O erotismo e a paixão são um campo onde o animismo floresce. Hoje em dia mais ainda com a internet. Há algumas décadas, quando criança, eu era apaixonado pela Penélope Charmosa, uma personagem de desenho animado. Eu ficava me imaginando como um herói que a salvava dos bandidos. Era um animismo infantil, atribuir a um desenho uma vida própria, uma substância tal que eu podia nutrir sentimentos por ela.
Hoje em dia vejo que mesmo adultos experimentam um pouco disto ao gostar de personagens de anime, games, até mesmo personagens sem uma aparência física visível, como aqueles dos livros. Mulheres talvez tenham ainda mais facilidade que homens para se apaixonar por personagens de livros e não à toa consomem romances mais que homens. Obviamente qualquer pessoa dita normal sabe fazer uma distinção entre estes sentimentos platônicos por seres fictícios e algo real, mas tais sentimentos existem e se constituem numa manifestação de animismo.
No erotismo, existe toda uma cultura de produção de material erótico baseado em desenhos, animes, jogos, etc. A chamada "rule 34". Isto é puro animismo.
Mas não só isto. Na verdade, até mesmo representações de humanos reais são animistas. Uma escultura em mármore baseada em um modelo humano real se torna um ser em si e daí nasceu o pigmalionismo. Há quem tenha sentimentos pela Mona Lisa, que hoje é apenas a representação de uma mulher real que já nem mais existe.
Ora, o que são fotos e vídeos senão também representações de pessoas reais? Quando as pessoas assistem a um vídeo erótico ou veem fotos nuas de pessoas e se excitam com isto, até mesmo ao ponto do orgasmo, estão tendo uma relação anímica, já que a pessoa real, de carne e osso, não está ali participando deste momento erótico.
Casais apaixonados que ficam de daydreaming um com o outro, imaginando a pessoa amada e fantasiando histórias, estão se relacionando no momento do devaneio não com a pessoa real, mas com a sua representação mental e anímica.
Já parou para pensar nisto? Quando você sonha, pensa, imagina a pessoa com quem você está se relacionando, naquele momento você está nutrindo sentimentos por uma construção da sua mente e não pela pessoa concreta que não está fisicamente presente. De fato, todo relacionamento tem um aspecto anímico, uma vez que você não direciona seus sentimentos simplesmente a uma pessoa, mas também à projeção imaginária que você faz dela.
Sentimentos religiosos são por natureza anímicos, já que você projeta sentimentos em ídolos, talismãs, santos, anjos, espíritos, divindades, seres que geralmente não se mostram fisicamente presentes. Tudo isto nos faz perceber que a dimensão física é apenas um pequeno aspecto da realidade vislumbrada pela nossa mente. Vivemos em um misto de mundo físico e mental, sendo o mundo mental muito mais amplo.
E eis que agora a tecnologia está levando a humanidade para uma espécie de renascença do animismo, com a inteligência artificial. Algumas pessoas vão resistir inicialmente, rejeitando a ideia de humanos terem algum tipo de sentimento direcionado a máquinas, mas com o tempo isto se tornará cada vez mais comum. Ora, quando você se irrita com a Alexa ou ri de um comportamento dela, já está desenvolvendo um laço anímico com esta inteligência artificial.
Até que ponto irá se aprofundar a relação entre humanos e máquinas? Um dia haverá crianças que serão criadas por robôs e nutrirão por eles sentimentos filiais. Haverá idosos solitários que terão a valiosa companhia de um cuidador robótico e muitos vão ter por estes robôs o sentimento que se tem por um grande amigo. No mundo erótico, então, as pessoas terão experiências eróticas envolvendo máquinas com mais frequência do que as relações humano com humano.
Em algum momento, talvez até existam robôs se convertendo e praticando alguma religião. Quando isto acontecer, teremos um curioso fechamento de ciclo, pois um ser anímico, a inteligência artificial, será igualmente praticante do animismo.
E assim toda a jornada da humanidade, que no tempo das cavernas começou com sentimentos anímicos voltados para criaturas desenhadas nas rochas e bonecos de palha, ruma para uma espécie de animismo cósmico, com a compreensão de que o universo inteiro, além de sua camada puramente física, é também um mundo mental experimentado pela consciência.
Nós, seres conscientes, somos a consciência do universo, e vivemos neste limiar entre a matéria e o mundo mental. Ao criar um mundo virtual, chegamos ao ponto em que ambos os reinos se misturam e se confundem. Este mundo irá se expandir e se mesclar à própria consciência individual e coletiva. A era de ouro do animismo.
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