A Pixar começou como uma divisão da Lucasfilm dedicada ao serviço de computação para o cinema. Ela desenvolveu seu próprio computador, o Pixar Image Computer, extremamente potente (para a época) e especializado em softwares gráficos. Em 1996 ela foi comprada por Steve Jobs (por 5 milhões de dólares) e em 2006 pela Disney (por 7,4 bilhões!) tendo Steve Jobs ainda como o maior acionista.
Pois é, a Pixar tem um dom de prosperar e passou pelas mãos de pessoas com o toque de Midas. Primeiro George Lucas, depois Steve Jobs e, quando integrou a Disney, uma poderosa fábrica de dinheiro, a Pixar se tornou uma máquina de grandes produções, virando uma marca consagrada, praticamente um gênero próprio de animação: os "desenhos da Pixel".
E tudo começou com Toy Story (1995), feito em parceria com a Disney. No caso, o studio independente era responsável por toda a animação e a Disney fazia a distribuição comercial. Ambos saíram lucrando.
Sendo um studio especializado em computação gráfica, uma tecnologia nova nos anos 80-90, a Pixar mostrou a que veio produzindo um longa animado 100% fruto de computação, revolucionando o cinema.
Até hoje o primeiro Toy Story impressiona pela qualidade das animações, a fluidez do movimento dos personagens, as texturas e, especialmente, a iluminação. Se tem uma coisa que a animação computadorizada faz melhor do que ninguém é a iluminação e esta é uma tecnologia que tem se aprimorado a cada ano. Tá aí o Ray Tracing de exemplo.
Evolução gráfica de Toy Story de 1995 para 2019. Note-se como aumentou o detalhismo dos fios de cabelo, a iluminação dos olhos, a riqueza das cores... |
Mas falemos de outro aspecto curioso nessa série animada: a vida dos bonecos. Toy Story é um híbrido de fábula e realismo. Enquanto os humanos vivem em seu ordinário mundo real, os bonecos são como seres de fábulas, com consciência e movimentos próprios, mas fingem ser inanimados na presença dos humanos para não assustá-los. Por que, todavia, eles se importam tanto em não assustar os humanos? A resposta é mística.
Não existe uma explicação física para a vida dos bonecos. Não é uma pilha ou qualquer mecanismo que lhes dá consciência e movimento. É um fenômeno sobrenatural, anímico. Bonecos de madeira, de pano ou estruturas de plástico ocas, como o dinossauro, têm igualmente a mesma força vital.
Uma curiosa exceção é o Buzz. Por um lado ele possui o mesmo "fôlego de vida", o ruach bíblico, o espírito, dos outros bonecos, mas se forem removidas as pilhas ele é desligado. Não são as pilhas, porém, que garantem a sua consciência e todos os movimentos do corpo e expressões do rosto. Elas servem para ativar os equipamentos do traje e talvez tenham apenas um efeito psicológico no Buzz.
No quarto e último filme acontece um fenômeno interessante. A criança Bonnie monta um boneco rudimentar na escola, usando um garfo de plástico e massinha, chamando-o de Forky. Assim que o garfo é guardado na bolsa, junto do Woody, ele ganha vida.
Parece que para um boneco ter alma, basta que ele tenha sido criado com intenção de ser boneco. É uma espécie de egrégora, uma entidade criada pela mente humana. Assim, os humanos têm um tipo de poder divino para atribuir vida a estes seres, seja um artesão de bonecos, uma fábrica ou uma criança do maternal.
É por isso que os bonecos se importam tanto com o carinho e atenção dos humanos. Para eles, os humanos são os deuses que os criaram, que lhes deram o espírito anímico. Instintivamente os bonecos sentem uma necessidade de ter o afeto de seus divinos criadores.
Não que tenham uma veneração irrestrita por humanos. Eles reconhecem que certos humanos são maus, como o menino que explodia os bonecos, ou o colecionador que os raptava. O fato é que os bonecos reconheciam que de alguma forma misteriosa eram os humanos que lhes garantiam a alma.
Existe, porém, uma cena que pode elucidar o mistério. Na última cena de toda a série, no final de Toy Story 4, uma nova criatura ganha vida e ela pergunta ao Forky como isso é possível. Forky diz "Eu não sei" e então olha para a câmera que fecha o círculo em torno dele.
Ou seja, aí aconteceu a quebra da quarta parede. Ao olhar para a câmera, a saber, para nós que estamos assistindo, ele assume que está vivendo em uma animação e isto explica a sua existência. Em última instância, seus criadores não são os personagens humanos do filme, mas o studio Pixar.
É por isso que os bonecos se importam tanto com o carinho e atenção dos humanos. Para eles, os humanos são os deuses que os criaram, que lhes deram o espírito anímico. Instintivamente os bonecos sentem uma necessidade de ter o afeto de seus divinos criadores.
Não que tenham uma veneração irrestrita por humanos. Eles reconhecem que certos humanos são maus, como o menino que explodia os bonecos, ou o colecionador que os raptava. O fato é que os bonecos reconheciam que de alguma forma misteriosa eram os humanos que lhes garantiam a alma.
Existe, porém, uma cena que pode elucidar o mistério. Na última cena de toda a série, no final de Toy Story 4, uma nova criatura ganha vida e ela pergunta ao Forky como isso é possível. Forky diz "Eu não sei" e então olha para a câmera que fecha o círculo em torno dele.
Ou seja, aí aconteceu a quebra da quarta parede. Ao olhar para a câmera, a saber, para nós que estamos assistindo, ele assume que está vivendo em uma animação e isto explica a sua existência. Em última instância, seus criadores não são os personagens humanos do filme, mas o studio Pixar.
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