Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Livre-arbítrio

Se não temos livre-arbítrio,
por que queremos saber se temos livre-arbítrio?
A vontade de pensar livre já não é o início do livre-pensar?
Ou fomos programados para achar que pensamos livre?
Neste caso, nossos programadores foram um tanto sádicos,
ou cômicos.

(26,11,2020)

Freud, física quântica e misticismo em Evangelion

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)

Evangelion é um clássico cult da cultura otaku. Lançado como um mangá em 1994, no ano seguinte foi adaptado como anime, apresentando ao mundo uma animação de mecha inovador e intrigante.

Não se tratava apenas de uma série de robôs gigantes lutando. Vamos descobrindo ao longo dos episódios que a coisa é bem mais surreal, envolvendo criaturas alienígenas chamadas Anjos que são combatidas pelos Evas humanos. Os Evas não são robôs, mas misteriosas criaturas revestidas por armadura e pilotadas por crianças.

E essa trama vai ficando mais e mais psicodélica, a ponto de você não entender mais nada, quando a realidade se distorce, mente e matéria se confundem. Evangelion aborda até o nível quântico da realidade, e isso nos anos 90, quando pouco se entendia sobre isso.

Positron rifle; Evangelion
O rifle de positrons se tornou uma icônica arma do universo Evangelion.

Uma mistura de surrealismo e verossimilhança

Evangelion tem uns momentos bastante surreais, mas também investe em detalhes que dão verossimilhança e um ar de "realismo", embora futurista. Na batalha contra o quinto Anjo, por exemplo, eles decidem equipar o Eva com um gigantesco rifle. Armas gigantes são comuns no gênero mecha, mas aqui se deram ao trabalho de elaborar toda uma logística para seu funcionamento. Sendo basicamente um enorme canhão, foi preciso direcionar a distribuição de energia de todo o Japão para carregar a arma. 

A série se dedica a mostrar que estas tecnologias não são fáceis e requerem todo um trabalho humano para que funcionem. Isto também faz com que os combates não se tornem mera luta trivial de mechas e kaijus. Cada combate tem um custo, causa dano ambiental, exige um enorme esforço logístico. 

Um dos charmes da série é o seu caráter incompreensível, pois mistura ficção científica com simbologia cristã, budista, da cabala, ontologia, etc. É uma experiência de deslubramento com o icognoscível.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)
Freud explica.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)
Ikari, um verdadeiro shitty dad.

A psicologia e os tipos de personalidade

Há também uma interessante presença de elementos freudianos. Os protagonistas demonstram várias tendências edipianas, a necessidade um tanto patológica de receber atenção de uma figura paterna ou materna.

As três principais crianças são hoje ícones clássicos de certos estereótipos otakus. O insosso Shinji é o garoto protagonista de uma história com elementos de harém (o garoto não tem nada de interessante, mas vive cercado de mulheres como um sultão).

A introvertida Rei é um dos maiores exemplos de personagem kuudere (calada, reservada, mas com o tempo mostra certo laço afetivo com os demais), inclusive na sua cor temática azul celeste. Na antiga psicologia grega, ela seria classificada como fleumática, enquanto Shinji é melancólico.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)
Oops!

Asuka, caracterizada pela cor vermelha, é uma personagem colérica (na classificação grega) e no estereótipo japonês é uma tsundere (enérgica, agressiva, mas com um lado carente que às vezes se expõe).

Evangelion tem um toque de harem, o gênero de anime em que um personagem homem vive rodeado por mulheres, de modo que o público fica shippando uma relação dele com esta ou aquela personagem. No caso, as garotas em volta de Shinji são Rei, Asuka e Mari, mas também teve um garoto, Kaworu, de modo a alimentar um shipp yaoi.

O curioso é que, mesmo o protagonista sendo um garoto e ele viver neste ambiente de harem, ele está longe de ser o fodão da história. Ao contrário, Shinji é pouco heróico. Apático e ressentido com o pai ausente, ele vive a se lamentar e hesitar quanto à sua missão. Se não fosse a compatibilidade entre ele e o Eva, nem pra piloto ele servia. 

Evangelion 2.0 You Can (Not) Advance (2009)

Já as garotas, são todas badasses. A Rei é ainda mais apática que o Shinji, sendo um dos maiores exemplos de personagem kuudere, mas sua apatia emocional não a impede de ter muita atitude e determinação. Ela parte nas missões sem hesitar e costuma voltar toda machucada. Já chegou a pilotar em estado grave de saúde. A valentia também está presente na Asuka e a Mari encara o perigo como se estivesse brincando. Enfim, é difícil encontrar uma personagem feminina que seja fraca ou carente de heroísmo. 

Evangelion 3.0 You Can (Not) Redo (2012)

Mari é a mais esporádica das personagens que pilotam um Eva. Enquanto Shinji, Rei e Asuka formam um trio que está constantemente interagindo e que recebe bastante tempo para desenvolver seus dramas e profundidade emocional, a Mari só costuma aparecer em certos combates. Na verdade, ela é a mais badass ao pilotar um Eva. Destemida e ousada, pilota como quem se diverte. Na tipologia grega, ela tem um temperamento sanguíneo, que é cheio de disposição e bom humor.

Curiosamente, no fim de toda a saga, no quarto filme lançado em 2021, Mari e Shinji acavam ficando juntos, o que decepcionou a galera que shippava ele com a Rei ou a Asuka.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)
A Árvore da Vida, um símbolo da cabala, na abertura da série.

Evangelion 1.0 You Are (Not) Alone (2007)

A tecnologia

Evangelion se passa em um futuro relativamente recente. A série original é de 1995 (o mangá de 1994) e começa sua história no ano de 2015. O mundo de 2015 imaginado em Evangelion é em certos aspectos mais tecnológico que o nosso, porém a tecnologia parece mais focada na necessidade de defender o planeta contra os Anjos. 

As cidades têm um sistema de mobilidade que permite que os edifícios se recolham no interior da terra e voltem à superfície a qualquer momento. Na computação, a tecnologia mais avançada está presente na inteligência artificial chamada Magi.

Existe um sistema operacional capaz de replicar a personalidade de uma pessoa em um computador orgânico (é literalmente um cérebro, porém funcionando como um computador). Foi Naoko Akagi, a mãe da Ritsuko (a loirinha com uma pinta perto do olho) quem criou o Magi com um upload de sua própria personalidade. 

Este sistema foi dividido em três computadores interligados, cada qual baseado em um aspecto da Naoko: ela como cientista foi replicada no computador Melchior, ela como mãe, no Balthasar e ela como mulher, no Casper. Os três nomes foram baseados nos três reis magos bíblicos, daí o sistema ser chamado  de Magi.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)

A outra tecnologia super avançada do mundo de Evangelion são os Evas. A princípio, um Eva parece um mecha como qualquer outro, um robô gigante. Logo descobrimos que estes gigantes na verdade são criaturas orgânicas, bestas colossais que estão envoltar em uma armadura. Estes seres precisam de um piloto humano para agir de forma tática, do contrário se comportam como feras. 

Para pilotar um eva, é preciso que se estabeleça uma sincronização neurológica entre o humano e a criatura, de modo que o controle não requer botões ou coisa do tipo, pois se dá de forma telepática. É como se o corpo do Eva se tornasse uma extenção do corpo do piloto. Existem apenas dois manches que eles seguram, mas a verdade é que o controle é mental.

O curioso é que a armadura do Eva não existe meramente para proteger seu corpo, mas para conter a criatura. Livre da armadura, o Eva desperta um poder assustador, praticamente divino, que pode causar um grande cataclismo. 

Em combate, os Evas recorrem a luta corporal, mas também usam armas gigantes, como o enorme rifle de positrons. Estas armas são a mais avançada tecnologia bélica deste mundo. Além disto, os Evas usam um campo AT como escudo, mas aí já não se trata de um recurso tecnológico e sim psíquico.

Cyberpunk?

Evangelion não se encaixa exatamente no gênero cyberpunk. É sci-fi e futurista, mas carece de outros elementos básicos do cyberpunk. A ambientação das cidades, por exemplo, não tem o teor noir ou o neon a iluminar os edifícios à noite. Tirando os recursos de emergência durante um ataque, as cidades parecem bem pacatas e comuns.

Os governos também parecem relativamente funcionais. Não vemos governos oprimindo o povo, nem um nível de vida sucateado, como é comum no cyberpunk. As pessoas vivem suas vidas normalmente, a não ser pelo risco do ataque dos Anjos, mas aí trata-se de uma ameaça extraterrestre.

O elemento mais cyberpunk de Evangelion são os Evas, uma vez que a integração entre estes "robôs" e seus pilotos envolve algum tipo de alteração nanotecnológica em seus corpos, mas nada muito visível. 

Um resumo da franquia

O anime original de Evangelion foi lançado entre 1995 e 1996, com 26 episódios. Em 1997 vieram dois filmes: Death & Rebirth e The End of Evangelion. Esta duologia foi chamada Revival of Evangelion.

Uma década depois, começa uma nova série de filmes, chamada Rebuild of Evangelion, uma quadrilogia: 

1.0 You Are (Not) Alone (2007)
2.0 You Can (Not) Advance (2009)
3.0 You Can (Not) Redo (2012)
3.0+1.0 Thrice Upon a Time (2021)

Pois é, Evangelion gosta de complicar até nos títulos, pois o último filme, em vez de simplesmente ser numerado com um 4, é numerado como 3.0 + 1.0. 

Aqui parece que a história realmente chegou a uma conclusão. A saga escala para um nível divino, em que a realidade inteira é destruída e recriada, de modo que no fim o mundo é restaurado para uma normalidade em que não existem Evas nem ameaças cósmicas. 

Além disso, Shinji finalmente tem seu grande momento de catarse freudiana, travando uma luta sobrenatural contra seu pai, resolvendo de vez as suas daddy issues.

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Este último filme tem um desenho extremamente detalhista, os cenários são caprichadíssimos, tanto nos elementos presentes quanto nas cores e texturas. A animação também tem momentos bem vertiginosos, com giros de câmera impressionantes. Em termos de animação, realmente não economizaram no trabalho.

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Os detalhes também chegam no nível dos pequenos gestos dos personagens. Por exemplo, tem uma cena, que mal deve durar um segundo, em que uma personagem pluga um cabo USB no computador e curiosamente vemos ela tocar o conector no plug uma vez, ele não entra, ela gira o conector e finalmente consegue plugar. Veja como os animadores se deram ao trabalho de representar uma cena tão trivial de uma pessoa tendo aquele problema tão comum de errar o lado do USB. Estes detalhes dão uma sensação de realidade e verossimilhança à animação.

Abaixo, algumas cenas que mostram o esmero dos desenhistas.

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Evangelion 3.0 + 1.4 (2021)

Uma mistura de épico e trivial

A tetralogia Rebuild of Evangelion foi produzida ao longo de quinze anos, mas possui uma narrativa bem coesa, com começo, meio e fim. Estes filmes focam bastante nas batalhas, de modo que nem chegam aos pés da série original em termos de construção de mundo e personagens. 

A série de 1995 dedica muito mais tempo a momentos triviais, explorando a convivência entre os protagonistas, seus temperamentos e a evolução do relacionamento. Há muitos momentos de humor, de modo que a série tem esse caráter híbrido, ora parecendo um típico anime mecha, com combates de robôs gigantes contra kaijus, ora parecendo uma light novel, com momentos descontraídos. 

A forma como o dia a dia dos personagens é retratado na série é de um detalhismo bem no nível de uma light novel. Vemos os personagens dormindo, tomando banho, fazendo as refeições, levando as roupas pra lavanderia, fazendo compras, pegando metrô, tendo momentos bobos de diversão.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)

A camada dramática

Evangelion tem uma fórmula dramática parecida com Star Wars: o drama familiar. O protagonista é um garoto a princípio insignificante (Luke/ Shinji) que teve um pai ausente que se tornou vilão por sua ambição de poder (Darth Vader/ Ikari), tem uma relação de afeto e proteção com sua irmã (Leia/ Rei) e ele salva o mundo depois que luta contra seu pai.

A diferença é que Luke era um verdadeiro herói, que se esforçava, se sacrificava e tinha humildade para buscar orientação em um mestre experiente (Yoda), enquanto Shinji só toma decisões egocêntricas e de tal forma imprudentes que não uma, mas duas vezes ele destruiu o mundo por causa de suas decisões erradas. É um dos protagonistas mais detestáveis da história dos animes.

The End of Evangelion (1997)

No filme The End of Evangelion (1997), temos provavelmente a cena mais desprezível do Shinji, quando ele vê Asuka inconsciente e ferida numa cama de hospital e, por ela estar seminua, ele se masturba na frente dela, o que não é explicitamente mostrado, mas inferido por seus gemidos e porque vemos sua mão toda melecada. 

Pois é, o Hideaki Anno teve seus momentos hentai naquela época. Em outra cena, a adulta Misato beija o garoto Shinji na boca no que era pra ser uma cena dramática de despedida, já que ela estava morrendo, mas o beijo foi desnecessário e apenas mais um surto de hentaismo do autor.

The End of Evangelion (1997)

A Rei é exatamento o oposto do Shinji. Ela é o altruísmo por excelência. Ela está sempre interessada em servir, em ser útil, em se sacrificar, e, mesmo tendo uma personalidade robótica e apática, ela nutre fortes sentimentos afetivos por todos com quem se relaciona. Rei, na simbologia bíblica de Evangelion, poderia ser um arquétipo da Virgem Maria. 

Do ponto de vista de dimensão de personagem, Rei é bem plana, pois ela só tem um aspecto, a sua pureza e altruísmo. Outra personagem plana é a Mari. Acho Mari muito legal. É estilosa e badass, mas ela não reage com verossimilhança às circunstâncias. Em todas as situações sua reação é a mesma, a euforia de sempre.

Asuka é a personagem mais complexa. Ela tem a camada superior, cheia de arrogância e orgulho, mas também ocasionalmente manifesta as camadas mais reprimidas, a carência, a compaixão, etc.

Não acho, porém, que um personagem ser plano signifique necessariamente ser inferior a uma construção mais complexa. O importante é que um personagem funcione e conquiste e convença o público. Rei, por exemplo, funciona muito bem e se tornou uma das personagens mais memoráveis e homenageadas em cosplays no mundo. Mari também funciona e é bastante carismática.

A verdade é que Evangelion não tem personagem ruim. Todos são bem construídos. Até o Shinji é um bom personagem, no sentido em que ele é bom em ser detestável.

Neon Genesis Evangelion (1995-1996)

A camada filosófica

A linguagem bíblica foi uma forte inspiração para a obra, mas não necessariamente é usada com alguma relação com a teologia cristã. Os conceitos deste universo recebem diversos termos bíblicos como Gólgota, lança de Longinus, pecado original, Adão, Eva, Lilith, Maria Iscariotes, Gênesis, etc. 

Numa das cenas mais marcantes da série clássica, vemos uma criatura gigantesca e disforme (Adão, o primeiro Anjo) presa em uma cruz, o que obviamente tem ums inspiração cristã, mas na maioria dos casos todos estes elementos religiosos são usados mais para fins estéticos e para dar nomes peculiares às coisas do que guardar algum tipo de alegoria cristã. Não é como se Evangelion tivesse uma proposta do tipo das Crônicas de Nárnia (obra escrita por um teólogo e com evidente intenção de ser uma alegoria bíblica).

É interessante como a realidade do mundo de Evangelion tem um fundamento filosófico, mais específicamente ontológico, bem definido. Inclusive a grande ameaça da série consiste em um processo chamado Instrumentalização Humana que mexe com esta ontologia.

Todos os seres vivos têm uma espécie de barreira chamado "campo AT". Esta barreira pode ser considerada uma extensão ou projeção da alma e é ela que garante a individualidade. Sem um campo AT, não há distinção entre você e o restante do mundo. Criaturas mais poderosas, como os Anjos e os Evas, conseguem produzir um campo AT extremamente forte, de modo que é usado como escudo nas batalhas.

A tal Instrumentalização Humana destruiria o campo AT de todas as pessoas, de modo que elas se tornariam inseparáveis, fundindo-se numa grande e única criatura. Para o sinistro Ikari, este processo seria a solução utópica para todos os problemas, pois a individualidade é a causa de discordâncias e conflitos, guerras e sofrimento. Uma vez que todos se fundirem em uma só alma, acabam as diferenças e divergências.

Pois é, parece um plano de vilão que se acha messias, tipo um Thanos da vida, e que na verdade é um péssimo plano, pois a destruição da individualidade, além de provocar a morte de todos os seres do planeta, também é uma grande violação do livre-arbítrio ou do direito de escolha que é o mais básico dos direitos, depois do direito à vida. Um típico plano de um ditador.

Logo, Evangelion é uma saga em que os heróis lutam pelo direito à sua individualidade e liberdade para existir. Do ponto de vista filosófico, a missão dos personagens é bastante profunda.

A metalinguagem em The Cabin in the Woods

The Cabin in the Woods (2011)

O filme quebra o código do gênero terror, expondo sua fórmula, o papel simbólico de cada personagem, ao mesmo tempo em que preenche a história com uma mistura de criaturas diversas da mitologia do terror, a ponto de se tornar uma espécie de comédia de humor negro. É a desconstrução e metalinguagem do gênero.

Também há um elemento místico. O objetivo dos personagens é sofrer em uma trama intencionamente criada para agradar deuses obscuros. Em um aspecto eles simbolizam a audiência, eu e você que assistimos a um filme, mas em outro aspecto mais mitológico tais seres são como os deuses imperfeitos ou malignos de diversas religiões antigas ou o demiurgo gnóstico. 

Histórias de terror basicamente são a repetição do ritual de sacrifício humano para agradar tais deuses.

O neo-western apocalíptico em Amores Canibais

The Bad Batch (2016)

O western foi o primeiro gênero de "super-heróis" do cinema e literatura pulp no começo do século XX e reinou por várias décadas. Por volta da década de 60, o gênero já estava desgastado, sendo substituído por histórias de ação mais modernas com espiões ou aventuras espaciais. Surgiu então o western revisionista ou post-western, que pretendia desconstruir, brincar, fazer uma homenagem aos clássicos.

Eis então que o clássico renasceu no mundo moderno na forma do neo-western, por volta dos anos 90. Um bom exemplo é Os Imperdoáveis (1992), dirigido por Clint Eastwood, que foi ninguém menos que um dos mais famosos atores dos filmes clássicos de velho-oeste. Ninguém melhor do que ele para ressuscitar o gênero.

The Bad Batch (2016)

O chamado neo-western se desenvolveu com liberdade e adquiriu várias formas. O Kill Bill (2003-2004) de Tarantino é um bom exemplo e ele ousa em substituir o típico protagonista masculino por uma mulher, e o revólver é trocado por uma katana.

Para citar outros exemplos dessa nova safra inspirada nos clássicos, temos O Regresso (2015), Os Oito Odiados (2015) e até a versão X-Men do neo-western em Logan (2017).

Amores Canibais (The Bad Batch, 2016) é um filme indie da iraniana Ana Lily Amirpour, a mesma autora do esquisito Garota Sombria Caminha pela Noite (2014). Em Amores Canibais ela faz uma experimentação misturando gêneros.

A história se passa em um mundo pós-apocalíptico com um ar quase Mad Max, mas sem os carros e a busca por gasolina. É um ambiente bem mais miserável. Subentende-se que a civilização ainda existe, mas as pessoas indignas dela por diversos motivos são expurgadas, os "bad batch". Assim começa a história com a protagonista Arlen (Suki Waterhouse) sendo abandonada numa terra de ninguém, expulsa da civilização.

De cara ela já se depara com a barbárie desse mundo desértico, sendo raptada por canibais que cortam-lhe um braço e uma perna. Agora o filme migra para o terror gore, mas isto não dura muito. Arlen consegue escapar e encontra um vilarejo razoavelmente civilizado. 

Suki Waterhouse and Jason Momoa in The Bad Batch (2016)
Ma man!

Conhecemos três mundos distintos nesse cenário. Os mais selvagens se agrupam numa vila de canibais. São grandes, musculosos, passam o dia malhando; é uma verdadeira sátira da tribo urbana dos marombeiros. Provavelmente se tornaram canibais porque é a única forma de suprirem sua necessidade de muita proteína, já que neste fim de mundo não existe whey. É aí que se encontra o personagem do Jason Momoa, Miami Man.

Por outro lado, tem a pequena cidade chamada Conforto que, diferente da vila dos canibais, parece ser mais civilizada, próspera, para os padrões do apocalipse. As pessoas vivem pacatamente e consomem muitas drogas. O responsável pelo funcionamento deste lugar é o personagem do Keanu Reeves, The Dream, que é uma espécie de líder religioso e político que inspira as pessoas, proporciona raves e lazer, engravida as mulheres e mantém a ordem.

Keanu Reeves in The Bad Batch (2016)

São dois mundos opostos. Em um reina a anarquia e o cada um por si, em outro há bastante ordem e uma sociedade baseada na submissão a um governo centralizado. Em cada um você paga um preço. Você será "livre" nas terras selvagens, mas terá de ser durão; ou será uma ovelhinha em Conforto, mas terá o que o nome sugere, conforto.

Há ainda um terceiro cenário, o mundo dos eremitas. Ele é representado pelo personagem do Jim Carrey, The Hermit. Carrey, aliás, está de parabéns pela forma como encarnou um velho solitário e mudo, com um brilho melancólico no olhar. Ele optou pelo caminho do meio. Nem está com os bárbaros, nem com os pacatos cidadões. Ele é, de fato, o mais livre de todos, e o preço que paga pela sua liberdade é a solitude. Não que isso seja um fardo para ele, ao contrário, parece estar confortável com isso.

Jim Carrey in The Bad Batch (2016)

Quanto a Arlen, ela começa como uma protagonista de western que, em uma terra hostil, irá buscar vingança por ter sido canibalizada. A história, porém, acaba mudando de rumo e amenizando quando Arlen se compromete em encontrar e devolver a filha do brucutu Miami, e entre os dois rola um romance meio forçado, daí em português terem inventado o título sem sentido Amores Canibais.

O final me decepcionou, pois o filme perdeu a oportunidade de ser uma saga de vingança bem ao estilo western, e se tornou um pseudo-romance. De toda forma, valeu a pena na primeira parte e também pela presença de um surpreendente elenco para um filme indie.

Suki Waterhouse in The Bad Batch (2016)


Transformers, uma das mais produtivas e lucrativas franquias de todos os tempos

Optimus Prime

Hoje em dia é bem comum uma franquia de filmes expandir seus negócios produzindo brinquedos, action figures, funkos, etc. Transformers foi o caso inverso: uma linha de bonecos acabou se tornando uma vasta franquia de filmes e animações.

A Hasbro, fundada em 1923, é a terceira maior indústria de brinquedos do mundo, atrás apenas da Lego e da Matel. Entre seus produtos mais famosos está o jogo de tabuleiro Monopoly, um sucesso atemporal lançado em 1935, e os action figures G.I. Joe, que existem desde a década de 60.

Foi outra linha de action figures que conseguiu ir bem mais longe. Os bonequinhos Transformers foram primeiro lançados em 1984, produzidos conjuntamente pela Hasbro e a japonesa Takara. O conceito destes bonecos era fantástico. Não eram apenas figuras humanoides com articulações nos braços e pernas, mas intrincadas estruturas que se transformavam, robôs que viravam carros e vice-versa.

Optimus Prime, Generation 1 (1984-1990)
Esse bonequinho da primeira geração hoje custa uns 2 mil Reais para colecionadores.

A Takara iniciou este conceito em 1980 com a linha Diaclone, seguida pelos Car-Robots em 1982. Os Transformes foram uma evolução destes antecessores, ganhando um visual melhorado e um lore mais elaborado. Agora havia dois grupos, os heróis Autobots e os vilões Decepticons.

Quando a norte-americana Hasbro comprou os direitos para produzir os bonecos no ocidente, acrescentou uma história para os personagens, feita em parceria com a Marvel Comics. Foi o roteirista Bob Budiansky o grande responsável pela história original dos robôs alienígenas.

Ao longo das décadas, dezenas de versões dos Transformers foram lançadas, incluindo os Beast Wars, na década de 90, que eram robôs que se transformavam em feras.

Além dos brinquedos, os Transformers renderam diversas séries em quadrinhos. A primeira foi lançada entre 1984 e 1991 pela Marvel. Foi uma campanha intensa de promoção. No mesmo ano de 1984, quando os bonecos foram lançados, saiu a primeira revista e também a série animada The Transformers, que durou de 1984 a 1987 e contou também com um filme em 1986, The Transformers: The Movie. Em 1985 saiu o primeiro video game.

The Transformers (1984-1987)

Depois da série animada original vieram:

Transformers: The Headmasters (1987-1988)
Transformers: Super-God Masterforce (1988-1989)
Transformers: Victory (1989)
O OVA Transformers: Zone (1990)
Beast Wars: Transformers (1996-1999)
Beast Wars II (1998-1999)
O filme Beast Wars II: Lio Convoy's Close Call! (1998)
Beast Wars Neo (1999)
Beast Machines (1999-2000)
Transformers: Robots in Disguise (2000)
Transformers: Armada (2002-2003)
Transformers: Energon (2004)
Transformers: Cybertron (2005)
Transformers: Animated (2007-2009)
Transformers: Cyber Missions (2010)
Transformers: Prime (2010-2013)
Transformers: Rescue Bots (2012-2016)
O OVA Transformers Go! (2013-2014)
O filme Transformers Prime Beast Hunters: Predacons Rising (2013)
Transformers: Robots in Disguise (2015-2017)
Transformers: Combiner Wars (2016)
Transformers: Titans Return (2017-2018)
Transformers: Power of the Primes (2018)
Transformers: Cyberverse (2018-2020)
Transformers: Rescue Bots Academy (2019-ainda em curso)
Transformers: War For Cybertron Trilogy (2020-ainda em curso)

The Transformers (1984)

As revistas em quadrinhos:

Pela Marvel:
The Transformers (1984-1991)
The Transformers, UK Version (1984-1992)
The Transformers: The Movie (1986)
Transformers Universe (1986)
G.I. Joe and The Transformers (1987)
The Transformers: Headmasters (1987-1988)
Transformers Generation 2 (1993-1994)
New Avengers/Transformers (2007)

Pela Dreamwave:
Transformers: Generation 1 (2002)
Transformers: The War Within (2002-2003)
Transformers: More Than Meets the Eye (2003)
Transformers: Micromasters (2004)
Transformers: Armada (2002–2003)
Transformers: Energon (2003–2004)
Transformers Armada: More Than Meets the Eye (2004)
Transformers/G.I. Joe: Divided Front (2004)
Transformers Summer Special (2004)
The Beast Within (2004)

Pela IDW (2005-2018):
The Transformers: Infiltration 
The Transformers: Stormbringer 
The Transformers: Spotlight 
The Transformers: Escalation 
The Transformers: Megatron Origin 
The Transformers: Devastation 
The Transformers: All Hail Megatron 
The Transformers: Maximum Dinobots 
The Transformers: Continuum 
The Transformers (vol. 1)
The Transformers: Bumblebee
The Transformers: Last Stand of the Wreckers
The Transformers: Ironhide
The Transformers: Drift
The Transformers: Infestation
The Transformers: Heart of Darkness
The Transformers: The Death of Optimus Prime
The Transformers: More than Meets the Eye
The Transformers: Autocracy
The Transformers: Robots in Disguise/ The Transformers/ Transformers (vol. 2)
The Transformers: Infestation 2
The Transformers: Monstrosity
The Transformers: Windblade (vol. 1)
The Transformers: Primacy
The Transformers: Drift: Empire of Stone
The Transformers: Windblade (vol. 2)
The Transformers: Combiner Hunters
The Transformers: Redemption
The Transformers: Sins of the Wreckers
The Transformers: Punishment
Transformers: Till All are One
Revolution
Optimus Prime
Transformers: Lost Light
Revolutionaries
Transformers Annual 2017
Transformers: Salvation
First Strike
Rom vs. Transformers: Shining Armor
Scarlett's Strike Force
Transformers vs. Visionaries
Transformers: Unicron
Transformers: Requiem of the Wreckers
Transformers: Historia

E ainda teve alguns títulos aleatórios lançados por outras editoras. Ufa!!!

The Transformers (1985)

E não para por aí. Ainda tem os video games, começando com The Transformers (1985), lançado para o PC Commodore 64. Em seguida vieram:

Transformers: The Battle to Save the Earth (1986) - Commodore 64
The Transformers: Mystery of Convoy (1986) - Famicom
Transformers: The Headmasters (1987) - Famicom Disk System
Beast Wars: Transformers (1997) - Playstation, Windows, Mac
Kettō Transformers Beast Wars: Beast Senshi Saikyō Ketteisen (1999) - Game Boy
Transformers: Beast Wars Transmetals (1999) - Playstation, Nintendo 64
DreamMix TV World Fighters (2003) - GameCube, Playstation 2
Transformers (2003) - Playstation 2
Transformers (2004) - Playstation 2
Transformers: The Game (2007) - Windows, PlayStation 2-3, PlayStation Portable, Xbox 360, Wii
Transformers Autobots (2007) - Nintendo DS
Transformers: The Game (2007) - Mobile phone
Transformers G1: Awakening (2008) - Mobile phone, Android, Blackbberry, etc.
Transformers Animated: The Game (2008) - Nintendo DS
Transformers: Revenge of the Fallen (2009) - Windows, PlayStation 2-3, PlayStation Portable, Xbox 360, Wii, Mobile phone
Transformers Revenge of the Fallen: Autobots (2009) - Nintendo DS
Transformers: War for Cybertron (2010) - Windows, Playstation 3, Xbox 360
Transformers: Cybertron Adventures (2010) - Wii
Transformers: War for Cybertron Autobots (2010) - Nintendo DS
Transformers: War for Cybertron Decepticons (2010) - Nintendo DS)
Transformers: Dark of the Moon (2011) - Playstation 3, Xbox 360, Mobile phone, iOS
Transformers Dark of the Moon: Autobots (2011) - Nintendo DS
Transformers Dark of the Moon: Stealth Force Edition (2011) - Nintendo 3DS, Wii
Transformers: Prime – The Game (2012) - Nintendo DS e 3DS, Wii, Wii U
Transformers: Fall of Cybertron (2012) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360
Transformers Universe (2013) Windows
Transformers: Human Alliance (2013) - Arcade
Transformers: Rise of the Dark Spark (2014) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360-One, Nintendo 3DS, Wii U
Transformers: Devastation (2015) - Windows, Playstation 3-4, Xbox 360-One
Transformers: Forged to Fight (2017) - iOS, Android

Ah e ainda teve a tentativa de lançar um MMO com o Transformers Online, lançado em 2012. O projeto, porém, seguiu abandonado até ser definitivamente cancelado em 2020.

Por fim, está previsto para este mês de Outubro de 2020 o lançamento de Transformers: Battlegrounds, para Nintendo Switch, Xbox One, Playstation 4 e Windows.

Transformers: Ghosts of Yesterday (2007)

E se eu disser que também foram lançados livros expandindo o universo Transformers? Vou listar apenas alguns aqui, porque minha mão já está doendo:

Dinobots Strike Back (1985)
Autobots' Lightning Strike (1985)
The Invisibility Factor (1986) 
The New World (2007)
Transformers: Ghosts of Yesterday (2007)
Transformers: The Veiled Threat (2009)
Transformers: Exodus (2010)
Transformers: Exiles (2011)
Transformers: Dark of the Moon: The Junior Novel (2011)
Transformers: The Covenant of Primus (2013)
Transformers: Retribution (2014)

E tem muito mais de onde estes vieram.

Michael Bay, Transformers (2007)

Pois é, o universo Transformers é bem maior do que a gente imaginava. Tem um canon tão vasto quanto um Star Wars ou Star Trek e provavelmente fez mais dinheiro que estas franquias, se somarmos todos os seus produtos, filmes, jogos e brinquedos. Só os filmes do Michael Bay renderam quase 5 bilhões.

Enfim, falemos dos filmes. A franquia para o cinema foi a grande mina de ouro do diretor/produtor Michael Bay, o cara das explosões. Michael Bay e Transformers foram feitos um para o outro e foi ali que ele teve o ambiente ideal para aprimorar e consagrar sua assinatura: muitas cenas com explosões, destruição do cenário, armas e tecnologia.

Megan Fox, Transformers (2007)

Megan Fox, Transformers (2007)

Megan Fox, Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

A essa fórmula, ele acrescentou um casal improvável, porém clichê: a gostosona e o nerd, interpretados por Megan Fox e Shia LaBeouf. Temos também alguma dose de humor e, claro, o elemento-chave para a popularidade da franquia: carros e robôs. Dois grandes fetiches de boa parte do público. Carros no cinema atraem atenção desde sempre, como no clássico 007, com seus carros cheios de aparatos tecnológicos.

Bumblebee se torna o verdadeiro protagonista de toda a série, sendo uma espécie de Hermes/Mercúrio, o intermediário entre deuses e humanos. Ele é o primeiro robô a ter contato com a humanidade e faz amizade com o garoto Sam, se tornando uma espécie de mascote.

Transformers (2007)

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

Transformers (2007)

Optimus Prime, o líder dos autobots, é o grande herói da série, um personagem plano, sempre nobre e valente, o alfa do grupo, com um poder de liderança imenso e uma capacidade de sempre chegar nos momentos críticos para salvar o dia. É o Superman robô (inclusive usa as mesmas cores: azul e vermelho).

O primeiro filme foi lançado em 2007, um ano antes do Homem de Ferro, que desencadeou o bilionário MCU, e de certa forma pode-se dizer que foi a franquia Transformers que deu início a essa fase do cinema voltada a blockbusters em série com milionários orçamentos e cheios de efeitos especiais.

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)
Essa é a mistura do Brasil com o Egito.

Transformers: Revenge of the Fallen (2009)

No segundo filme, de 2009, Michael Bay teve a coragem de destruir uma das milenares pirâmides do Egito (com CGI, óbvio, não de verdade, mas é de partir o coração para quem ama antiguidades).

A "novidade" no terceiro filme foi a ausência da Megan Fox. Ela tem uma história complicada com o Michael Bay, com quem trabalhou pela primeira vez em Bad Boys 2 (2003). Ela já fez algumas críticas à forma autoritária dele dirigir os filmes e talvez por isso tenha sido cortada do elenco. Agora o papel de gostosa a namorar o nerd Sam ficou a cargo da Rosie Huntington-Whiteley.

Shia LaBeouf and Rosie Huntington-Whiteley, Transformers: Dark of the Moon (2011)

Transformers: Dark of the Moon (2011)
Esse japinha é uma figura. Pena que não durou muito.

No quarto e quinto filmes, a série passa por uma grande renovação. Agora quem sai de cena é o Shia LaBeouf e em seu lugar entra Mark Wahlberg. A mitologia dos robôs também segue por um rumo inesperado, sendo associada aos mitos do Rei Arthur, com direito até a uma Excalibur super tecnológica que vai parar nas mãos do Mark Wahlberg.

Transformers: Age of Extinction (2014)
Capa de disco de banda indie.

Mark Wahlberg, Transformers: Age of Extinction (2014)
Acho que vi essa arma nos covenants de Halo.

Transformers: Age of Extinction (2014)

E para coroar (pun intended) essa nova história, ainda há um complemento: robôs dinossauros! Isso mesmo. Na antiga história do mundo, os ancestrais dos Autobots já estavam aqui e viviam na forma de dinossauros cuspidores de fogo, o que explicaria os mitos sobre dragões. Só que eles são forças brutas da natureza e, para torná-los aliados, Optimus Prime os domesticou na base da porrada, para horror das sociedades protetoras dos animais robóticos.

Transformers: The Last Knight (2017)

Transformers: The Last Knight (2017)

Na verdade a presença dos dinossauros robóticos foi uma evolução natural da franquia cinematográfica, seguindo a homenagem aos desenhos e action figures clássicos que, além dos Autobots e Decepticons, também tinham os Beast Wars.

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Hailee Steinfeld, Bumblebee (2018)

Aparentemente a série-base da franquia cinematográfica se encerra com a pentalogia. A partir de então os planos para o futuro estão mais voltados para spin-offs, e um já foi lançado, o Bumblebee (2018), que nem mesmo conta com a direção do Michael Bay, mas do Travis Knight. Curiosamente, desta vez o Bee assume a forma de um simpático fusquinha.

O filme do Bumblebee aborda o robô de uma maneira mais intimista, ele que sempre foi o personagem mais "fofo" do grupo, uma espécie de mascote. Vemos seu primeiro contato com a humanidade, como perdeu a voz e ganhou uma gambiarra feita pela mecânica e amiga Charlie. A história se passa nos anos 80, com direito à ambientação e trilha sonora oitentista que ultimamente tem virado moda no cinema.

Bumblebee (2018)
É isso mesmo, um robô com uma chupeta.

É interessante que ele assume uma aparência mais infantil No rosto, claramente há uma espécie de chupeta de criança. Com o tempo ele amadurece e assume um rosto mais sério e badass. As cenas de ação não ficam atrás daquelas da pentalogia. Tem robô que no meio da luta vira um carro, faz um drift, salta no ar, vira um helicóptero, dispara mísseis e vira robô de novo. Bem o estilão maluco da franquia.

Bumblebee (2018)

No fim das contas, Transformers surfa na mesma onda de Velozes e Furiosos: a paixão por carros. Já era assim com os brinquedos, que eram uma mistura do conceito dos Hot Wheels (lançados pela Matel em 1968) e dos G. I. Joe. Carros que viram combatentes. O melhor de dois mundos.

Desta forma, além de produzir filmes de grande apelo e bilheteria, com certeza a franquia fez uma boa grana também veiculando merchandising, enchendo a tela com cobiçadas marcas de carros.

Transformers cars
Carros, as grandes estrelas da franquia.

Por fim, falemos de money. O custo de produção de cada um dos cinco filmes sempre foi em torno de 200 milhões de dólares. Já a arrecadação foi a seguinte:

Transformers (2007): 709 milhões
Revenge of the Fallen (2009): 836 milhões
Dark of the Moon (2011): 1,124 bilhões
Age of Extincion (2014): 1,104 bilhões
The Last Knight (2017): 605 milhões

A súbita queda da bilheteria do quinto filme, que chegou a arrecadar menos do que o primeiro, lançado dez anos antes, foi um dos sinais de que estava na hora de encerrar a saga. Bumblebee, produzido com pouco mais de 100 milhões, foi mais modesto e arrecadou 467, mas ainda está no lucro. Os spin-offs agora virão como a sobremesa, servida depois do grande banquete, só para fazer durar mais um pouco a refeição.

O esfriamento desta franquia, após uma década de enorme sucesso, porém, não significa que os Transformers vão acabar. Se tem uma coisa que a história mostra, como vimos na lista acima de tooodos os brinquedos, quadrinhos, games, livros e séries, é que os Transformers nunca param de render conteúdo. Eles sempre voltam.

Inclusive está previsto aí um crossover entre os Transformers e Godzilla, quando então eles farão parte de outra promissora franquia que é o chamado MonsterVerse!