No século XIX Júlio Verne imaginou uma viagem à Lua e naturalmente a ideia na época parecia tão futurista quanto as histórias atuais de viagem interestelar. Sequer existia avião, quanto mais um conceito de foguete. A solução de Verne foi propor um canhão gigantesco que dispararia uma bala-cápsula com um humano dentro.
No início do século XX a humanidade experimentou grandes avanços tecnológicos: aviões, foguetes, automóveis, televisão e a rede elétrica que tornou a vida muito mais prática. Mesmo assim, quando nos anos 60 o governo dos EUA falou em levar o homem à Lua, parecia ser um projeto extremamente ambicioso, mas a geração pós-guerra sonhava alto.
Agora, meio século depois, chegou a vez de estabelecer um novo alvo: Marte. Nos anos 60, a motivação da viagem à Lua foi claramente política. O protagonista da empreitada foi o governo americano que usou este projeto como um gesto simbólico de superioridade tecnológica e econômica sobre a União Soviética.
Nas últimas décadas o governo americano continuou a expandir seu programa espacial, porém de forma mais "modesta" e mais voltada à exploração científica propriamente dita. Estamos na era das sondas espaciais e Marte se tornou o primeiro planeta extraterrestre a ter sondas literalmente caminhando em seu solo.
Embora a NASA pretenda voltar à Lua e também levar astronautas a Marte, desta vez o protagonismo deste sonho futurista está na iniciativa privada, particularmente nas mãos de um empresário: Elon Musk.
Musk fundou uma empresa privada de foguetes espaciais, a SpaceX, que começou valendo 100 milhões e hoje vale 100 bilhões. Ele acumula sucesso após sucesso. Inovou ao criar os primeiros foguetes reutilizáveis e que conseguem pousar em pé por conta própria no retorno à Terra. Como Colombo, Musk está fazendo a magia de equilibrar um ovo em pé.
Em vez de expressar motivações políticas, Musk tem um argumento mais nobre. Ele fala que a humanidade precisa se tornar interplanetária para que possa sobreviver a longo prazo. É uma consequência lógica da evolução de uma civilização. A Terra é nosso berço, mas, se ficarmos limitados à Terra, corremos o risco de um súbita extinção dentro de milhares ou milhões de anos, pois, caso aconteça algum cataclismo global, precisamos de uma rota de fuga.
A proposta de Musk é fazer de Marte esta rota de fuga, um planeta reserva, um plano B para os terráqueos. Mas não só isso. Dado este primeiro passo de colonizar um planeta vizinho, a expansão poderá seguir indefinidamente por milhares, milhões, até bilhões de anos, de modo que num futuro muito, muuuito distante, estaremos presentes em várias partes da galáxia. É um projeto surreal, mas em algum momento precisamos dar os primeiros passos.
A curto prazo, o que de fato pode acontecer? Pela maneira que o Elon Musk costuma tocar no assunto, até parece que em algumas décadas qualquer pessoa que juntar uma graninha vai poder passar umas férias em um resort em Marte. Bom, Elon Musk é um empresário e está vendendo o peixe dele, mas a verdade é que coisas como turismo em Marte só serão viáveis mesmo séculos adiante.
Nas condições atuais ou das próximas décadas, a viagem humana a Marte será um negócio para poucos e não será divertido. Não é nada atraente para turistas ter que passar vários meses confinado em um foguete e, chegando a Marte, a experiência se resume a ficar dentro de uma base e talvez sair para dar uma volta de dez metros no solo marciano usando uma complicada roupa de astronauta.
Não tem como isto se tornar um negócio que atraia clientes o suficiente para ser viável. Alguns aventureiros e excêntricos podem estar dispostos, mas na prática viagens humanas serão raras, pois o custo-benefício realmente não compensa, ainda mais se levarmos em conta o fato de que será mais prático levar robôs ao planeta vermelho. E aí entra novamente o Elon Musk com seu Teslabot.
Isto sim será mais comum: robôs em Marte. As bases marcianas serão habitadas por robôs porque é mais barato, mais prático e menos perigoso para os humanos enviar robôs que funcionarão como extensão de nossos corpos, de nossos olhos, braços e pernas. Se haverá algum turismo espacial, será o turismo remoto e virtual. O turismo do metaverso.
Mesmo sinais de rádio levam alguns minutos entre a Terra e Marte, o que significa que é simplesmente inviável estabelecer algum tipo de comunicação em tempo real. A internet interplanetária não vai rolar tão cedo, pois este delay vai inviabilizar uma troca eficiente de dados.
Por outro lado, os robôs em Marte vão poder gravar tudo, percorrer o planeta em vários veículos, drones e satélites, mapeando toda a superfície. Estes dados permitirão criar uma réplica virtual de Marte no metaverso e aí sim será possível o turismo.
No metaverso as pessoas vão caminhar em Marte sem precisar de roupas de astronauta, sem passar meses viajando em um foguete, sem arriscar a saúde no banho de radiação cósmica. Será, de fato, mais divertido do que uma viagem real ao planeta vermelho.
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