Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

A Sombra

Não preciso de inimigos, 
pois já tenho a mim mesmo. 
Eu tenho a minha Sombra 
e a ela estou preso.
Ela que me conhece,
meus erros e fraquezas;
conhece as rachaduras,
meus pontos indefesos.
Como dois condenados
acorrentados, presos
um ao outro para sempre,
sem nunca ter sossego.
Ó, Sombra, todo dia
acordo te ofereço.
Façamos uma trégua.
Me diz qual é o preço.
Vivamos em paz, Sombra,
Prometo que eu esqueço,
perdoo teus pecados.
Busquemos recomeço.
Juntos seremos fortes,
não partes, mas inteiros.

(25,12,2023)


Intel 10400F vs 12600k

Intel i5-10400F

Há alguns anos venho usando o Intel i5-10400F. Posso dizer que é um processador excelente em termos de custo-benefício para um PC gamer "de entrada". Para desempenho em jogos pesados, é uma CPU modesta e com a vantagem da economia de energia, já que tem um consumo de 65 W. Por este motivo nem necessita de um resfriamento potente. Eu uso aquele coolerzinho básico que vem na caixa do chip.

Ok, quando estou jogando o New World, o uso da CPU vai às alturas e este cooler fica gritando, se esforçando pra resfriar a peça. A temperatura máxima chega a bater 92°. Pois é, estou vivendo no limite. Bom, estava, pois chegou a hora do upgrade.

New World é um jogo mal otimizado. Com um i5-10400F e uma RTX 2060 Super, até dá pra rodar com os gráficos no alto ou mesmo no ultra, mas aí é pedir pra ficar com 15-20 FPS, então costumo jogar no mínimo ou no médio, quando consigo ter 60 FPS, mas variando dependendo do número de players no local. No centro da cidade chega a 45 e em rotas com muita gente junta em um só local chega até a 25. De toda forma, tá dando pra jogar. Sempre fui acostumado a jogar com menos de 60 FPS.

Intel i5-12600K

Neste caso, o problema não é a GPU, pois a 2060 S é uma placa decente. Chegou a hora de atualizar a CPU e optei pelo i5-12600K. Eis algumas diferenças.

O 10400F tem 6 núcleos e 12 threads, com frequência base de 2.90 GHz e turbo de 4.30 GHz. O 12600K tem 10 núcleos e 16 threads, com frequência base de 3.7 GHz e turbo de 4.9 GHz. O cache é respectivamente 12 e 20.

Além de toda esta diferença na velocidade, existe a importante questão do suporte a peças melhores. A 10400F aceita memórias RAM DDR4 de até 2666 MHz de velocidade, enquanto o 12600K aceita DDR4 de até 3200 MHz e DDR5 de até 4800 MHz. Isto garante uma boa vida útil para a CPU, pois eu continuo usando DDR4, mas futuramente posso fazer um upgrade para DDR5, o que trará uma bela de uma melhoria. Para games a DDR4 ainda é suficiente e convenhamos que memórias DDR5 ainda são caras (bem como as placas-mãe com suporte), mas em alguns anos vão baratear e quem sabe eu possa fazer um upgrade a baixo custo, mantendo a CPU. Enfim, é bom saber que a 12600K oferece essa possibilidade.

Também é importante o suporte ao PCI Express que na 10400F vai até 3.0 e na 12600K vai para 4.0 e 5.0. Inclusive uso um NVMe que é PCIe 4.0, com velocidade de 3000 MB/s, mas esta velocidade é bastante reduzida porque minha placa-mãe e a CPU só suportam 3.0. Mesmo sendo 4.0, o SSD roda numa build 3.0, mas com menor desempenho. Logo, com o upgrade para a CPU nova, automaticamente vou ganhar uma melhoria também no SSD que já tenho e que está com as mãos atadas pelas limitações do PCIe.

Bom notar que os soquetes destas CPUs são diferentes. LGA 1200 para a 10400F e LGA 1700 para a 12600K. Isto inclui uma diferença de formato. O LGA 1200 é quadrado, enquanto o 1700 é retangular. Deste modo, é preciso prestar atenção na compatibilidade do cooler, pois a área de contato deve ter o formato adequado.

A diferença de desempenho também tem um custo energético. Enquanto o antigo chip consome 65 W, o novo fica na faixa de 125 W e obviamente também aquece mais. Pela primeira vez comprei um cooler à parte do processador. Em todos os meus 20 anos usando PC (sendo que comprei meu primeiro PC há 15 anos), sempre usei o cooler básico que costuma vir na caixa da CPU ou já montado na placa-mãe. 

PCYES LORX

O 12600K nem mesmo vem com cooler na caixa, justamente porque ele exige um ventilador maior e mais potente. Optei por um cooler modesto da PCYES LORX, mas que tem um radiador bem maior que os coolers genéricos e o ventilador não fica voltado pra cima da CPU, mas para o radiador em si, o que deve otimizar a dissipação de calor.

O fato do 12600K consumir mais energia não significa que ele sempre está rodando a 125 W, mas apenas que o seu teto máximo de consumo é maior que o do 10400K. Normalmente, com o PC em baixa atividade ou apenas usando o navegador, rodando um vídeo, etc, o consumo pode ficar na faixa de 10-20 W e a temperatura entre 20 e 40 graus. Quando roda algo mais pesado como um jogo, aí é que a CPU passa a trabalhar forte e demandar mais energia e gerar mais calor, chegando a uns 70-80 graus, dependendo da otimização do jogo.

Lamentações

Os meus problemas não são da conta de ninguém. 
Só cabe a mim carregar a minha cruz,
a pedra sisífica que todo mundo tem.
Eu tenho a minha, você a sua, pois.
Mas, como o forno fumegante de um trem,
todos precisam liberar o seu vapor.
A poesia é o escape por meio da qual são
poupados meus vapores da explosão.

(22,12,2023)

Efêmera alegria

Alegria, ela é tão efêmera.
Pequenos intervalos no respirar da vida.
O crepitar da chama, apenas um momento
que nasce e se desfaz, como poeira ao vento.
Assim é a alegria, apenas a partícula,
o fragmento ínfimo, finito, fenecente.
Em ti eu não confio, efêmera alegria,
não preenches a alma, és só uma gotícula.
Onde está minha vida, meu lar, meu habitat
é o imenso mar da minha mansa melancolia.

(21,12,2023)




Geometria e magia

Poliedros de Platão
Os Poliedros de Platão ou Sólidos de Platão são uma das associações mais antigas entre misticismo e geometria.


Magia e ciência são em geral inconciliáveis, mas não se engane, muitos dos grandes cientistas tinham alguma familiaridade com a magia ou a linguagem mística, a exemplo de Isaac Newton, que deixou um grande volume de textos herméticos e análises misteriosas da Bíblia, textos que, obviamente, não são muito divulgados pela comunidade científica por não se tratarem de ciência propriamente dita, mas de magia.

Ainda hoje, numa era em que o secularismo é cada vez mais dominante e que, como diria Carl Sagan, abandonamos o "mundo assombrado pelos demônios", há cientistas que enveredam pelo misticismo, até mesmo buscando uma conciliação entre ciência e magia, como Fritjof Capra, autor de O Tao da Física. 

Sim, sim, há cientistas que abominam esta mistura e advogam a favor da "pura ciência". Enfim, esta é uma discussão sem fim, como tudo na filosofia e teologia. De toda forma, venho aqui propor um conceito peculiar que abre espaço para uma possível conciliação entre ciência e magia, a geometria espacial.

Todos sabemos que em nosso mundo existem três dimensões visíveis: comprimento, largura e profundidade. Basicamente isto significa que você pode observar o espaço à sua volta olhando para os lados, para cima e para baixo e para o horizonte. A estas três dimensões, ainda podemos acrescentar uma quarta, o tempo, algo que, mesmo que não seja observável com os olhos, pode ser mensurado pelo movimentos dos corpos dentro do espaço tridimensional. Tudo o que existe e se move, move-se no tempo.

Estas quatro dimensões são o limite do que podemos observar por quaisquer meios, seja pelos olhos, por instrumentos científicos ou por cálculos matemáticos. Desta forma, nossa ciência tem um campo de observação limitado às quatro dimensões.

Na teoria, porém, a ciência pode especular sobre dimensões que ultrapassam este limite do universo conhecido. Além das três dimensões do espaço, pode haver uma quarta, uma quinta, sexta, quem sabe até mais. São dimensões que não podemos observar, uma vez que estamos limitados, aprisionados nas três dimensões do nosso espaço, todavia, se tais dimensões existem, elas certamente têm alguma interação e influência em nosso mundo e nossa existência.


Imagine que exista um universo bidimensional, com seres bidimensionais. Para nós, que o observamos de fora, este universo pode parecer uma pizza, porém sem espessura. Uma pizza finíssima e que possui apenas comprimento e largura, como uma folha de papel de proporções cósmicas. Nós, seres tridimensionais, temos o privilégio de conseguir observar este universo plano de fora e perceber que ele é plano e bidimensional, já os seres que vivem neste universo têm uma percepção limitadíssima, pois não conseguem ver acima e abaixo ou ter noção de profundidade. Basicamente só conseguem ver o que está nos lados.

Imaginemos um exemplo mais simples. Se você desenhar um círculo em uma folha de papel e falar para uma formiga bidimensional (obviamente nossas formigas são tridimensionais, mas aqui temos uma formiga hipotética bidimensional) entrar neste círculo sem atravessar a linha de sua circunferência, será uma tarefa impossível, pois a única maneira dela entrar ali é caminhando através da folha e passando para dentro do círculo. 

Já você, que é um ser tridimensional e tem a vantagem de estar em uma dimensão além, pode simplesmente pegar aquela formiga, levantá-la para fora do papel, e colocá-la dentro do círculo sem que ela tenha que atravessar a linha. Ela foi magicamente teleportada graças à intervenção de uma força de uma dimensão superior.

Quem está em uma dimensão superior, consegue ver e interagir com uma dimensão inferior, mas o inverso é mais difícil ou impossível. Imagine então que exista uma quarta dimensão do espaço, ou uma quinta. O que quer que exista nestas dimensões, tem o poder de interagir com o nosso mundo tridimensional (ou quadridimensional, se incluirmos o tempo) e tal interação é impossível de ser observada por nós que estamos limitados às dimensões inferiores, a não ser que...

A não ser que alguma parte de nós faça parte de dimensões superiores. Qual o melhor candidato a isto? A consciência. A consciência é o maior mistério da humanidade e seu verdadeiro potencial é desconhecido. Digamos então que a consciência seja um fenômeno que tem origem em uma quarta ou quinta dimensão do universo, reverberando para as camadas inferiores, para o nosso mundo conhecido. Neste caso, a consciência seria o elo entre todas as dimensões.

A magia, portanto, pode ser um fenômeno em que a consciência obtém acesso aos poderes e "facilidades" que as dimensões superiores têm sobre as três dimensões inferiores, poderes como a clarividência, a capacidade de enxergar o curso do tempo e as suas diversas possibilidades. Os chamados "seres superiores" ou "transcendentes" mencionados em toda a religião e misticismo, podem ser seres literalmente de dimensões superiores no espaço e que, portanto, têm poderes que em muito superam os limitados poderes daqueles que estão presos nas três dimensões. 

Para a formiga bidimensional, presa nos limites da folha de papel, aquela mão tridimensional que a teleportou para dentro do círculo é uma entidade superior e de poderes praticamente divinos, poderes estes que existem pelo simples fato da mão existir em uma dimensão a mais do espaço.

Por fim, a ideia das dimensões extras pode também ser uma boa candidata para a teoria de tudo. Ela não só explicaria a magia, como também seria capaz de conciliar as leis até então inconciliáveis de nosso universo tetradimensional. As dimensões superiores podem conciliar tudo, unificar tudo, ciência e magia. O que está acima e o que está abaixo.

Quod Superius Macroprosopus, Quod Inferius Microprosopus

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A missão de sobreviver

A humanidade sempre especulou sobre seu papel, sua missão, sua razão e há muitas propostas na religião e na filosofia, mas o fato é que acima de tudo prevalece uma missão: sobreviver.

O melhor que podemos fazer neste universo é sobreviver, continuar, persistir por eras e eras para ver onde isso tudo vai dar. Talvez haja alguma grande resposta e ela está no futuro. Precisamos chegar lá, seguir sobrevivendo, enquanto nos entretemos com nossas especulações, nossas crises e soluções, nossas coisas triviais e fascinantes.

Como indivíduos somos efêmeros, somos fagulhas que se acendem e somem. Como humanidade, porém, podemos alcançar os confins do universo de alguma forma, algum dia.



Habemus Furiosa

Anya Taylor-Joy; Furiosa (2024)

Apesar da memória afetiva de adolescência que tenho com a trilogia original do Mad Max, de longe o meu filme favorito da franquia é Fury Road (2015). Acho que ali Mad Max alcançou o auge de seu potencial narrativo e estético. E digo mais: o Tom Hardy encarnou muito bem o espírito do personagem.

Tom Hardy; Mad Max (2015)

Mad Max é o retrato de um cara que perdeu tudo no apocalipse. Perdeu as pessoas queridas, a vida em um mundo civilizado, perdeu até mesmo uma parte de sua humanidade e trejeitos sociais básicos. Teve gente que não gostou da atuação do Tom Hardy, de seu jeito balbuciante de falar, mas convenhamos, se uma pessoa passa anos vivendo isolado, evitando contato humano, ela realmente acaba perdendo a habilidade de falar com fluidez. 

Aqueles que vivem nas cidadelas do apocalipse continuam conversando, praticando a fala e as skills sociais, mas Max era um errante, vivia em uma eterna fuga, só entrando nas cidadelas quando precisava se abastecer com alguma coisa. Ele vive como um eremita, em silêncio, conversando apenas com os próprios pensamentos. 

Ele é lacônico, porque já não há vontade alguma de falar senão só o necessário. Ele não tem aspirações, tem apenas o que restou do instinto primitivo de tentar sobreviver. Mesmo assim, no fundo ainda restou algo da antiga humanidade, uma certa fagulha de esperança, pois ele, mesmo hesitando, acaba se sacrificando para ajudar outras pessoas.

Tem gente que não gostou do fato do Mad Max de 2015 ter dividido o protagonismo com outra personagem, a Furiosa (Charlize Theron), mas eu acho que a presença da Furiosa permitiu que o Max se tornasse ainda mais ele, pois assim a narrativa não precisava ficar o tempo todo focada nele. Max é "low profile". No fim daquela história, ele desaparece em meio à multidão. Furiosa funciona como um contraste, já que ela é uma líder. É ela que faz as negociações, que faz a história rolar.

Desde 2015 estamos aguardando uma sequência de Fury Road, mas é recomendável não ter pressa. George Miller trabalha no tempo dele e é assim que funciona. Entre Mad Max 3 e o 4 há um hiato de nada menos que 30 anos! Bom, espero não ter que esperar mais trinta anos para o Mad Max 5, mas já se passaram oito. Enquanto isto, teremos um spin-off a ser lançado em 2024: Furiosa: a Mad Max Saga.

Furiosa não será um spin-off genérico deixado nas mãos de qualquer diretor. Ele foi escrito e dirigido pelo próprio George Miller, o que pra mim já é promissor. Um trailer foi lançado e nele percebe-se que a estética marcante de Fury Road permanece. Acho que deram uma exagerada na saturação das cores, mas não chega a ser um problema.

A protagonista será interpretada pela bela e badass Anya Taylor-Joy, a garota com três "y" no nome. A acompanho desde A Bruxa (2015) e Fragmentado (2016) e ela só melhora a cada ano. Mal posso esperar para ver do que ela é capaz no papel de uma sobrevivente deste selvagem mundo apocalíptico. Só tem um detalhe: espero que ela sofra.

Um problema que tem se tornado muito comum nos filmes ultimamente é que tentam criar uma personagem feminina badass que já nasce pronta, que não passa por um ciclo de evolução heroica. O resultado é a insossa Mary Sue. Não é isto que esperamos em um herói ou anti-herói, seja masculino ou feminino.

O Max sempre foi um cara sofrido. Ele apanha, se rala, perde o carro, perde as armas, é largado a vagar no deserto, é aprisionado, até mesmo virou uma bolsa de sangue ambulante. Enfim, ele passa por poucas e boas e ainda assim sobrevive. É isto que faz dele um badass. Logo, torço para que a Furiosa também seja assim, que seja uma personagem sofrida e que tenha dificuldades e desafios. Se isto acontecer, Furiosa será uma personagem marcante.

Anya Taylor-Joy; Furiosa (2024)

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