Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Renascença

Olha o céu, olha o céu now.
Está se aproximando a aurora boreal.
Quantos se prepararam, quantos
estão se protegendo com um manto.

Gafanhotos e ovelhas marchando.
Redemoinho humano. São tantos.
Algo vai acontecer, algo vai
multiplicar-se e renascer após o caos.

Bye bye, balbuciante Babilônia.
Em breve teremos dois corações.
No céu veremos vinte mil vimanas
que vêm visitar seus anfitriões.

Aguarde mais um pouco, paciência.
A espera acumula a recompensa.
O orvalho voltará renovando o cantil
por entre as luzes do komorebi.

(28,09,2023)

A arte de rejeitar os rudes

A ofensa em si não é nada. Palavras não são paus e pedras e não podem causar dano concreto. Enquanto o dano da pedra é inevitável, o dano da palavra depende apenas de quem a escuta, de como sua mente reage. Você pode treinar a mente para ignorar palavras, para relevar insultos, assumir uma atitude socrática e até mesmo debochar dos insultos que te oferecem.

O problema do insulto, portanto, não está nas palavras, mas na atitude, na intenção. Se alguém intencionalmente tenta te insultar, esta atitude revela a hostilidade da pessoa e o desejo dela causar algum tipo de dano. Ora, se uma pessoa tem sentimentos hostis a seu respeito, é melhor afastar-se dela, pois ela nada de bom tem a oferecer. 

É por isto que rejeito os rudes: não pelas suas palavras, mas pelas suas atitudes.

(26,09,2023)

Solidão e solitude

A solidão é como um furacão
e com força terrível ela te arrebata
a um mundo turbulento de caos e de loucura,
destrói sua alegria, seus sonhos despedaça.

Muitos então se perdem no caos da solidão,
levados pelos ventos da dor e desespero,
eis que, porém, alguns conseguem ir além,
atravessando essa triste e atroz barreira.

Estes chegam no mundo de paz e de sossego,
do furacão o olho, a região mais calma.
A solitude é o olho do furacão e eis que
ali só há descanso e alívio para a alma.

(18,09,2023)

Hienas

Há pessoas que são como hienas,
com seus risos estridentes histéricos,
se agrupam em bandos e perseguem
indivíduos a fim de fazer cena.

São pessoas que não têm alma amena,
que divertem-se em tirar seu sossego.
Não conhecem o valor do respeito.
Intelectos tão pobres que dá pena.

Devorando carniça as hienas
se assemelham a estes seres simplórios
que divertem-se em semear o ódio.
Almas rudes, insensíveis, pequenas.

(14,09,2023)


A evolução da etiqueta na internet

Online hate

Normalmente, se você está em um ambiente público conversando com um grupo de pessoas, inclusive pessoas estranhas que você nunca viu antes, existe um certo nível de etiqueta. Um estranho não costuma se aproximar de você com xingamentos e críticas, os conhecidos podem te xingar em tom de brincadeira, mas também evitam ser muito críticos e falar tudo o que pensam. 

Afinal, todos sabem que, se você se aproxima dos outros com uma atitude crítica, você se torna uma companhia desagradável e que todos vão evitar. Somente loucos, delinquentes e desequilibrados se comportam assim na vida real.

Na internet, por sua vez, este tipo de postura hostil é bem comum e muitas pessoas simplesmente abandonam as normas de etiqueta que usam na vida real, tornando-se mais críticas, xingando gratuitamente outras pessoas, fazendo comentários inapropriados, praticando bullying, sendo inconvenientes.

Isto acontece obviamente por causa de uma camada de anonimidade que a internet oferece. Não que você seja de fato um anônimo. Quem comete crimes na internet pode ser punido porque sempre deixa rastros. No entanto, mesmo em redes sociais, onde você pode se apresentar com seu nome e colocar sua foto no perfil, o fato de não se sentir fisicamente presente naquele ambiente faz com que você perca a noção de pessoalidade. Ao falar com outras pessoas, você não tem o mesmo nível de empatia que teria se as visse pessoalmente, em carne e osso, pois ali, na internet, são apenas uma fotinha num perfil e às vezes nem é a foto real da pessoa.

Esta sensação de anonimidade e impessoalidade deverá mudar no metaverso, o real metaverso. Um dia, você vai se mover na internet como se fosse um segundo mundo físico, e sentirá a presença das pessoas, elas vão parecer mais reais, mais sólidas. Este tipo de sensação de presença real deverá ser suficiente para fazer com que muitas pessoas naturalmente passem a adotar na internet a mesma etiqueta que adotam no mundo físico, de modo que somente loucos, delinquentes e desequilibrados vão continuar se comportando como brutos mal educados no mundo virtual.

Habemus Qaligrafia

Estamos em pleno 2023, ano em que o congresso americano fez uma audiência pública sobre OVNIS, ano em que todo mundo tem um TikTok, menos eu. Virei uma múmia digital.

Na verdade, estou sempre me atualizando sobre tecnologia e já brincava de ChatGPT quando pouco se falava disso, mas tem novidades que não me interessam e tem "velhidades" que não largo. É o caso do blog, o bom e velho blog.

Hoje em dia, quando todo mundo busca monetizar sua atividade nas redes sociais, virar "criador de conteúdo" profissional, também sou antiquado ao não dar muita importância a isso, pois no fim das contas isto aqui é um hobby. Mais ainda, é uma necessidade devido à minha hipergrafia.

Hipergrafia é uma condição que consiste em um forte impulso para escrever. Tenho isto desde criança e só foi intensificando ao longo dos anos. Sou lacônico na fala, porém maníaco na escrita. Preciso escrever. Quando vejo filmes, séries, ou mesmo quando experimento algum game, tenho esta necessidade de escrever sobre, o que para mim funciona como uma forma de mastigar e digerir melhor a experiência.

Acontece que meus interesses são relativamente variados. Filmes, séries, games, animes, mangás, quadrinhos, livros, música, poesia, tecnologia, misticismo, etc e tal. Na música, tenho playlists que vão do clássico ao rock, do brega ao eletrônico. Só não tem funk. Me desculpem, mas a batida do funk não dá pra digerir. É um tipo de barulho que afeta minha misofonia, pois tenho esta outra coisa, uma aversão a certos tipos de som.

Mas enfim, cá estou eu falando para as paredes em um blog. Venho postando aqui desde 2018 e já mudei o endereço algumas vezes. Eis que agora sinto a necessidade de um rebranding. Assim nasce o Qaligrafia.

Quanto ao nome, tem alguma história envolvida. Na infância e adolescência eu gostava muito de desenhar, mais do que as crianças em geral, pois cheguei até a produzir umas revistinhas em quadrinhos caseiras, dezenas delas. Houve um período em que criei um pseudônimo para assinar alguns desenhos que fazia: Caleidoscópio.

Não usei esta assinatura por muito tempo. Creio que só alguns meses. Inclusive hoje não tenho mais nenhum desenho que fiz neste período. Eles se perderam por aí. O que, todavia, me chamou atenção foi o fato de que já na tenra juventude eu tinha a percepção de que meus interesses e minha mente eram multifacetados, como um caleidoscópio.

A hipergrafia também se manifesta em meu interesse por constantemente criar neologismos, fundir palavras ou morfemas para criar palavras novas, bem como substituir letras por algo equivalente, apenas com o fim de criar uma nova grafia. Assim imaginei Qaleidoscópio ou Qaleidos como uma versão modificada de Caleidoscópio.

Enfim quebrei a palavra no morfema Qali, que obviamente vem do kalós grego ("belo, bom"), e combinei com grafia, em parte porque no fim das contas é disto que se trata este blog, sobre escrever e escrever. 

O resultado final é uma palavra polissêmica, ambígua, pois tanto pode se referir a caligrafia em si, a arte de escrever à mão, como pode ganhar um novo significado neste neologismo que combina o conceito de caleidoscópio com grafia: a arte de escrever sobre assuntos variados; a escrita caleidoscópica. E, por que não, também entender como a arte de escrever sobre a beleza, afinal boa parte do conteúdo deste blog envolve cinema e poesia, duas artes que prezam bastante pela beleza.

Ah, mas tem ainda outro detalhe. Ao buscar um novo nome para o blog, eu não queria apenas algo que tivesse significado, mas que também fosse visualmente agradável para mim. Já que criei a palavra, o mínimo que poderia esperar é que ela tivesse uma estética que eu gostasse. 

No caso, existem algumas letras que gosto, visualmente falando, e outras que acho feias ou desinteressantes. Creio que a letra "r" minúscula para mim é a mais feia e também desinteressante. Por outro lado, gosto de letras como f, g, q e algumas outras. Em Qaligrafia, consegui reunir pelo menos três de minhas letras preferidas.

Enfim, é isso. Vida longa ao Qaligrafia.