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Habemus Furiosa

Anya Taylor-Joy; Furiosa (2024)

Apesar da memória afetiva de adolescência que tenho com a trilogia original do Mad Max, de longe o meu filme favorito da franquia é Fury Road (2015). Acho que ali Mad Max alcançou o auge de seu potencial narrativo e estético. E digo mais: o Tom Hardy encarnou muito bem o espírito do personagem.

Tom Hardy; Mad Max (2015)

Mad Max é o retrato de um cara que perdeu tudo no apocalipse. Perdeu as pessoas queridas, a vida em um mundo civilizado, perdeu até mesmo uma parte de sua humanidade e trejeitos sociais básicos. Teve gente que não gostou da atuação do Tom Hardy, de seu jeito balbuciante de falar, mas convenhamos, se uma pessoa passa anos vivendo isolado, evitando contato humano, ela realmente acaba perdendo a habilidade de falar com fluidez. 

Aqueles que vivem nas cidadelas do apocalipse continuam conversando, praticando a fala e as skills sociais, mas Max era um errante, vivia em uma eterna fuga, só entrando nas cidadelas quando precisava se abastecer com alguma coisa. Ele vive como um eremita, em silêncio, conversando apenas com os próprios pensamentos. 

Ele é lacônico, porque já não há vontade alguma de falar senão só o necessário. Ele não tem aspirações, tem apenas o que restou do instinto primitivo de tentar sobreviver. Mesmo assim, no fundo ainda restou algo da antiga humanidade, uma certa fagulha de esperança, pois ele, mesmo hesitando, acaba se sacrificando para ajudar outras pessoas.

Tem gente que não gostou do fato do Mad Max de 2015 ter dividido o protagonismo com outra personagem, a Furiosa (Charlize Theron), mas eu acho que a presença da Furiosa permitiu que o Max se tornasse ainda mais ele, pois assim a narrativa não precisava ficar o tempo todo focada nele. Max é "low profile". No fim daquela história, ele desaparece em meio à multidão. Furiosa funciona como um contraste, já que ela é uma líder. É ela que faz as negociações, que faz a história rolar.

Desde 2015 estamos aguardando uma sequência de Fury Road, mas é recomendável não ter pressa. George Miller trabalha no tempo dele e é assim que funciona. Entre Mad Max 3 e o 4 há um hiato de nada menos que 30 anos! Bom, espero não ter que esperar mais trinta anos para o Mad Max 5, mas já se passaram oito. Enquanto isto, teremos um spin-off a ser lançado em 2024: Furiosa: a Mad Max Saga.

Furiosa não será um spin-off genérico deixado nas mãos de qualquer diretor. Ele foi escrito e dirigido pelo próprio George Miller, o que pra mim já é promissor. Um trailer foi lançado e nele percebe-se que a estética marcante de Fury Road permanece. Acho que deram uma exagerada na saturação das cores, mas não chega a ser um problema.

A protagonista será interpretada pela bela e badass Anya Taylor-Joy, a garota com três "y" no nome. A acompanho desde A Bruxa (2015) e Fragmentado (2016) e ela só melhora a cada ano. Mal posso esperar para ver do que ela é capaz no papel de uma sobrevivente deste selvagem mundo apocalíptico. Só tem um detalhe: espero que ela sofra.

Um problema que tem se tornado muito comum nos filmes ultimamente é que tentam criar uma personagem feminina badass que já nasce pronta, que não passa por um ciclo de evolução heroica. O resultado é a insossa Mary Sue. Não é isto que esperamos em um herói ou anti-herói, seja masculino ou feminino.

O Max sempre foi um cara sofrido. Ele apanha, se rala, perde o carro, perde as armas, é largado a vagar no deserto, é aprisionado, até mesmo virou uma bolsa de sangue ambulante. Enfim, ele passa por poucas e boas e ainda assim sobrevive. É isto que faz dele um badass. Logo, torço para que a Furiosa também seja assim, que seja uma personagem sofrida e que tenha dificuldades e desafios. Se isto acontecer, Furiosa será uma personagem marcante.

Anya Taylor-Joy; Furiosa (2024)

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