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O casamento da fé e ciência em Contato

Contact (1997)

Carl Sagan foi o maior guru da astronomia no século XX. Bom, os mais devotos fãs dele devem achar uma ofensa chamá-lo de guru, uma vez que Sagan defendia o ceticismo, uma postura filosófica que combina bastante com a mentalidade científica. Fazer ciência é desconfiar, perguntar e não abraçar dogmas.

Ao contrário do que muitos pensam, Sagan não era ateu, mas agnóstico. Ele simplesmente não batia o martelo quanto à questão da existência de Deus, pois reconhecia que não havia como, em nosso atual estágio de desenvolvimento, provar nem negar a existência de um ser supremo criador do universo. Sagan acaba desagradando tanto crentes quanto ateus.

Em 1985 ele publicou o romance Contact, em que a protagonista Eleanor "Ellie" Arroway é uma brilhante cientista que trabalha no SETI, o projeto de busca por inteligência extraterrestre, e descobre um sinal alienígena contendo instruções para a construção de uma máquina capaz de acessar um buraco de minhoca, uma via de transporte interestelar. Em 1997, esta história foi adaptada para um filme estrelado pela Jodie Foster. 

O livro obviamente é bem mais detalhista e entra mais fundo na ficção científica. No livro, são cinco pessoas que entram na máquina, o dodecaedro, e se aventuram na viagem espacial. No filme, apenas Ellie faz a viagem, certamente porque o filme pretendia concentrar os holofotes na atuação da Jodie Foster, admirada e talentosa atriz desde muito jovem. 

No livro, os aliens responsáveis pela rede de portais na galáxia explicam que estão desenvolvendo um ambicioso projeto de alterar as propriedades do universo, vencendo a entropia. Seria como o fim da morte.


O filme, por sua vez, é bem mais misterioso com relação aos aliens e seus planos. O foco da narrativa está mais na luta de Ellie para levar adiante seu projeto de contato extraterrestre. Ironicamente, ela é cética com relação a Deus, mas também precisa enfrentar o ceticismo das pessoas quanto à possibilidade de um contato alienígena. Mesmo depois que a máquina é construída, diversos obstáculos surgem, até mesmo um ataque terrorista de fanáticos religiosos. 

Ellie enfim consegue fazer a viagem espacial e se depara com um mundo artificialmente construído para recebê-la. Talvez uma simulação virtual ou mental, pois ali ela encontra seu falecido pai e logo entende que ele é apenas uma projeção feita pelos aliens para se comunicar com ela. Todavia, diferente do livro, eles nada explicam sobre seus planos e após alguns minutos simplesmente a mandam de volta para a Terra sem nenhuma evidência para provar que este contato aconteceu. 

Agora Ellie que se vire para provar ao mundo que o que ela viu era real e não um delírio de sua imaginação. A moral da história é que mesmo na ciência é preciso também uma dose de fé, pois a cética Ellie se deparou com uma situação em que apenas a fé poderia ser usada como argumento para provar que ela de fato teve uma experiência transcendente.

O Matthew McConaughey atua como par romântico da Jodie Foster e também representa a antítese ao seu ceticismo, uma vez que ele é um teólogo. Curiosamente, muitos anos depois o McConaughey seria o protagonista em um filme espacial claramente inspirado em contato, Interestelar (2014)¹.

Jena Malone; Contact (1997)

A versão infantil da Ellie foi interpretada pela jovem Jena Malone, que depois ficaria imortalizada no filme Donnie Darko (2001). Temos também um cameo do presidente dos EUA na época, Bill Clinton.

A música do filme é de ninguém menos que Alan Silvestri, uma das grandes figuras da música do cinema, com uma filmografia gigantesca. Ele produz trilhas sonoras desde a década de 70 e até os dias de hoje. A épica música de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato (2019) é de sua autoria.

Contact (1997)

Para um filme dos anos 90, o visual e a animação da máquina espacial ficaram muito bons. Creio que a cena da destruição da primeira máquina foi feita em maquete e inserida digitalmente no cenário. Os detalhes dos fragmentos parecem complexos demais para o CGI da época.

Notas:


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