Por décadas a maneira mais fácil e barata de ver filmes e séries em casa era por meio da televisão e, neste caso, de três maneiras: através da TV aberta, da TV por assinatura (conhecida como "TV a cabo") ou alugando nas locadoras. Você também podia comprar as fitas/DVDs, mas aí já era bem mais caro.
A pirataria sempre existiu e há até um curioso exemplo ilustrado numa série. No episódio 4 da oitava temporada de Seinfeld, em 1996, o Kramer tem um amigo que vai ao cinema e fica filmando tudo para depois vender as fitas no mercado negro. É um negócio que existe antes mesmo do DVD ou do torrent.
Quando a internet começou se tornar mais acessível e veloz, o acesso a filmes e séries pirateados se tornou um hábito bem comum e assim se tornaram populares os aplicativos de torrent e alguns sites ganharam fortunas disponibilizando conteúdo, enquanto veiculavam anúncios (ou instalavam vírus, adwares e mineradores de cripto moedas no seu computador).
Eis que de repente a Netflix, uma empresa surgida em 1997 (um ano após aquele episódio de Seinfeld que falei acima), começou a explodir em assinaturas no início da década de 2010 e estabeleceu um novo paradigma, se tornou um fenômeno cultural e muitas pessoas já cancelaram suas assinaturas de TV a cabo para se tornarem clientes fiéis da Netflix.
A fórmula é simples: por meio de uma assinatura mais barata que uma entrada de cinema, você tem acesso irrestrito a um catálogo gigantesco de filmes, séries, documentários, incluindo conteúdo exclusivo produzido pela própria Netflix.
Agora, quando você recomenda alguma coisa para uma pessoa assistir, ela pergunta: "Tem na Netflix?". Netflix se tornou como o Google para buscas ou o Gmail/Outlook para emails. Enquanto o Youtube estabeleceu o streaming de videos feitos pelos próprios usuários, a Netflix normalizou o streaming de produções cinematográficas.
E agora, qual o próximo estágio evolutivo deste negócio? Chegamos então a um dos concorrentes da Netflix, o Amazon Prime. Este serviço já existe há muitos anos e consiste num pacote de benefícios diversos que vão além do streaming. Amazon Prime dá acesso a frete grátis em compras pela Amazon, também disponibiliza uma biblioteca de ebooks, música, games, etc, etc. O streaming de vídeos, porém, foi ganhando força nos últimos anos e se tornando até capaz de concorrer à altura com a Netflix.
Eis que agora o Prime veio com uma novidade interessante, o Prime Channels. Funciona assim: se você assina o Prime Video, tem acesso à biblioteca do site e tal, mas também será possível assinar canais específicos, pagando um adicional pelo pacote, um modelo bem parecido com o da velha TV a cabo, inclusive com alguns shows transmitidos ao vivo, assim como na velha televisão.
A assinatura do Prime é na verdade bem barata, apenas 9,90 aqui no Brasil, o que custa a metade do valor do plano mais básico da Netflix. Agora com o Channels, você pode se dar por satisfeito com o catálogo do Prime (que já é bem vasto) ou pode complementar com canais que tenham algum conteúdo de sua preferência.
O serviço já vinha funcionando nos EUA há uns meses e chegou no Brasil agora no dia 1 de Setembro. Por enquanto oferece os canais Starzplay, Paramount+, MGM, Noggin e Looke, cada qual com seus valores de assinatura que vão de 9,50 a 16,90. Para quem estiver curioso, é possível assistir a cada um destes canais por 7 dias grátis, um free trial (desde que, obviamente, você seja assinante do plano padrão do Prime).
Fazendo as contas, se você for fominha de conteúdo e assinar os 5 canais em um mês, vai gastar cerca de 90 Reais. Você pode ir revezando, assinando cada canal por apenas um mês, assim gastando cerca de 20-25 Reais, o que acaba sendo equivalente à assinatura mensal básica da Netflix. Assim, assinar o Prime + um canal extra, parece ser interessante, principalmente se houver conteúdos do seu interesse no canal escolhido.
A grande esperança dos assinantes brasileiros do Prime com certeza é a chegada do HBO nesse pacote. Fãs da HBO então terão a possibilidade de consumir conteúdo desse canal sem precisar assinar TV a cabo ou o futuro serviço HBO Max.
Bom, como a HBO vai diferenciar seu serviço de assinatura nativo e o disponível no Prime é algo que quero saber. Será que o HBO Max dará acesso a uma biblioteca mais ampla, enquanto o HBO via Prime será um plano mais básico e barato? Veremos.
O fato é que, com o lançamento do Prime Channels, a Amazon está estabelecendo um novo modelo que irá superar o da Netflix: o modelo de agregador de canais, como era na TV a cabo. Depois da explosão da Netflix, foram surgindo dezenas de sites de streaming de studios e canais específicos. Hoje cada studio quer ter o seu: MGM, ABC, Paramount, Sony, CBS (dona de toda a franquia Star Trek, que é o carro chefe do seu canal), etc, etc.
Todos agora estão online, de modo que a distribuição de conteúdo se tornou uma babel. Isso na verdade é ótimo, porque já não existe monopólio da Netflix e o público tem disponível uma variedade de ofertas para todos os gostos.
O que o Prime Channels vai fazer é facilitar para você montar um pacote personalizado de canais do seu interesse. Esse será o modelo do futuro. Agora começou apenas com 5 canais aqui no Brasil, mas daqui a uns anos esse número vai crescer para dezenas, criando um ecossistema de canais e olha, é capaz até da Netflix se render e também oferecer uma assinatura via Prime.
A Apple, que não é boba, também já tem o seu Apple TV Channels, mas, por ser mais nichada e voltada a usuários de aparelhos da Apple, não terá um público tão grande quanto o Prime.
É a Amazon fazendo o que sabe: ser uma grande praça aglomerando diversas lojas, livrarias e agora canais de streaming.
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