhas e prédios flutuarem, mas a verdade é que, se um corpo do tamanho da Lua chegasse assim tão próximo, a Terra entraria em um novo período hadeano.

A proximidade da Lua destruiria todo o delicado equilíbrio do nosso planeta. Além de tsunamis e tornados sem precedentes, haveria uma perturbação do manto e do núcleo, causando erupções vulcânicas colossais, deslocamento das placas tectônicas, a temperatura da atmosfera se tornaria insuportável, o escudo magnético seria abalado, os polos mudariam de posição, a radiação solar bombardearia o planeta...

E tem mais um detalhe. No final, a Lua, ou melhor, a megaestrutura alienígena, se afasta da Terra, voltando à sua posição padrão. Só que, depois de um encontro tão próximo com a Lua, a Terra teria seu eixo e sua órbita alterados, o que traria toda uma série de novos problemas.

A verdade é que isto não importa. Júlio Verne imaginou um canhão disparando um projétil em direção à Lua com um humano dentro. Hoje este conceito parece claramente absurdo e cientificamente problemático, mas continua sendo uma história interessante. É ok contar uma história doida de sci-fi.  

O problema de Moonfall é outro: a execução da premissa. O filme parece bem amador e mal acabado. O CGI é genérico e desinteressante, a música, fotografia, edição, é tudo insosso, o roteiro é cheio de clichês, sem contar as explicações desnecessárias que subestimam a inteligência do público e mesmo dos personagens. 

Por exemplo, quando Houseman encontra o astronauta Brian, pergunta se ele sabe o que é uma Esfera de Dyson. É óbvio que ele sabe e é óbvio que o próprio Houseman saberia que qualquer astronauta é familiar ao conceito. Este diálogo só aconteceu para explicar o conceito ao público, o que poderia ter sido feito de outras maneiras.

Pra completar toda a combinação de elementos mal trabalhados, tem a atuação de todo o elenco, incluindo a Halle Berry e o John Bradley (que ficou famoso interpretando o Samwell de Game of Thrones). A atuação de todos eles é esquisita, como se estivessem entediados ou até arrependidos de trabalhar com um roteiro tão besta.   

O curioso é que Moonfall teve roteiro e direção de Roland Emmerich, o mesmo cara responsável pelos dois Independence Day (1996-2016), por Stargate (1994), The Day After Tomorrow (2004) e 2012 (2009). Emmerich tem um grande currículo de filmes-catástrofe, alguns bem galhofa, como 2012, mas todos divertidos de assistir e com muito CGI, muita destruição, a fúria da natureza, etc. 

Será que Emmerich perdeu a magia? Talvez seja um problema de orçamento (não, não foi: ele custou quase 150 milhões de dólares). Talvez tenha sido o "efeito 2020" que prejudicou toda a produção. Talvez uma combinação de vários fatores que resultaram nesta tempestade perfeita de um filme completamente ruim.

Moonfall poderia ter sido épico, mas infelizmente vai ficar marcado como o pior filme-catástrofe da carreira de Roland Emmerich, uma catástrofe de filme.

Notas:


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