Os primeiros computadores eram enormes e caríssimos, até que surgiram versões mais compactas que cabiam em cima de um birô (daí o nome desktop). Não à toa este computador ganhou o apelido de PC (Personal Computer), indicando que finalmente o aparelho estava se tornando comum, quase tanto quanto uma televisão.
Primeiro o PC foi se integrando aos ambientes de trabalho, o que foi habituando a população ao seu uso. Depois se tornou também um brinquedo, algo para se entreter em casa e, por fim, virou uma ferramenta de comunicação e acesso instantâneo por meio da internet.
Na era dos PCs, usar o computador era um ritual. Você tinha que ir para a mesa onde ficava sentado por alguns minutos ou horas diante do monitor, usando o aparelho para trabalho, estudo, diversão e conversar com as pessoas.
O PC se tornou tão comum quanto um eletrodoméstico nas casas da classe média pra cima. Nas famílias pobres, porém, ele nunca chegou a ser acessível. Para preencher estas lacunas surgiram as lan houses, onde as pessoas podiam usar emprestado um PC.
O fato é que, embora relativamente acessível, o PC ainda tinha uma limitação, pois não era portátil, não dava pra levar no bolso. Os primeiros esforços para transformar o computador em um instrumento portátil foram o notebook (também chamado laptop, pois você podia usar apoiado em seu colo) e o tablet, mas ainda não era o ideal. Ainda eram aparelhos grandes demais e não era prático ficar andando por aí com um notebook ou mesmo um tablet. Tais aparelhos serviam para certas conveniências, mas não para o dia a dia.
Enfim veio o smartphone e este aparelhinho conseguiu integrar definitivamente o computador na sociedade, mesmo nas classes mais baixas. Existem smartphones de luxo, mas também versões mais acessíveis, bem mais baratas que um PC, de modo que é comum haver smartphones em famílias de baixa renda. Ele conseguiu entrar nas casas onde o PC falhou.
O smartphone pode ser levado no bolso, pode ficar constantemente ligado, servindo como telefone e como uma versão básica de PC. Com ele, não há mais necessidade do ritual de sentar diante de uma mesa e ficar limitado àquele espaço para poder usar um computador. Agora você usa o computador diversas vezes ao dia, cada vez que saca ele do bolso pra se distrair enquanto espera em uma fila, ou até quando fica assistindo vídeos antes de dormir.
A promessa agora é que entraremos em uma nova fase da vida digital que é o metaverso. Curiosamente, estamos passando pelas mesmas etapas do computador. A experiência completa com o metaverso requer os óculos de realidade virtual, a VR, acontece que esse troço hoje em dia ainda é um trambolho grande e pesado.
Os óculos VR não são uma coisa que você possa levar no bolso, muito menos usar enquanto anda na rua, de modo que o momento de experiência com o metaverso é parecido com o antigo ritual de sentar diante de uma mesa com o computador. Você só usa o VR em casa, e usa por pouco tempo, pois ele é cansativo, é desconfortável pelo tamanho e peso.
O metaverso só terá sua versão da era dos smartphones quando os óculos se tornarem realmente portáteis, semelhantes a óculos normais. A Google já vislumbrava este futuro em 2006, quando começou o projeto do Google Glass, mas ainda era muito cedo e o projeto foi descontinuado. Obviamente, a busca por óculos de VR compactos continua, mas levará um tempo até chegarmos neste nível.
O fato é que a transição está começando e já existem no mercado smartglasses que não são muito diferentes de óculos normais, como o Razer Anzu e o Echo Frames. Naturalmente, ainda contêm recursos bem limitados e se resumem a servir como substitutos para os fones de ouvido e controle das funções de aplicativos do celular.
A Apple promete repetir a revolução causada pelo iPhone, agora com os Apple Glasses, que devem ser lançados em 2023. O caminho para a era dos aparelhos vestíveis já está traçado. Os óculos vão substituir o smartphone, ou pelo menos acabar com a necessidade de tirar o smartphone do bolso.
Em algum momento os óculos de VR se tornarão práticos e acessíveis. Eles serão os substitutos dos smartphones e tornarão o computador e a internet onipresentes, pois, enquanto o celular você mantém no bolso e usa uma vez ou outra, os óculos ficarão a todo momento no seu rosto, mesclando o mundo físico ao digital.
Também será preciso uma evolução no acesso à internet. Os smartphones já fizeram isto. No PC, era preciso ter uma linha telefônica para acessar a internet, depois veio a assinatura da internet banda larga. Era um custo a mais no orçamento das famílias, não era pra todo mundo. No smartphone, a internet se tornou bem mais barata com os planos das operadoras de celular.
Obviamente a velocidade da rede e a quantidade de dados costuma ser bem menor do que a banda larga do PC, mas o importante é que hoje até as famílias de baixa renda conseguem acessar a internet. Sem contar que é cada vez mais comum a presença de Wi-Fi gratuito nas cidades.
Para o metaverso realmente emplacar, será necessário, portanto, também uma internet acessível e de banda larga, pois o ambiente virtual do metaverso é pesado, produz muitos dados. Aí entra a internet 5G e possivelmente também o Starlink, que no futuro deve fornecer internet também para os smartglasses.
Satisfeitas estas duas condições (banda larga e óculos VR acessíveis), aí sim teremos o ambiente ideal para o florescimento do metaverso. Assim como o PC na sua era primitiva, o metaverso será primeiro implementado nos ambientes de trabalho, depois se popularizando nas casas e enfim se tornando ubíquo e o carro-chefe da "internet dos corpos", quando você estará constantemente vestindo um computador, no caso os óculos VR.
Esta é uma representação de um vídeo promocional do Meta. Aqui vemos um homem usando um par de óculos de VR aparentemente comuns. |
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