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Transformers, uma das mais produtivas e lucrativas franquias de todos os tempos

Optimus Prime

Hoje em dia é bem comum uma franquia de filmes expandir seus negócios produzindo brinquedos, action figures, funkos, etc. Transformers foi o caso inverso: uma linha de bonecos acabou se tornando uma vasta franquia de filmes e animações.

A Hasbro, fundada em 1923, é a terceira maior indústria de brinquedos do mundo, atrás apenas da Lego e da Matel. Entre seus produtos mais famosos está o jogo de tabuleiro Monopoly, um sucesso atemporal lançado em 1935, e os action figures G.I. Joe, que existem desde a década de 60.

Foi outra linha de action figures que conseguiu ir bem mais longe. Os bonequinhos Transformers foram primeiro lançados em 1984, produzidos conjuntamente pela Hasbro e a japonesa Takara. O conceito destes bonecos era fantástico. Não eram apenas figuras humanoides com articulações nos braços e pernas, mas intrincadas estruturas que se transformavam, robôs que viravam carros e vice-versa.

Optimus Prime, Generation 1 (1984-1990)
Esse bonequinho da primeira geração hoje custa uns 2 mil Reais para colecionadores.

A Takara iniciou este conceito em 1980 com a linha Diaclone, seguida pelos Car-Robots em 1982. Os Transformes foram uma evolução destes antecessores, ganhando um visual melhorado e um lore mais elaborado. Agora havia dois grupos, os heróis Autobots e os vilões Decepticons.

Quando a norte-americana Hasbro comprou os direitos para produzir os bonecos no ocidente, acrescentou uma história para os personagens, feita em parceria com a Marvel Comics. Foi o roteirista Bob Budiansky o grande responsável pela história original dos robôs alienígenas.

Ao longo das décadas, dezenas de versões dos Transformers foram lançadas, incluindo os Beast Wars, na década de 90, que eram robôs que se transformavam em feras.

Além dos brinquedos, os Transformers renderam diversas séries em quadrinhos. A primeira foi lançada entre 1984 e 1991 pela Marvel. Foi uma campanha intensa de promoção. No mesmo ano de 1984, quando os bonecos foram lançados, saiu a primeira revista e também a série animada The Transformers, que durou de 1984 a 1987 e contou também com um filme em 1986, The Transformers: The Movie. Em 1985 saiu o primeiro video game.

The Transformers (1984-1987)

Depois da série animada original vieram:

Transformers: The Headmasters (1987-1988)
Transformers: Super-God Masterforce (1988-1989)
Transformers: Victory (1989)
O OVA Transformers: Zone (1990)
Beast Wars: Transformers (1996-1999)
Beast Wars II (1998-1999)
O filme Beast Wars II: Lio Convoy's Close Call! (1998)
Beast Wars Neo (1999)
Beast Machines (1999-2000)
Transformers: Robots in Disguise (2000)
Transformers: Armada (2002-2003)
Transformers: Energon (2004)
Transformers: Cybertron (2005)
Transformers: Animated (2007-2009)
Transformers: Cyber Missions (2010)
Transformers: Prime (2010-2013)
Transformers: Rescue Bots (2012-2016)
O OVA Transformers Go! (2013-2014)
O filme Transformers Prime Beast Hunters: Predacons Rising (2013)
Transformers: Robots in Disguise (2015-2017)
Transformers: Combiner Wars (2016)
Transformers: Titans Return (2017-2018)
Transformers: Power of the Primes (2018)
Transformers: Cyberverse (2018-2020)
Transformers: Rescue Bots Academy (2019-ainda em curso)
Transformers: War For Cybertron Trilogy (2020-ainda em curso)

The Transformers (1984)

As revistas em quadrinhos:

Pela Marvel:
The Transformers (1984-1991)
The Transformers, UK Version (1984-1992)
The Transformers: The Movie (1986)
Transformers Universe (1986)
G.I. Joe and The Transformers (1987)
The Transformers: Headmasters (1987-1988)
Transformers Generation 2 (1993-1994)
New Avengers/Transformers (2007)

Pela Dreamwave:
Transformers: Generation 1 (2002)
Transformers: The War Within (2002-2003)
Transformers: More Than Meets the Eye (2003)
Transformers: Micromasters (2004)
Transformers: Armada (2002–2003)
Transformers: Energon (2003–2004)
Transformers Armada: More Than Meets the Eye (2004)
Transformers/G.I. Joe: Divided Front (2004)
Transformers Summer Special (2004)
The Beast Within (2004)

Pela IDW (2005-2018):
The Transformers: Infiltration 
The Transformers: Stormbringer 
The Transformers: Spotlight 
The Transformers: Escalation 
The Transformers: Megatron Origin 
The Transformers: Devastation 
The Transformers: All Hail Megatron 
The Transformers: Maximum Dinobots 
The Transformers: Continuum 
The Transformers (vol. 1)
The Transformers: Bumblebee
The Transformers: Last Stand of the Wreckers
The Transformers: Ironhide
The Transformers: Drift
The Transformers: Infestation
The Transformers: Heart of Darkness
The Transformers: The Death of Optimus Prime
The Transformers: More than Meets the Eye
The Transformers: Autocracy
The Transformers: Robots in Disguise/ The Transformers/ Transformers (vol. 2)
The Transformers: Infestation 2
The Transformers: Monstrosity
The Transformers: Windblade (vol. 1)
The Transformers: Primacy
The Transformers: Drift: Empire of Stone
The Transformers: Windblade (vol. 2)
The Transformers: Combiner Hunters
The Transformers: Redemption
The Transformers: Sins of the Wreckers
The Transformers: Punishment
Transformers: Till All are One
Revolution
Optimus Prime
Transformers: Lost Light
Revolutionaries
Transformers Annual 2017
Transformers: Salvation
First Strike
Rom vs. Transformers: Shining Armor
Scarlett's Strike Force
Transformers vs. Visionaries
Transformers: Unicron
Transformers: Requiem of the Wreckers
Transformers: Historia

E ainda teve alguns títulos aleatórios lançados por outras editoras. Ufa!!!

The Transformers (1985)

E não para por aí. Ainda tem os video games, começando com The Transformers (1985), lançado para o PC Commodore 64. Em seguida vieram:

Transformers: The Battle to Save the Earth (1986) - Commodore 64
The Transformers: Mystery of Convoy (1986) - Famicom
Transformers: The Headmasters (1987) - Famicom Disk System
Beast Wars: Transformers (1997) - Playstation, Windows, Mac
Kettō Transformers Beast Wars: Beast Senshi Saikyō Ketteisen (1999) - Game Boy
Transformers: Beast Wars Transmetals (1999) - Playstation, Nintendo 64
DreamMix TV World Fighters (2003) - GameCube, Playstation 2
Transformers (2003) - Playstation 2
Transformers (2004) - Playstation 2
Transformers: The Game (2007) - Windows, PlayStation 2-3, PlayStation Portable, Xbox 360, Wii
Transformers Autobots (2007) - Nintendo DS
Transformers: The Game (2007) - Mobile phone
Transformers G1: Awakening (2008) - Mobile phone, Android, Blackbberry, etc.
Transformers Animated: The Game (2008) - Nintendo DS
Transformers: Revenge of the Fallen (2009) - Windows, PlayStation 2-3, PlayStation Portable, Xbox 360, Wii, Mobile phone
Transformers Revenge of the Fallen: Autobots (2009) - Nintendo DS
Transformers: War for Cybertron (2010) - Windows, Playstation 3, Xbox 360
Transformers: Cybertron Adventures (2010) - Wii
Transformers: War for Cybertron Autobots (2010) - Nintendo DS
Transformers: War for Cybertron Decepticons (2010) - Nintendo DS)
Transformers: Dark of the Moon (2011) - Playstation 3, Xbox 360, Mobile phone, iOS
Transformers Dark of the Moon: Autobots (2011) - Nintendo DS
Transformers Dark of the Moon: Stealth Force Edition (2011) - Nintendo 3DS, Wii
Transformers: Prime – The Game (2012) - Nintendo DS e 3DS, Wii, Wii U
Transformers: Fall of Cybertron (2012) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360
Transformers Universe (2013) Windows
Transformers: Human Alliance (2013) - Arcade
Transformers: Rise of the Dark Spark (2014) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360-One, Nintendo 3DS, Wii U
Transformers: Devastation (2015) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360-One
Transformers: Forged to Fight (2017) - iOS, Android

Ah e ainda teve a tentativa de lançar um MMO com o Transformers Online, lançado em 2012. O projeto, porém, seguiu abandonado até ser definitivamente cancelado em 2020.

Por fim, está previsto para este mês de Outubro de 2020 o lançamento de Transformers: Battlegrounds, para Nintendo Switch, Xbox One, Playstation 4 e Windows.

Transformers: Ghosts of Yesterday (2007)

E se eu disser que também foram lançados livros expandindo o universo Transformers? Vou listar apenas alguns aqui, porque minha mão já está doendo:

Dinobots Strike Back (1985)
Autobots' Lightning Strike (1985)
The Invisibility Factor (1986) 
The New World (2007)
Transformers: Ghosts of Yesterday (2007)
Transformers: The Veiled Threat (2009)
Transformers: Exodus (2010)
Transformers: Exiles (2011)
Transformers: Dark of the Moon: The Junior Novel (2011)
Transformers: The Covenant of Primus (2013)
Transformers: Retribution (2014)

E tem muito mais de onde estes vieram.

Michael Bay, Transformers (2007)

Pois é, o universo Transformers é bem maior do que a gente imaginava. Tem um canon tão vasto quanto um Star Wars ou Star Trek e provavelmente fez mais dinheiro que estas franquias, se somarmos todos os seus produtos, filmes, jogos e brinquedos. Só os filmes do Michael Bay renderam quase 5 bilhões.

Enfim, falemos dos filmes. A franquia para o cinema foi a grande mina de ouro do diretor/produtor Michael Bay, o cara das explosões. Michael Bay e Transformers foram feitos um para o outro e foi ali que ele teve o ambiente ideal para aprimorar e consagrar sua assinatura: muitas cenas com explosões, destruição do cenário, armas e tecnologia.

Megan Fox, Transformers (2007)

Megan Fox, Transformers (2007)

Megan Fox, Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

A essa fórmula, ele acrescentou um casal improvável, porém clichê: a gostosona e o nerd, interpretados por Megan Fox e Shia LaBeouf. Temos também alguma dose de humor e, claro, o elemento-chave para a popularidade da franquia: carros e robôs. Dois grandes fetiches de boa parte do público. Carros no cinema atraem atenção desde sempre, como no clássico 007, com seus carros cheios de aparatos tecnológicos.

Bumblebee se torna o verdadeiro protagonista de toda a série, sendo uma espécie de Hermes/Mercúrio, o intermediário entre deuses e humanos. Ele é o primeiro robô a ter contato com a humanidade e faz amizade com o garoto Sam, se tornando uma espécie de mascote.

Transformers (2007)

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

Transformers (2007)

Optimus Prime, o líder dos autobots, é o grande herói da série, um personagem plano, sempre nobre e valente, o alfa do grupo, com um poder de liderança imenso e uma capacidade de sempre chegar nos momentos críticos para salvar o dia. É o Superman robô (inclusive usa as mesmas cores: azul e vermelho).

O primeiro filme foi lançado em 2007, um ano antes do Homem de Ferro, que desencadeou o bilionário MCU, e de certa forma pode-se dizer que foi a franquia Transformers que deu início a essa fase do cinema voltada a blockbusters em série com milionários orçamentos e cheios de efeitos especiais.

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)
Essa é a mistura do Brasil com o Egito.

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

No segundo filme, de 2009, Michael Bay teve a coragem de destruir uma das milenares pirâmides do Egito (com CGI, óbvio, não de verdade, mas é de partir o coração para quem ama antiguidades).

A "novidade" no terceiro filme foi a ausência da Megan Fox. Ela tem uma história complicada com o Michael Bay, com quem trabalhou pela primeira vez em Bad Boys 2 (2003). Ela já fez algumas críticas à forma autoritária dele dirigir os filmes e talvez por isso tenha sido cortada do elenco. Agora o papel de gostosa a namorar o nerd Sam ficou a cargo da Rosie Huntington-Whiteley.

Shia LaBeouf and Rosie Huntington-Whiteley, Transformers: Dark of the Moon (2011)

Transformers: Dark of the Moon (2011)
Esse japinha é uma figura. Pena que não durou muito.

No quarto e quinto filmes, a série passa por uma grande renovação. Agora quem sai de cena é o Shia LaBeouf e em seu lugar entra Mark Wahlberg. A mitologia dos robôs também segue por um rumo inesperado, sendo associada aos mitos do Rei Arthur, com direito até a uma Excalibur super tecnológica que vai parar nas mãos do Mark Wahlberg.

Transformers: Age of Extinction (2014)
Capa de disco de banda indie.

Mark Wahlberg, Transformers: Age of Extinction (2014)
Acho que vi essa arma nos covenants de Halo.

Transformers: Age of Extinction (2014)

E para coroar (pun intended) essa nova história, ainda há um complemento: robôs dinossauros! Isso mesmo. Na antiga história do mundo, os ancestrais dos Autobots já estavam aqui e viviam na forma de dinossauros cuspidores de fogo, o que explicaria os mitos sobre dragões. Só que eles são forças brutas da natureza e, para torná-los aliados, Optimus Prime os domesticou na base da porrada, para horror das sociedades protetoras dos animais robóticos.

Transformers: The Last Knight (2017)

Transformers: The Last Knight (2017)

Na verdade a presença dos dinossauros robóticos foi uma evolução natural da franquia cinematográfica, seguindo a homenagem aos desenhos e action figures clássicos que, além dos Autobots e Decepticons, também tinham os Beast Wars.

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Aparentemente a série-base da franquia cinematográfica se encerra com a pentalogia. A partir de então os planos para o futuro estão mais voltados para spin-offs, e um já foi lançado, o Bumblebee (2018), que nem mesmo conta com a direção do Michael Bay, mas do Travis Knight. Curiosamente, desta vez o Bee assume a forma de um simpático fusquinha.

O filme do Bumblebee aborda o robô de uma maneira mais intimista, ele que sempre foi o personagem mais "fofo" do grupo, uma espécie de mascote. Vemos seu primeiro contato com a humanidade, como perdeu a voz e ganhou uma gambiarra feita pela mecânica e amiga Charlie. A história se passa nos anos 80, com direito à ambientação e trilha sonora oitentista que ultimamente tem virado moda no cinema.

Bumblebee (2018)
É isso mesmo, um robô com uma chupeta.

É interessante que ele assume uma aparência mais infantil No rosto, claramente há uma espécie de chupeta de criança. Com o tempo ele amadurece e assume um rosto mais sério e badass. As cenas de ação não ficam atrás daquelas da pentalogia. Tem robô que no meio da luta vira um carro, faz um drift, salta no ar, vira um helicóptero, dispara mísseis e vira robô de novo. Bem o estilão maluco da franquia.

Bumblebee (2018)

No fim das contas, Transformers surfa na mesma onda de Velozes e Furiosos: a paixão por carros. Já era assim com os brinquedos, que eram uma mistura do conceito dos Hot Wheels (lançados pela Matel em 1968) e dos G. I. Joe. Carros que viram combatentes. O melhor de dois mundos.

Desta forma, além de produzir filmes de grande apelo e bilheteria, com certeza a franquia fez uma boa grana também veiculando merchandising, enchendo a tela com cobiçadas marcas de carros.

Transformers cars
Carros, as grandes estrelas da franquia.

Por fim, falemos de money. O custo de produção de cada um dos cinco filmes sempre foi em torno de 200 milhões de dólares. Já a arrecadação foi a seguinte:

Transformers (2007): 709 milhões
Revenge of the Fallen (2009): 836 milhões
Dark of the Moon (2011): 1,124 bilhões
Age of Extincion (2014): 1,104 bilhões
The Last Knight (2017): 605 milhões

A súbita queda da bilheteria do quinto filme, que chegou a arrecadar menos do que o primeiro, lançado dez anos antes, foi um dos sinais de que estava na hora de encerrar a saga. Bumblebee, produzido com pouco mais de 100 milhões, foi mais modesto e arrecadou 467, mas ainda está no lucro. Os spin-offs agora virão como a sobremesa, servida depois do grande banquete, só para fazer durar mais um pouco a refeição.

O esfriamento desta franquia, após uma década de enorme sucesso, porém, não significa que os Transformers vão acabar. Se tem uma coisa que a história mostra, como vimos na lista acima de tooodos os brinquedos, quadrinhos, games, livros e séries, é que os Transformers nunca param de render conteúdo. Eles sempre voltam.

Inclusive está previsto aí um crossover entre os Transformers e Godzilla, quando então eles farão parte de outra promissora franquia que é o chamado MonsterVerse!

O animismo de Toy Story

Toy Story (1995)

A Pixar começou como uma divisão da Lucasfilm dedicada ao serviço de computação para o cinema. Ela desenvolveu seu próprio computador, o Pixar Image Computer, extremamente potente (para a época) e especializado em softwares gráficos. Em 1996 ela foi comprada por Steve Jobs (por 5 milhões de dólares) e em 2006 pela Disney (por 7,4 bilhões!) tendo Steve Jobs ainda como o maior acionista.

Pixar Image Computer

Pois é, a Pixar tem um dom de prosperar e passou pelas mãos de pessoas com o toque de Midas. Primeiro George Lucas, depois Steve Jobs e, quando integrou a Disney, uma poderosa fábrica de dinheiro, a Pixar se tornou uma máquina de grandes produções, virando uma marca consagrada, praticamente um gênero próprio de animação: os "desenhos da Pixel".

E tudo começou com Toy Story (1995), feito em parceria com a Disney. No caso, o studio independente era responsável por toda a animação e a Disney fazia a distribuição comercial. Ambos saíram lucrando.

Sendo um studio especializado em computação gráfica, uma tecnologia nova nos anos 80-90, a Pixar mostrou a que veio produzindo um longa animado 100% fruto de computação, revolucionando o cinema.

Toy Story (1995)

Toy Story (1995)

Toy Story (1995)

Até hoje o primeiro Toy Story impressiona pela qualidade das animações, a fluidez do movimento dos personagens, as texturas e, especialmente, a iluminação. Se tem uma coisa que a animação computadorizada faz melhor do que ninguém é a iluminação e esta é uma tecnologia que tem se aprimorado a cada ano. Tá aí o Ray Tracing de exemplo.

Toy Story (1995) and Toy Story 4 (2019)
Evolução gráfica de Toy Story de 1995 para 2019. Note-se como aumentou o detalhismo dos fios de cabelo, a iluminação dos olhos, a riqueza das cores...

Mas falemos de outro aspecto curioso nessa série animada: a vida dos bonecos. Toy Story é um híbrido de fábula e realismo. Enquanto os humanos vivem em seu ordinário mundo real, os bonecos são como seres de fábulas, com consciência e movimentos próprios, mas fingem ser inanimados na presença dos humanos para não assustá-los. Por que, todavia, eles se importam tanto em não assustar os humanos? A resposta é mística.

Não existe uma explicação física para a vida dos bonecos. Não é uma pilha ou qualquer mecanismo que lhes dá consciência e movimento. É um fenômeno sobrenatural, anímico. Bonecos de madeira, de pano ou estruturas de plástico ocas, como o dinossauro, têm igualmente a mesma força vital.

Toy Story 2 (1999)

Uma curiosa exceção é o Buzz. Por um lado ele possui o mesmo "fôlego de vida", o ruach bíblico, o espírito, dos outros bonecos, mas se forem removidas as pilhas ele é desligado. Não são as pilhas, porém, que garantem a sua consciência e todos os movimentos do corpo e expressões do rosto. Elas servem para ativar os equipamentos do traje e talvez tenham apenas um efeito psicológico no Buzz.

No quarto e último filme acontece um fenômeno interessante. A criança Bonnie monta um boneco rudimentar na escola, usando um garfo de plástico e massinha, chamando-o de Forky. Assim que o garfo é guardado na bolsa, junto do Woody, ele ganha vida.

Toy Story 3 (2010)

Toy Story 3 (2010)

Parece que para um boneco ter alma, basta que ele tenha sido criado com intenção de ser boneco. É uma espécie de egrégora, uma entidade criada pela mente humana. Assim, os humanos têm um tipo de poder divino para atribuir vida a estes seres, seja um artesão de bonecos, uma fábrica ou uma criança do maternal.

Toy Story 4 (2019)

Toy Story 4 (2019)

Toy Story 4 (2019)

É por isso que os bonecos se importam tanto com o carinho e atenção dos humanos. Para eles, os humanos são os deuses que os criaram, que lhes deram o espírito anímico. Instintivamente os bonecos sentem uma necessidade de ter o afeto de seus divinos criadores.

Não que tenham uma veneração irrestrita por humanos. Eles reconhecem que certos humanos são maus, como o menino que explodia os bonecos, ou o colecionador que os raptava. O fato é que os bonecos reconheciam que de alguma forma misteriosa eram os humanos que lhes garantiam a alma.

Existe, porém, uma cena que pode elucidar o mistério. Na última cena de toda a série, no final de Toy Story 4, uma nova criatura ganha vida e ela pergunta ao Forky como isso é possível. Forky diz "Eu não sei" e então olha para a câmera que fecha o círculo em torno dele.

Toy Story 4 (2019)

Ou seja, aí aconteceu a quebra da quarta parede. Ao olhar para a câmera, a saber, para nós que estamos assistindo, ele assume que está vivendo em uma animação e isto explica a sua existência. Em última instância, seus criadores não são os personagens humanos do filme, mas o studio Pixar.

Mind blow

Insubmisso

Se você espera
por bajuladores
lambendo seus pés,
não conte comigo.

Mas meu elogio
será sincero,
desinteressado
e sem compromisso.

(09,09,2020)

A saga Crepúsculo: vampiros que brilham e lobisomens sem camisa

Twilight (2008)

Twilight é um raro caso de sucesso mundial de uma obra indie. Tudo começa com uma quadrilogia de livros, lançados entre 2005 e 2008, escritos pela Stephenie Meyer. Meyer basicamente era uma jovem dona de casa mórmon, sem nenhuma carreira literária, quando de repente lançou seu primeiro romance, Twilight, e foi um fenômeno imediato, atraindo a atenção de Hollywood para uma adaptação.

O primeiro filme, Twilight (2008), já se mostrou um grande sucesso para uma produção de baixo orçamento. Produzido com 37 milhões de dólares, rendeu 400 milhões. Nascia aí uma nova franquia de vampiros. New Moon superou o sucesso de Twilight, faturando 700 milhões. Eclipse, 698 milhões. O primeiro Breaking Down conseguiu 712 milhões e o segundo nada menos que 830! Isso mesmo, Crepúsculo foi uma franquia bilionária.

Kristen Stewart and Robert Pattinson, Twilight (2008)

Essa curva crescente de faturamento de cada uma das sequências mostra que Crepúsculo seguiu aumentando em hype dos fãs e sucesso até o fim. A despeito de todas as críticas que recebeu (geralmente pelo roteiro meio novela adolescente e pelo estilo peculiar dos vampiros que brilham no sol), o fato é que Crepúsculo foi um fenômeno da cultura pop e um sucesso bilionário de bilheteria.

O diferencial em relação a outras obras vampirescas no cinema é justamente que Crepúsculo tem uma temática mais adolescente. A protagonista Bella é uma garota no final do ensino médio que se apaixona por um vampiro que tem centenas de anos, mas se matriculou no ensino médio e finge que tem 17, o que já é bem bizarro, convenhamos.

Twilight (2008)

No primeiro contato, Edward faz aquela cara de nojinho ao sentir o cheiro dela, o que rendeu muitos memes, mas logo ficam amigos, ela faz uma pesquisa na internet e assim, sem nem levantar outras hipóteses mais realistas, já chega à conclusão que ele é um vampiro e aceita numa boa. Mas ok, estamos em uma história de fantasia e, assim como nas histórias de super heróis, as pessoas reagem com relativa normalidade quando descobrem que alguém tem superpoderes.

Aí a Bella fica amiguinha da turma cool de vampiros, até que aparece a turma rebelde e um deles é super psicopata, até para os padrões dos outros vampiros, e começa a caçar a Bela, então Edward e sua turma se juntam para protegê-la e terminam esquartejando e queimando o vampiro psicopata, porque, convenhamos, eles também são meio psicopatas e é assim que resolvem as coisas.

Como a Bella foi mordida no pulso pelo vampiro, o Edward tem que dar uma chupada no sangue dela pra tirar o veneno e salvá-la de ser transformada. Edward faz esse drama de que não quer transformá-la, que seria um pecado, mas a verdade é que tudo seria mais fácil para os dois se ele resolvesse logo isso. Só que aí não teria mais história.

A morte do vampiro que atacou Bella provocou a fúria de sua amante, Victoria, que então se tornará uma nêmesis da Bella, sempre planejando vingança. Victoria seguirá trazendo problemas nos próximos filmes até a batalha final.

Shirtless dudes, The Twilight Saga: New Moon (2009)
Homens sem camisa, o maior fan service da série. Eles estão por toda parte.

Em New Moon (2009), expande-se a mitologia do universo Crepúsculo, com a aparição dos Volturi, que são como a nobreza dos vampiros e que julgam os crimes dos demais, segundo seu código de ética.

Edward, que achava que Bella havia morrido, vai até os Volturi pedir para ser executado, mas eles se negam, então ele pretende cometer um crime (se revelando ao público, o que o código Volturi pune com pena de morte), mas é salvo pela Bella.

Shirtless Pattinson, The Twilight Saga: New Moon (2009)
O Pattison também tem seus momentos sem camisa.

Esse segundo filme também serviu para apresentar a classe dos lobisomens, representada pelo bombadão Jacob, iniciando o platônico triângulo amoroso da Bella com um vampiro e um lobisomem.

Enquanto o time dos vampiros serve para decorar a tela com pessoas elegantes e estilosas, o time lobisomem traz um monte de caras sem camisa emanando testosterona. Também rola uma parada étnica. Os vampiros em sua maioria têm uma origem europeia, enquanto os lobisomens são índios nativos americanos. Em resumo, tem pra todo gosto.

Shirtless dudes, The Twilight Saga: Eclipse (2010)

Kristen Stewart and Robert Pattinson, The Twilight Saga: Eclipse (2010)

Em Eclipse (2010), Victoria monta um exército de minions vampiros recém-transformados e persegue a Bella, que então será protegida por uma aliança entre a turma dos vampiros de Edward e os lobisomens do Jacob.

Refugiada no alto de uma montanha gelada, Bella dorme de conchinha com o Jacob pra se esquentar, num momento feito para agradar a galera que shippava os dois. Mais ainda, os dois acabam se beijando, para alegria de uns fãs e fúria de outros.

Shirtless Taylor Lautner, The Twilight Saga: Eclipse (2010)

Então acontece uma batalhazinha campal entre os minions da Victoria e os amigos da Bella. Além do fato insólito dos vampiros de Crepúsculo brilharem ao sol, existe outro detalhe curioso na fisiologia deles: quando dilacerados ou decapitados, os vampiros não sangram e parecem ter um corpo cristalizado, como que feito de diamantes, como se fossem estátuas animadas.

The Twilight Saga: Eclipse (2010)
O corpo dos vampiros parece feito de diamante.

Dakota Fanning, The Twilight Saga: Eclipse (2010)
A personagem da Dakota Fanning foi uma das mais poderosas, uma espécie de Jean Grey dos vampiros.

Também existe um negócio de cada vampiro ter poderes especiais. O Edward pode ler mentes, a Alice vê o futuro, a Jane (personagem da Dakota Fanning) tem um forte poder telepático para causar sofrimento e subjugar até outros vampiros, etc.

Estas características não convencionais dos vampiros de Crepúsculo foram um dos motivos das críticas dos nerds mais puristas, mas ao mesmo tempo enriquecem a mitologia vampírica ao acrescentar essa nova variedade da espécie.

Jodelle Ferland, The Twilight Saga: Eclipse (2010)
A fofa Jodelle Ferland.

Enfim Victoria é derrotada, concluindo o arco da trilogia, mas claro que a série não terminaria aí, pois, já que estava fazendo sucesso, por que não render uma quadrilogia ou uma pentalogia, não é mesmo?

Então veio o quarto episódio, Breaking Down (2011, 2012) que foi dividido em dois filmes (modelo futuramente adotado em Jogos Vorazes e pela Marvel no Guerra Infinita).

Kristen Stewart and Robert Pattinson, The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 (2011)

O primeiro filme Breaking Down foge bastante de toda a trama da série, pois não tem vilões. É uma espécie de interlúdio, um intervalo nos conflitos com outros vampiros e a história foca no casamento, lua de mel e gravidez da Bella. Inclusive o casal viaja para o Brasil e vemos os atores conversando com figurantes brasileiros, falando em português com sotaque carregado.

Kristen Stewart, The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 (2011)
Usando efeitos especiais, deixaram a Bella só o bagaço.

A crise acontece quando o feto vampiro faz que a Bella adoeça até a morte, aí finalmente a turma decide transformá-la em vampira para salvá-la. Já era hora hein.

É neste filme que acontece o evento mais bizarro de toda a série, que é o tal de imprinting. Imprinting  (estampagem, impressão) é um termo geralmente usado para definir a relação de afeto instantâneo que alguns animais desenvolvem logo na infância ou mesmo ao nascer. Por exemplo, os pintinhos, ao saírem do ovo, veem a galinha e imediatamente criam um laço filial com ela, passando a segui-la.

O conceito também pode servir para o sentimento de amor à primeira vista e é nesse sentido que é usado quanto aos lobisomens. Eles só formam casais via imprinting e o Jacob, quando pela primeira vez vê a bebê da Bella, experimenta esse fenômeno e tem um vislumbre da criança crescendo e se tornando sua parceira. Convenhamos, é um troço no mínimo esquisito.

The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2 (2012)
Super Bella.

No segundo Breaking Down, que encerra toda a série, a Bella finalmente deixa de ser a humana frágil sempre protegida pelos amigos vampiros e lobisomens e transformou-se em uma vampira com muito potencial e o talento especial de produzir um escudo psíquico contra os poderes dos outros vampiros, o que obviamente atrai o interesse dos Volturi.

O melhor de tudo é que agora a Bella finalmente tem a constituição física para transar com o Edward sem se preocupar em ser quebrada ao meio ou ficar cheia de hematomas, o que foi o drama do casal durante a lua de mel.

A saga termina com uma frustrante batalha campal entre a turma da Bella e os Volturi. Acompanhamos uma luta cruenta, com decapitações e um massacre dos dois lados, só para no final mostrarem que tudo foi apenas uma projeção do futuro feita pela Alice. Vendo a possível derrota, o líder dos Volturi simplesmente desiste da brincadeira e vai embora com sua turma. Fuén.

De toda a trilha sonora da série, duas músicas ficaram especialmente marcadas como as músicas do casal: A Thousand Years, de Christina Perri e Flightless Bird, American Mouth, de Iron & Wine, que é bem agradável e com um ritmo de valsa, ideal para casamentos.

Ashley Greene and Jackson Rathbone, The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2 (2012)
Esqueçam Bella e Edward/Jacob. O casal mais legal da série foi esse aqui.